A Polícia Civil de São Paulo investiga as denúncias de ameaças de morte feitas pelo humorista Eddy Junior, de 28 anos, contra uma vizinha e seu filho no condomínio onde os três moram na Barra Funda, zona oeste paulistana. Segundo Eddy relatou nas redes sociais na segunda-feira, 17, a mulher se recusou a usar o mesmo elevador que ele e o ofendeu com xingamentos racistas, como "macaco, imundo, feio, urubu e neguinho perigoso".
As imagens foram gravadas por câmeras de segurança do edifício, que prevê multar a moradora em R$ 5,2 mil pelo episódio. O Estadão tentou contato com a mulher que aparece no vídeo, e também com o filho da vizinha, mas ainda não obteve retorno.
Os policiais confirmam a abertura de boletim de ocorrência por ameaça e injúria pelo 23º Distrito Policial, em Perdizes, também na zona oeste. Imagens do sistema de monitoramento do prédio onde moram, divulgadas pelo portal G1, mostram o acusado na porta do apartamento da vítima, em setembro, com uma faca nas mãos, no dia 1º de setembro, por volta das 3h50 da madrugada.
Uma semana depois, mãe e filho aparecem nas imagens do 5º andar. Por volta das 3h28, a mãe surge com uma garrafa enquanto o rapaz segura uma faca. "Sobre a ocorrência registrada em setembro como ameaça e injúria pelo 23º DP (Perdizes), a vítima foi orientada sobre a necessidade de representação criminal, por se tratar de crimes de ação penal privada", informou a Secretaria de Segurança Pública, em nota.
A assessoria de Eddy Jr., que também é influenciador digital, afirma que ele saiu do prédio por causa de ameaças de morte, mas ainda não fez o registro do BO por injúria racial, o que deve acontecer ainda nesta quarta-feira, 19.
Ele diz ser alvo da família da agressora desde abril, quando começaram as reclamações e agressões verbais por um suposto barulho vindo do seu apartamento. No episódio divulgado nas redes sociais, no qual a vizinha se recusa a usar o mesmo elevador que Eddy, é possível ouvi-la proferindo as frases: "Cai fora. Não quero ficar com ele. Não vou (subir com ele)", Em seguida, ela é conduzida por um funcionário do prédio.
Ela ainda dispara xingamentos contra o rapaz como "imundo", "cai fora, macaco", "cai fora, bandido", "cagão, bundão". As agressões foram publicadas nas redes sociais do humorista, que reúnem mais de 1,2 milhão de seguidores.
Eddy, depois, publicou um desabafo. "Tive de ficar dentro da minha casa sofrendo ameaça de morte e calúnias sobre mim. novamente, por ser preto. Ser impedido de entrar no mesmo elevador da moradora branca por ser preto também".
Mesmo diante do momento delicado, o artista afirma que pretende continuar buscando o sorriso das pessoas, com seu trabalho como humorista. "Não sei descrever o sentimento que estou sentindo. Venci fazendo as pessoas sorrirem e isso não vai mudar. Vou continuar fazendo vocês sorrirem, porém agora vai ser um pouco mais difícil. Beijo pra todos que gostam de mim, espero que vocês compartilhem isso e façam essa mulher pagar pelo crime que ela cometeu", concluiu.
Reação do condomínio
O condomínio United Home & Work, onde vivem os acusados, informa que a moradora deverá ser multada em dez vezes o valor do condomínio diante da recorrência e da gravidade dos episódios. O valor deve chegar a R$ 5,2 mil.
"O síndico já foi orientado também a registrar um novo boletim de ocorrência, como havia sido feito no caso pretérito. Com base nisso será aplicada a penalidade a multa correspondente a dez cotas condominiais, baseada no artigo 1337 do Código Civil, que pune o morador antissocial que denota a "incompatibilidade de convivência com os demais moradores", diz o advogado do prédio, Diego Basse.
Basse também sinalizou que o caso será submetido à assembleia geral extraordinária para deliberação de adoção de outras condutas mais severas. Caso as agressões voltem a ocorrer, a medida pode evoluir para a expulsão.
Moradores do prédio demonstram apoio ao humorista e fizeram um protesto na manhã desta quarta-feira, 19. Usando cartazes com a inscrição "#ForaRacista", os vizinhos contaram que as agressões da vizinha são comuns. Uma das moradoras, que prefere não se identificar, afirma já ter ouvido outras reclamações e diz que se sente ameaçada.
"Já tivemos alguns relatos antes de o Eddy morar aqui. Estou me sentindo acuado porque tenho duas crianças", disse a moradora. Outra vizinha diz que o "prédio não tolera discriminação de nenhum tipo".
Alguns vizinhos afirmam que o filho da agressora foi diagnosticado com alguma deficiência intelectual, mas dizem que a mãe tem de ser responsabilizada.