Quem era Bernadete Pacífico e o que se sabe sobre seu assassinato

A líder quilombola e ialorixá Bernadete Pacífico, de 72 anos, foi morta a tiros em Simões Filho (BA) na noite de quinta-feira, seis anos após o assassinato de um de seus filhos, Fábio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, em 2017.

18 ago 2023 - 13h00
(atualizado às 15h26)
Matricarca era conhecida como Mãe Bernadete
Matricarca era conhecida como Mãe Bernadete
Foto: Conaq / BBC News Brasil

A líder quilombola e ialorixá Bernadete Pacífico, de 72 anos, foi morta a tiros em Simões Filho (BA) na noite de quinta-feira (17/08), seis anos após o assassinato de um de seus filhos, Fábio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, em 2017.

Matriarca do quilombo Pitanga dos Palmares e ex-secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho, a líder era conhecida como Mãe Bernadete e passou a vida lutando pelos direitos dos quilombolas.

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Desde 2017 ela lutava por Justiça pelo assassinato de Binho, que até hoje continua impune.

Há anos Bernadete vinha também denunciando as ameaças que recebe e a perseguição aos quilombolas.

"Eu não posso sair, minha casa toda cercada de câmeras", relatou em um encontro com a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber no mês passado.

O que se sabe sobre o assassinato

Dois homens usando capacetes invadiram o terreiro do quilombo, na cidade de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, e executaram Bernadete, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP) da Bahia e da ministra de Igualdade Racial Anielle Franco.

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Wellington Santos, filho de Bernadete, disse à imprensa da Bahia que a mãe estava com três netos e uma outra criança no momento da execução. Segundo ele, os assassinos afastaram as crianças e mataram Bernadete com 12 tiros.

"Minha família está sendo perseguida. Em 2017, meu irmão foi assassinado da mesma forma e ontem minha mãe foi executada enquanto estava com seus três netos. Queria saber o que a gente fez para esse povo. Não sabia que fazer o bem contraria tanto as elites", disse Wellington à TV Bahia.

Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), da qual Bernadete fazia parte, disse à Agência Brasil que os quilombos e terreiros da Simões Filho estão sob constante ameaça de grupos ligados à especulação imobiliária.

Ele também afirmou que o assassinato de Bernadete está relacionado à morte de seu filho Binho, que foi executado dentro de seu carro em setembro de 2017 a tiros após deixar os filhos na escola. O inquérito sobre o caso corre em segredo de Justiça na Polícia Federal.

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"Ela sabia, e a Justiça sabia, que quem mandou matar Binho tava lá, perto da comunidade. Só que não deu nada. Ela nunca ficou quieta. Agora foi silenciada", disse Rodrigues. A SSP não confirmou a relação entre os crimes.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) disse que recebeu a notícia do homicídio com "pesar e indignação" e que determinou que as polícias militar e civil fossem imediatamente ao local e que sejam "firmes na investigação". Disse também que secretários do governo estão acompanhando o caso e prestando apoio à família e à comunidade.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em nota que governo federal mandou representantes dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes e que aguarda uma "investigação rigorosa do caso".

"Meus sentimentos aos familiares e amigos de Mãe Bernadete", escreveu o presidente.

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Liderança de Bernadete

Bernadete liderava o quilombo Pitanga dos Palmares, uma das três comunidades quilombolas de Simões Filho.

O quilombo foi certificado em 2004, mas quase 20 anos depois o processo de titulação pelo Incra ainda não foi concluído.

Formado por cerca de 290 famílias, o quilombo é conhecido pelas artesãs que fazem itens em piaçava e pelas bordadeiras que produzem peças em ponto cruz.

A comunidade também tem uma associação onde mais de 120 agricultores produzem e vendem frutas, verduras e farinha para vatapá.

Além de líder comunitária local e líder religiosa, Bernadete também participava da Conaq e da luta por direitos de outros quilombos, além de defender e representar a cultura popular quilombola.

Ela estava presente, por exemplo, quando o quilombo Caipora recebeu eletricidade pela primeira vez, em 2017.

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Segundo o Conaq, Bernadete "atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato do seu filho Binho e bravamente enfrentou todas adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho".

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