Primeira narradora de futebol na Globo abre portas para novas gerações

Ignorando os haters, Renata Silveira faz história na emissora

25 fev 2022 - 07h00
Renata Silveira, 32, é narradora do Sportv há 1 ano e já estreou na TV aberta
Renata Silveira, 32, é narradora do Sportv há 1 ano e já estreou na TV aberta
Foto: João Cotta/Globo / João Cotta/Globo

A ficha de Renata Silveira ainda está caindo. Há duas semanas, esta carioca de 32 anos fez história ao ser a primeira mulher a narrar uma partida de futebol na TV Globo, a maior emissora do país. Os registros de gols, majoritariamente masculinos, agora contam com a voz feminina no maior espaço da comunicação brasileira.

Renata Silveira trabalhou em dois jogos na TV Globo, ambos pela Supercopa do Brasil de futebol feminino. A profissional, que é formada em educação física e pós-graduada em jornalismo esportivo, fez a locução do jogo entre Flamengo x Grêmio, válido pela semifinal, e a decisão do torneio entre Corinthians x Grêmio.

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“Essa ficha está caindo aos poucos”, admitiu, durante entrevista exclusiva concedida ao Papo de Mina.

O ineditismo da presença de uma voz feminina, em um meio tão machista quanto o do futebol, carrega um contraponto. O peso histórico e a celebração pela quebra de um paradigma são acompanhados pelas críticas e comentários misóginos, principalmente na internet.

Para Renata, que está no Sportv desde 2021, quem abre a porta hoje “apanha” para que as próximas Renatas sejam poupadas.

“Faz parte de um processo da sociedade que a gente vive. Nossa geração vai continuar recebendo essas mensagens [ofensivas] diariamente para que as outras gerações apanhem menos”, reflete.

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“Acredito que essa preocupação do que chega das redes sociais existe, mas já entendi que faz parte do processo, faz parte de nós mulheres que estamos desbravando, ocupando esses lugares, entrando nessa mata fechada”, acrescenta.

A naturalidade com que encara o lado negativo da web veio com o tempo. Renata Silveira começou a narrar em 2014, quando venceu um concurso da Rádio Globo para participar da cobertura da Copa do Mundo.

Renata portou os microfones do veículo em duas partidas: Uruguai x Costa Rica e Croácia x México. As primeiras aparições até o espaço conquistado no Sportv, desde o ano passado, geraram reações desproporcionais e preconceituosas.

“No início encarava muito como combustível: “ah, recebi essas mensagens e vou lá e faço com mais vontade”. Elas me davam mais força e vontade para continuar. Na verdade, vejo que tanto faz”, afirma Renata Silveira, hoje uma narradora com a voz registrada na TV Globo.

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No Sportv, Renata Silveira participou da cobertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, e foi a primeira mulher a narrar um jogo do futebol masculino no canal
Foto: João Cotta/Globo / João Cotta/Globo

Confira a entrevista completa:

Papo de Mina: Como foi o processo para você ser a primeira narradora da Globo na TV aberta?

Renata: "O processo foi muito natural. Estou no Sportv há praticamente um ano e não tinha essa expectativa. É claro que existia o sonho de narrar na Globo, mas não existiu este processo, essa preparação. Foi confiança da chefia acreditar no meu trabalho e no meu desenvolvimento neste ano, para que eles entendessem que era o momento de ter a chance de estrear na Globo.”

Papo de Mina: Como você recebeu essa notícia?

Renata: “Fiquei sabendo uma semana antes que faria a estreia, mas tudo aconteceu de uma maneira bem natural e encarei como uma oportunidade única. Até para não ficar nervosa e não sentir o peso, encarei como mais um jogo que eu teria que me preparar e narrar.

“Sempre no fim do ano e início, a gente recebe um feedback da chefia. E foi nesse feedback que fiquei sabendo que narraria a Supercopa feminina na Globo.”

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Papo de Mina: Como foi o período pré-jogo? Conseguiu dormir na noite anterior?.

Renata: “Tentei encarar como mais um jogo. Se ficasse com aquele peso de que seria a primeira narradora da Globo, que marcaria um dia na história do jornalismo e da Globo...então tentei não pensar e organizar todos esses sentimentos e pensamentos depois de tudo o que aconteceu. Tentei encarar da maneira mais leve possível, tentando dormir bem, estudando ainda mais, como sempre fiz.”

Papo de Mina: Você mudou algo na sua preparação para a TV aberta?

Renata: “Não mudei nada. Fiz exatamente como estou acostumada a fazer no Sportv."

O nervosismo excessivo acaba atrapalhando. O frio na barriga é bom, fico com ele em todo jogo que faço, sempre sinto na hora de entrar no ar. Na minha estreia não foi diferente, mas tentei não trazer para a estreia, porque muito nervosismo iria me atrapalhar na transmissão”

Papo de Mina: Caiu a ficha já de tudo isso?

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Renata: “Essa ficha está caindo aos poucos. Fiz o meu primeiro jogo (Flamengo x Grêmio), no dia 9 de fevereiro, e na final (Corinthians x Grêmio) fiz pela primeira vez um jogo direto do estádio. Estou nas nuvens, vivi uma semana iluminada. Meu maior sonho como narradora era narrar em um estádio, então estou muito feliz.”

“Ainda depois entramos no Esporte Espetacular, falando com público enorme, que muitas vezes não acompanha o futebol feminino. Ser essa voz na TV aberta é muito especial, estou recebendo muitas mensagens positivas e recebendo um feedback muito legal.”

Papo de Mina: Ser essa pioneira era algo que você projetava?

Renata: “Acredito que seja a meta e objetivo de muitas pessoas que trabalham no Grupo Globo. Comecei no Sportv, fiz a minha estreia em 10 de março de 2021. Mas na minha lista de sonhos tem as metas, as ‘metonas’ e aquelas que a gente imagina que pode alcançar daqui a cinco, dez anos. Essa da Globo estava bem distante, realmente não imaginava. Tinha outros focos antes de conseguir. Sempre encarei como ‘estou começando, tenho que comer arroz e feijão’. De forma surpreendente, em um ano de Sportv fiz minha estreia na Globo. É um momento muito especial. Realmente não imaginava que aconteceria tão cedo.”

Papo de Mina: Supercopa foi um acerto na sua visão?

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Renata: “Chegou para ficar. Dentro de uma regularidade e normalidade e que o calendário não fique tão maluco quanto o do masculino. As jogadoras precisam de competições e jogos para se desenvolverem, para o futebol feminino melhorar tecnicamente. A Supercopa abre o calendário do futebol feminino, depois já vem o Brasileirão. Acho que foi um acerto, sim. Talvez ajustar uma coisa ou outra das equipes que participam, mas com certeza foi um acerto para cada vez desenvolver cada vez mais o futebol feminino no Brasil”

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