Pioneiras, deputadas transexuais enfrentarão Congresso mais conservador

Brasil é um dos lugares mais perigosos do mundo para mulheres trans, que são frequentemente alvo de violência, segundo a Transgender Europe

5 out 2022 - 15h17
(atualizado às 16h00)
Hilton, que é negra, chamou sua eleição histórica de "justiça para (seus) ancestrais"
Hilton, que é negra, chamou sua eleição histórica de "justiça para (seus) ancestrais"
Foto: Reuters

Erika Hilton, de 29 anos, vereadora da cidade de São Paulo pelo PSOL, acaba de fazer história como uma das duas primeiras deputadas transexuais eleitas para o Congresso Nacional.

Mas a vitória é agridoce, disse Hilton, depois que uma votação expressiva para o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados nas eleições de domingo consolidou uma robusta presença da direita entre seus futuros colegas parlamentares, que ela disse terem expressado sentimentos transfóbicos.

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"Me sinto preocupada pela composição do Congresso Nacional nesse momento e a possibilidade da reeleição de Bolsonaro", disse Hilton, cujos pais religiosos a expulsaram de casa aos 14 anos, forçando-a a trabalhar por vários anos como profissional do sexo.

Bolsonaro enfrentará ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição presidencial, em 30 de outubro, depois que a votação de domingo terminou com 48,43% dos votos válidos para o petista e 43,20% para o candidato à reeleição.

Hilton e a também deputada eleita transexual Duda Salabert, de Minas Gerais, disseram que sua principal prioridade agora é eleger Lula.

Bolsonaro frequentemente provocou polêmica com comentários ofensivos contra mulheres, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros (LGBT), negros e indígenas.

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Hilton, que é negra, chamou sua eleição histórica de "justiça para (seus) ancestrais".

"Acho que sendo mulher, negra, travesti, nós temos sempre mais desafios do que as outras pessoas. Nós temos o desafio da legitimidade. Nós temos o desafio de fazer com que as pessoas reconheçam que o nosso projeto político não é apenas um projeto político para travestis e transexuais ou para a comunidade LGBT. Queria mais. Nós temos o desafio de colocar as nossas capacidades intelectuais, validar as nossas capacidades intelectuais", acrescentou Hilton, que concorreu para melhorar os direitos LGBT, além de abordar a violência doméstica, educação e habitação social.

Alheli Partida, chefe de programas globais do LGBTQ Victory Institute em Washington, chamou as eleições de Hilton e Salabert de um "momento transformador para o Brasil".

"Acredito que elas terão um trabalho difícil", acrescentou. "O conservadorismo ainda é muito forte no país."

O Brasil é um dos lugares mais perigosos do mundo para mulheres trans, que são frequentemente alvo de violência, de acordo com a Transgender Europe. No ano passado, 140 transexuais brasileiras foram assassinadas, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), sediada no Rio de Janeiro.

Salabert, de 41 anos, que é vereadora em Belo Horizonte e tem se concentrado em questões ambientais, enfrentou ameaças violentas e intimidações em sua candidatura bem-sucedida ao Congresso este ano.

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Salabert disse que suas ameaças de morte mais recentes vieram de um site criado poucos dias antes da eleição descrevendo maneiras pelas quais as pessoas queriam matá-la, o que a levou a usar um colete à prova de balas na seção eleitoral. Hilton também se locomove sempre com uma equipe de segurança.

"A nossa vitória é uma vitória dos direitos humanos, já que nós vamos levar para o centro do debate político uma pauta que foi historicamente excluída do debate público, que é a realidade das pessoas travestis e transexuais", disse Salabert.

Ela disse que sua equipe está se organizando para a eleição de Lula e está ajudando a campanha do ex-presidente em Minas Gerais.

"Claro, ainda estamos muito longe daquilo que queremos, merecemos, precisamos no que diz respeito à cidadania, à dignidade, aos direitos e tudo mais", disse Hilton, que foi recebida com aplausos na Câmara Municipal de São Paulo em seu primeiro dia de volta ao trabalho esta semana. "E exceção é longe, mas é uma mudança sem sombra de dúvida."

Candidatas trans enfrentam ameaças e intimidações pelo Brasil
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