Qual é a punição prevista em lei para pessoas racistas?

A punição para pessoas que praticam o racismo e a injúria racial é uma parte crucial do esforço contínuo para combater a discriminação

18 abr 2022 - 18h07
(atualizado em 23/8/2023 às 17h32)
Entenda qual é a pena aplicada para pessoas racistas
Entenda qual é a pena aplicada para pessoas racistas
Foto: iStock / gonzalo mateos

Em muitos países, leis foram estabelecidas para responsabilizar aqueles que propagam o ódio racial. Essas penalidades variam, mas têm como objetivo enviar uma mensagem clara de que haverá consequências legais para quem o pratica.

O advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos humanos e segurança pública, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e integrante do Movimento Nacional de Direitos Humanos, orienta as pessoas que passam por uma situação dessa natureza a fazerem o B.O. (boletim de ocorrência) pessoalmente numa delegacia de polícia.

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Injúria racial x Racismo: Lei não existe apenas para punir, ela também educa
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As vítimas precisam juntar provas, como vídeos, prints de mensagens, testemunhas e áudios, para que os inquéritos sejam instaurados e os acusados, indiciados. Depois os casos vão para o Ministério Público, que apresenta uma denúncia criminal e torna os acusados réus.

Pena

O artigo 20 da Lei nº 7.716, de 1989, prevê pena de reclusão de um a três anos e multa para o crime de racismo, que é imprescritível e inafiançável. A definição do crime é “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.

Já a injúria racial consiste em ofensas com cunho racial e discriminatório, está prevista no artigo 140 do Código Penal, tem pena de reclusão de um a três anos e multa. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal equiparou a injúria racial ao crime de racismo, considerando-a imprescritível – mas cabe fiança. Ou seja, se o acusado tiver posses suficientes ou meios para levantar uma quantia em dinheiro, pode se safar.

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Diferenças entre preconceito, racismo e discriminação Diferenças entre preconceito, racismo e discriminação

Castro Alves explica que a injúria é considerada um crime de menor gravidade que o de racismo, e o acusado pode responder o processo em liberdade. “Na prática, a decisão do STF facilitou para quem comete injúria racial, já que a pessoa pode ser liberada na delegacia até sem pagar fiança e, em razão de a pena ser branda, responder o processo em liberdade. Se condenada, receberá regime aberto, sem prisão. Basta comparecer ao Fórum mensalmente para assinar um papel declarando que está trabalhando ou estudando”, esclarece o advogado.

Não à toa, a maioria dos processos abertos por crimes raciais no Brasil acabam sendo registrados como injúria racial, e não como crime de racismo. Dos 134 mil em tramitação, apenas 1,3% foram classificados como racismo, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). 

Casos de racismo

Nas últimas semanas, casos de racismo explícito e irrefutável rechearam os noticiários, como o da socorrista Laura Cristina Cardoso, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), de São Paulo, que ao atender um paciente idoso ouviu da família: “E agora, filho? Ela é negra”. Ao que o filho respondeu: “Tudo bem, mamãe. Ela está usando luvas”. Ela decidiu não denunciar o caso à polícia.   

Laura Cristina Cardoso, socorrista do Samu, foi vítima de um dos casos recentes de racismo que viraram notícia
Foto: Reprodução/Facebook

Em outro caso, na cafeteria de um shopping no Rio de Janeiro, a professora Mônica Rosa e o sobrinho foram abordados por um homem que começou a xingá-los e ameaçá-los com frases como “Você é uma preta imunda, sua vagabunda, sai daqui”. O caso aconteceu há um ano e, na época, Mônica prestou queixa na delegacia. Mas voltou à tona recentemente quando as imagens das câmeras da cafeteria foram publicadas no começo de abril no blog da coluna de Ancelmo Gois, no jornal O Globo.

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Para o processo prosseguir é preciso que o homem seja identificado, o que não aconteceu nesse período, mesmo com a cafeteria afirmando que compartilhou as imagens com a Polícia e pela Justiça assim que foram solicitadas, em junho de 2021. 

No Rio, a professora Mônica Rosa e o sobrinho foram abordados por um homem que começou a xingá-los e ameaçá-los
Foto: Reprodução/G1

Também em um shopping, em Campinas, no interior de São Paulo, Aline Cristina Nascimento de Paula, analista de recursos humanos, entrou no playground para brincar com a filha de um amigo e escutou de uma mulher que o ambiente estava “cheio de preto”.  Aline retrucou dizendo que ela estava sendo racista e ouviu: “Eu sou racista mesmo!”. A analista denunciou o caso à polícia e a agressora foi presa em flagrante. Como o caso foi registrado como injúria racial, a mulher pagou fiança de R$ 1,5 mil e foi liberada.

Outro caso que também demorou a prosseguir foi o da cozinheira Eliane Aparecida de Paula, que esperava sentada em um banco a chegada de um transporte, depois do trabalho num condomínio de luxo no bairro dos Jardins, em São Paulo, passou pela mesma situação com o agravante de ter sido agredida fisicamente por uma moradora. Eliane foi chamada de “negra esquisita” e agredida com puxões de cabelo, joelhadas e teve a cabeça batida contra a parede. As câmeras do prédio registraram as agressões. Ela denunciou o caso à polícia no mesmo dia, em 22 de outubro de 2021, mas somente agora a investigação por lesão corporal e injúria racial foi iniciada, após o vídeo ser fornecido mediante decisão judicial.

Eliane Aparecida de Paula, cozinheira, foi chamada de “negra esquisita” e agredida com puxões de cabelo
Foto: Reprodução
Fonte: Redação Nós
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