Ildo de Souza, prefeito da cidade de Glicério, no interior de São Paulo, fez publicações com ofensas às religiões de matriz africana. Souza compartilhou com seus seguidores do Facebook o que achava sobre a religião e de quem a pratica. A postagem do prefeito causou bastante repercussão e o morador e professor de Glicério, Paulo Javarezzi, denunciou a intolerância religiosa à polícia na terça-feira, 12.
"Nunca vi macumbeiro fazer o bem. Macumba se for religião não deve vir de Deus", "Macumbeiros tem pacto com o diabo", "Amiguinhos do diabo" e "desgraçados do diabo" foram algumas das frases preconceituosas que o prefeito da cidade escreveu na rede social.
Segundo a TVTEM, a Câmara de Vereadores do município aprovou a solicitação e abrirá uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para dar continuidade ao caso. Javarezzi comentou sua insatisfação com a publicação do prefeito para a televisão local. O professor é praticante da Umbanda, religião afrobrasileira que foi criticada pelo prefeito Ildo de Souza.
"Eu e os irmãos de fé já estamos cansados de ser taxados como pessoas do mal. Pessoas que incitam a violência e o ódio contra a religião de matriz africana são desagradáveis. O prefeito não tem o direito de condenar as pessoas que seguem essa religião como filhos do Diabo. Isso é inadmissível", contou a TVTEM.
Nas redes sociais, o professor apontou o direito institucional à liberdade religiosa que, de acordo com ele, não foi respeitado pelo prefeito. "Não sei se é de vosso conhecimento, mas vivemos em um estado laico, laicidade, e que a constituição de 1988 me garante 'liberdade religiosa' e que o que o senhor está fazendo é crime?", escreveu.
Ao Terra NÓS, o professor Paulo Javarezzi afirma que registrou o boletim de ocorrência contra o comentário preconceituoso do prefeito devido ao ódio disseminado de uma maneira extremamente cruel. Como educador, Javarezzi ressalta a importância de respeitar as diferenças.
"Assim como em sala de aula eu ensino sobre as leis, os direitos, os deveres, conviver com as diferenças, e sempre ensinei que devemos lutar por aquilo que acreditamos. Para mostrar para meus alunos e para toda sociedade que sim, somos minorias, mas temos vozes. Temos que lutar por nossos direitos", contou ao NÓS.
Após as denúncias, o prefeito da cidade de Glicério divulgou uma nota de esclarecimento sobre o caso nas redes sociais.
"A referida publicação não teve como intenção causar nenhum conflito ou debate de cunho religioso, muito menos discussão relacionada a liberdade de crença, culto e religião. É de extrema importância ponderar que, na realidade, minha postagem visava destacar a manipulação das crenças legítimas por pessoas contrárias ao meu posicionamento político, que utilizam rituais inadequados para promover ataques direcionados a minha família", escreveu em nota.
O Terra NÓS entrou em contato com a Prefeitura Municipal de Glicério e o espaço estará aberto para possíveis manifestações.