Quase dez dias depois, polícia ainda aguarda laudos sobre a morte de Priscila Diva

Na data de 31 de março é celebrado o Dia Internacional da Visibilidade Trans; casos como de Priscila, que foi encontrada morta em uma represa, são comuns no Brasil, denunciam ativistas

31 mar 2022 - 13h46
(atualizado às 17h40)
Priscila Diva tinha 29 anos e morava em Perus
Priscila Diva tinha 29 anos e morava em Perus
Foto: Imagem: Arquivo pessoal  / Alma Preta

O corpo de Priscila Diva, 29 anos, mulher trans moradora do bairro de Perus, na zona noroeste da capital, foi encontrado no último dia 22 de março, em uma represa na cidade de Mairiporã, na região metropolitana. Até o momento, a polícia ainda não tem os resultados dos exames periciais, que irão definir se o caso será investigado como homicídio.

Priscila estava desaparecida desde a noite do dia 17, a família fez o boletim de ocorrências informando o sumiço na véspera do dia em que o corpo foi encontrado. No enterro, que aconteceu na quinta-feira, dia 24, amigos e familiares protestaram com cartazes pedindo justiça. Hoje, dia 31 de março, é o Dia Internacional da Visibilidade Trans, data que marca a luta contra o apagamento, violência e extermínio de corpos trans.

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Segundo o boletim de ocorrência feito no 33 DP de Pirituba, Priscila saiu casa no dia 17 sem os documentos e também sem o telefone celular, que tinha quebrado alguns dias antes. Sua mãe, Irene Aparecida dos Santos, informou à polícia que a garota estava vestindo um top, um shorts jeans e chinelo de dedo; e avisou que iria dar uma volta.

O caso, de acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), está sob a responsabilidade da delegacia de Franco da Rocha, cidade próxima à represa onde foi encontrado o corpo.

A SSP informou também que foram solicitados laudos periciais que, "assim que finalizados, serão encaminhados à autoridade policial responsável para análise". Se for comprovado nos exames que Priscila foi assassinada, as investigações podem ser transferidas para o DHPP, departamento da polícia especializado em homicídios.

A secretaria informou também que vai preservar a divulgação de informações sobre o caso para não atrapalhar as investigações e garantir a autonomia do trabalho dos policiais.

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População trans no Brasil

Segundo a Antra (Associação nacional de Travestis e Transsexuais), o Brasil segue sendo um dos países mais perigosos e onde mais se mata pessoas trans no mundo.

No dossiê, divulgado pela Antra no começo de 2022, consta que foram mortas 140 pessoas trans em 2021, destas 25 foram no estado de São Paulo, porém, a falta de dados oficiais seguros e a subnotificação dos casos indicam que o total pode ser bem maior. Entre 2018 e 2021, a média foi de 124 mortes por ano.

Os dados da Antra apontam também o recorte racial das vítimas. Oito em cada dez vítimas eram pessoas negras.

Cerca de 53% das pessoas trans mortas em 2021, tinham entre 18 e 29 anos, a mesma faixa de idade da Priscila Diva. "Ela era uma pessoa muito boa, divertida, alegre e a família sente muito a falta dela. Queremos Justiça agora", disse Suellen Teixeira, irmã da Priscila. 

A lei que prevê o crime de feminicídio, quando a condição de ser mulher tem relação direta com o crime, existe desde 2015, porém, somente em 2020 que em São Paulo foi registrado pela primeira vez, pela polícia, o assassinato de uma mulher trans como vítima de feminicídio.

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"A pergunta que ecoa a cada assassinato violento e a cada data que demarca a visibilidade de pessoas trans é sempre a mesma: quantas mais precisarão morrer para  que nossos corpos sejam objeto de preocupação real por parte do Poder Público?", disse a codeputada estadual Robeyoncé Lima, bacharela em direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), primeira advogada trans do seu estado e ativista das pautas LGBTQIA+

A vereadora do Recife afirma que é urgente a criação de políticas públicas e casas de acolhida para mulheres trans como uma resposta efetiva contra o transfeminicídio. 

"Travestis queimadas, enforcadas, decapitadas e mutiladas permeiam o imaginário popular e costumam chocar a população em geral e políticos  que afirmam se preocupar com os direitos humanos das populações vulneráveis. Em cada uma dessas situações, o movimento de travestis e pessoas trans viu esta comoção se transformar em diversas promessas, notas e mensagens solidárias, mas  muito pouco se avançou na concretização das demandas reais e objetivas dessa  população", conta a codeputada pernambucana.

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