Assim como Vitor Martins, especialista em diversidade e inclusão no Nubank, Brenda Nunes também se surpreende ao estar viva sendo transgênero aos 40 anos, já que a expectativa de vida dessa população no País é de 35 anos, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Natural de Sergipe, ela chegou a São Paulo em 2013. Até então, nunca havia tido outro meio de sustento além da prostituição. Foi graças ao ingresso no Transcidadania em 2018, programa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo, que conseguiu uma oportunidade de emprego formal, além de concluir o Ensino Fundamental e atualmente estar cursando o segundo ano do Ensino Médio.
"Jamais imaginaria chegar aos 40 anos. Eu achava que eu nem existiria mais", diz Brenda, que trabalha como articuladora social em uma unidade móvel do próprio Transcidadania. A sensação de vitória vem de ter ultrapassado duas barreiras: a da idade e do trabalho na prostituição. "É uma coisa que eu não tenho nem como explicar, poder acordar todos os dias, tomar meu banho, me arrumar e poder falar: vou trabalhar dignamente."
O programa atende toda a população que integra o grupo T da sigla LGBTQIA+. Além de auxílio psicológico, jurídico, social e pedagógico durante dois anos, os beneficiários também recebem um valor mensal de R$ 1.160. Atualmente, são 510 vagas.
Thalles Pietro levou sete anos para conseguir terminar o Ensino Médio, algo que só conquistou depois de integrar o Transcidadania. O preconceito por parte dos alunos e do corpo docente, que o levaram a desenvolver fobia social, o luto pela morte da mãe e a depressão que acarretou em uma tentativa de suicídio foram alguns dos fatores que se colocaram como barreiras.
"Eu batalhei muito durante anos para ter o Ensino Médio. Algo tão simples para muitos, mas para mim foi algo muito significativo", ele relata.
Atualmente trabalhando como ajudante geral em um restaurante vegano no bairro da Consolação, ele acredita que sem o suporte do Transcidadania não seria possível chegar lá. "Acho que a gente sempre precisa de alguém na nossa vida que acredite que a gente é capaz de algo", afirma. "E eles terem acreditado em mim foi a parte que fez dar certo isso."
Como uma pessoa trans e alguém que trabalha com diversidade e inclusão, Vitor aconselha que esse público procure programas de auxílio dos municípios, como o próprio Transcidadania, iniciativas de bancos de currículos e treinamentos, como o Transempregos, e formas de ingressar nas universidades públicas além do vestibular. Para ela, não basta simplesmente dizer para pessoas trans e travestis sobreviverem apesar das adversidades. "Nós fazemos isso - de não desistir das nossas vidas - todos os dias", resume.
As inscrições para o programa Transcidania devem ser feitas em um dos quatro Centros de Cidadania ou no Centro de Referência e Defesa da Diversidade, em São Paulo. A pessoa interessada pode agendar um horário antes. Confira endereços e telefones neste site.
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