Na corrida presidencial de 2022, o Brasil tem 12 candidatos à presidência. Apenas dois deles são negros: Vera Lúcia, candidata pelo PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) e Leonardo Péricles, da UP (Unidade Popular). Eles são os presidenciáveis mais pobres, segundo dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Vera declarou uma poupança de R$8.805,00. Já Péricles declarou um acúmulo, também em poupança, de apenas R$197,31. Juntos eles somam R$ 9.000,31 em bens.
Vera é uma cientista social natural de Inajá, no interior de Pernambuco, e uma veterana da política partidária, apesar de nunca ter sido eleita para qualquer cargo público. Ela afirmou à reportagem que não possui carro próprio e nem casa própria, esses bens estão em nome do companheiro. Além disso, há um terreno que ela tem conquistado, mas ainda não está regularizado pelo governo.
Leonardo Péricles é formado em mecânica de manutenção de máquinas operatrizes pelo Senai. À Alma Preta Jornalismo ele falou que desde o primeiro semestre deste ano, recebe ajuda de custo pelo próprio partido, um pouco menos do que dois salários mínimos.
"Em minha declaração de patrimônio constou o que tinha na minha conta poupança no final de um mês, R$197,00. Tenho também uma casa na ocupação que moro, mas como ela não é regularizada, fruto da ausência quase completa de políticas de regularização urbana em nosso país, não pode constar oficialmente como patrimônio", afirmou.
Na outra ponta, o candidato mais rico é Pablo Marçal (Pros), que sozinho declarou uma fortuna de R$97 milhões. Pablo Marçal é coach e influencer. Ele se define como "cristão, filantropo, empreendedor imobiliário e digital, mentor, estrategista de negócios, especialista em branding e jurista por formação".
Com 2,3 milhões de seguidores no Instagram, Marçal é conhecido pelos cursos que oferece como coach. Focados em "destravar códigos da prosperidade e do governo da alma", os conteúdos podem custar até R$ 3 mil.
Os líderes nas pesquisas de intenção de voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) declararam R$ 7,5 milhões e R$ 2,3 milhões, respectivamente. Os 10 candidatos brancos perante o TSE somam uma fortuna de R$ 783.272.407,75. Isso é 87.000 vezes maior do que a dos dois candidatos negros juntos.
Vera afirma que essa discrepância vem do próprio sistema capitalista, em que se concentram as riquezas nas mãos de poucas pessoas e, do outro lado, se espalha a pobreza. "O setor que fica despossuído de bens é o setor da classe trabalhadora", afirma.
"Ou os candidatos são representantes dessa alta burguesia brasileira ligada ao capital internacional, ou eles são protegidos por governantes que são parte dessa burguesia. A classe trabalhadora que sai todos os dias para trabalhar não concentra renda", declara Vera Lúcia.
A declaração de bens é uma etapa obrigatória na oficialização da candidatura. Os bens contidos no portal do TSE são de responsabilidade do candidato, não tendo nenhum vínculo com outras bases de dados governamentais. A descrição dos bens sofreu uma alteração devido à lei de proteção de dados, mas ainda é possível ter acesso à lista menos detalhada no site do TSE.
Em tese, omitir bens ou declará-los de forma incorreta pode se enquadrar no crime de falsidade ideológica eleitoral (artigo 350 do Código Eleitoral), mas condenações são dificílimas pois entende-se que deve ser provado dolo e que as informações inverídicas lesaram a disputa de forma relevante.
Segue a lista completa de declaração de bens dos presidenciáveis:
Brancos
Ciro Gomes (PDT): R$3.039.761,97
Eymael (DC): R$6.572.826,60
Felipe D'Avila (Novo): R$24.619.627,66
Jair Bolsonaro (PL): R$2.317.554,73
Luís Inácio Lula da Silva (PT): R$7.423.725,78
Roberto Jefferson (PTB): R$745.323,41
Pablo Marçal (Pros): R$96.942.541,15
Simone Tebet (MDB): R$2.323.735,38
Sofia Manzano (PCB): R$498.000,00
Soraya Thronicke (União Brasil): R$783.000,00
Negros:
Léo Péricles (UP): R$197,31
Vera Lúcia (PSTU): R$8.805,00
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