A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) apura a conduta de uma agente da Polícia Militar que foi filmada se recusando a intervir enquanto um jovem negro era ameaçado por um homem armado na Capital paulista. Segundo o órgão, a PM foi identificada e responderá criminal e disciplinarmente por omissão. O homem, identificado como investigador da Polícia Civil, também é investigado pela Corregedoria da corporação.
O ouvidor das polícias de São Paulo, Claudio Silva, afirma que pedirá o afastamento e desarmamento do investigador, que possui histórico de episódios violentos, inclusive que levaram uma irmã a solicitar medida protetiva contra ele. Quanto à atitute da PM, Silva se diz 'chocado' e aponta prevaricação na conduta da agente, que viu uma cena de crime e se recusou a agir.
"Fiquei muito chocado. Vou questionar a Corregedoria para saber se isso é comum para a corporação, se podemos naturalizar o fato de uma policial militar ver uma pessoa correndo risco de vida e não fazer nada", afirmou o ouvidor à GloboNews.
Para Silva, a agente falhou em verificar se o homem armado possuia documentação para utilizar a arma de fogo. Ela ainda deveria ter protegido o jovem e identificado o investigador, além de levar o caso à delegacia de policia.
"O rapaz foi procurar proteção, até porque ela estava fardada. O policial serve para proteger a sociedade e se submete a um regimento em que ele é policial 24 horas por dia. Ela estava usando o fardamento, o que dá a ela o poder de estado para atuar nessas circunstâncias".
Ainda que estivesse de folga, a PM poderia ter solicitado o apoio de outras equipes no local e transferido a ocorrência. Ela afirma, nas imagens, que estava sem celular. Para o ouvidor, ela deveria ter solicitado o aparelho de algum pedestre para pedir ajuda.
Homem armado ameaça jovem negro e policial militar se recusa a ajudar: "estou de folga, o procedimento é ligar no 190 e pedir viatura” 👇🏿 pic.twitter.com/3Lkcdq9MVc
— Ponte Jornalismo (@pontejornalismo) November 13, 2023
Entenda o caso
O caso aconteceu no último domingo, 12, no bairro do Carandiru, na Zona Norte da Capital paulista. Um repórter fotográfico do Ponte Jornalismo registrou a cena. Nas imagens, é possível ver o homem, chamado de Paulo por uma mulher que protegia o adolescente, apontando uma arma para o rapaz. Ele acusa o jovem de estar roubando no local.
O jornalista, então, filma uma policial e pede que ela intervenha. A mulher, no entanto, se recusa e afirma que 'está de folga' e que era preciso acionar o 190. O jovem ameaçado chega a se aproximar da agente, mas ela o afasta com um chute. Com a ajuda de outras pessoas, ele consegue fugir do local.
O homem que estava gravando se dirige à policial e a questiona: "Pra quê vocês servem?". A PM se ofende e passa a discutir com o repórter, ameaçando prendê-lo e justificando não ter feito nada por 'estar de folga'. "O procedimento é ligar 190 e pedir viatura", afirma.
“Se o senhor falar comigo desse jeito, eu vou te prender. Tá ouvindo? Você não me desrespeita não. Tá gravado que você me desrespeitou. Se você é da imprensa, eu sou da polícia. Você me respeita”, disse a agente.