Prefeito do interior de SP é denunciado por intolerância religiosa: "Nunca vi macumbeiro fazer o bem"

O prefeito de Glicério, cidade natal do ex-presidente Bolsonaro, escreveu as ofensas no Facebook; professor da região denunciou o político

15 dez 2023 - 11h44
(atualizado em 18/12/2023 às 12h22)

Ildo de Souza, prefeito da cidade de Glicério, no interior de São Paulo, fez publicações com ofensas às religiões de matriz africana. Souza compartilhou com seus seguidores do Facebook o que achava sobre a religião e de quem a pratica. A postagem do prefeito causou bastante repercussão e o morador e professor de Glicério, Paulo Javarezzi, denunciou a intolerância religiosa à polícia na terça-feira, 12. 

O prefeito Ildo de Souza foi denunciado por professor após publicar ofensas a religiões de matriz africana
O prefeito Ildo de Souza foi denunciado por professor após publicar ofensas a religiões de matriz africana
Foto: reprodução/facebook/ildodesouza

"Nunca vi macumbeiro fazer o bem. Macumba se for religião não deve vir de Deus", "Macumbeiros tem pacto com o diabo", "Amiguinhos do diabo" e "desgraçados do diabo" foram algumas das frases preconceituosas que o prefeito da cidade escreveu na rede social. 

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O que é macumba? O que é macumba?

Segundo a TVTEM, a Câmara de Vereadores do município aprovou a solicitação e abrirá uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para dar continuidade ao caso. Javarezzi comentou sua insatisfação com a publicação do prefeito para a televisão local. O professor é praticante da Umbanda, religião afrobrasileira que foi criticada pelo prefeito Ildo de Souza.

"Eu e os irmãos de fé já estamos cansados de ser taxados como pessoas do mal. Pessoas que incitam a violência e o ódio contra a religião de matriz africana são desagradáveis. O prefeito não tem o direito de condenar as pessoas que seguem essa religião como filhos do Diabo. Isso é inadmissível", contou a TVTEM. 

Nas redes sociais, o professor apontou o direito institucional à liberdade religiosa que, de acordo com ele, não foi respeitado pelo prefeito. "Não sei se é de vosso conhecimento, mas vivemos em um estado laico, laicidade, e que a constituição de 1988 me garante 'liberdade religiosa' e que o que o senhor está fazendo é crime?", escreveu.

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Ao Terra NÓS, o professor Paulo Javarezzi afirma que registrou o boletim de ocorrência contra o comentário preconceituoso do prefeito devido ao ódio disseminado de uma maneira extremamente cruel. Como educador, Javarezzi ressalta a importância de respeitar as diferenças. 

"Assim como em sala de aula eu ensino sobre as leis, os direitos, os deveres, conviver com as diferenças, e sempre ensinei que devemos lutar por aquilo que acreditamos. Para mostrar para meus alunos e para toda sociedade que sim, somos minorias, mas temos vozes. Temos que lutar por nossos direitos", contou ao NÓS

Ifá, Candomblé e Umbanda: religiões de matriz africana dos famosos Ifá, Candomblé e Umbanda: religiões de matriz africana dos famosos

Após as denúncias, o prefeito da cidade de Glicério divulgou uma nota de esclarecimento sobre o caso nas redes sociais.

"A referida publicação não teve como intenção causar nenhum conflito ou debate de cunho religioso, muito menos discussão relacionada a liberdade de crença, culto e religião. É de extrema importância ponderar que, na realidade, minha postagem visava destacar a manipulação das crenças legítimas por pessoas contrárias ao meu posicionamento político, que utilizam rituais inadequados para promover ataques direcionados a minha família", escreveu em nota. 

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O Terra NÓS entrou em contato com a Prefeitura Municipal de Glicério e o espaço estará aberto para possíveis manifestações.

Fonte: Redação Nós
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