A influenciadora Karol Eller, que morreu nesta quinta-feira, 12, em São Paulo, aos 36 anos, era uma das apostas para as eleições municipais de 2024 do Partido Liberal (PL), legenda à qual se filiou pelas mãos do ex-presidente Jair Bolsonaro, em julho. Com milhares de seguidores nas redes sociais, ela simpatizava com as ideias de Bolsonaro desde 2016. De lá para cá, aproximou-se do clã e, como homossexual, rebatia acusações de homofobia contra políticos da direita brasileira.
Na manhã desta sexta-feira, 13, o ex-presidente publicou uma foto da influenciadora em preto e branco com uma trilha sonora no story do Instagram, uma seção para conteúdos temporários. Os filhos, Flávio e Eduardo Bolsonaro, além de outros políticos aliados, publicaram mensagens de condolências e consternação.
Os primeiros registros de manifestações de Flávia Caroline de Andrade Eller em apoio a Bolsonaro datam da época em que ela vivia nos Estados Unidos e usava as redes sociais para falar da rotina no exterior. Em março de 2016, publicou um vídeo explicando o porquê de uma mulher lésbica como ela apoiar o então deputado Bolsonaro.
Para ela, o político não havia feito discursos de ódio contra a comunidade LGBTQIA+, mas contra o ativismo. "Eu também sou contra o ativismo", afirmou. "Tem muita gente que só quer viver a sua vida sem perturbar ninguém, e eu sou desse tipo. Acho que a minha sexualidade não é da conta de ninguém, não tem que ser exposta e ninguém tem que dar pitaco."
Pq uma lésbica seria Bolsonaro? #bolsonaro
Posted by Karol Eller on Friday, March 4, 2016
Àquela altura, Bolsonaro já enfrentava acusações de homofobia e misoginia. Em uma entrevista para a publicação Vice, a atriz Ellen Page questionou o congressista sobre declarações consideradas homofóbicas. Em resposta, ele disse a ela que "você foge da normalidade" e "beira, com todo o respeito, a teoria do absurdo". Na época, Page se identificava publicamente como mulher lésbica. Em 2020, anunciou ser um homem transgênero, de nome Elliot.
Pouco depois de começar a se expressar em favor de Bolsonaro, Karol gravou vídeos com os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Marco Feliciano (PL-SP). Em seguida, esteve pela primeira vez com Jair Bolsonaro.
A proximidade com a família do político rendeu um convite para a posse de Bolsonaro como presidente da República, em 2019, e visitas ao Palácio do Planalto, onde apareceu ao lado de Jair Renan, o filho mais novo de Bolsonaro. Ela dizia que o presidente "resgatou o patriotismo do brasileiro".
Em dezembro de 2019, Karol Eller e a namorada se envolveram em uma briga em uma praia do Rio de Janeiro e acusaram um homem de homofobia. A polícia, no entanto, apontou inconsistências no relato e ela acabou denunciada por por calúnia, porte ilegal de arma de fogo e lesão corporal.
Ainda no fim de 2019, Karol Eller ganhou um cargo na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), onde trabalhou até janeiro de 2023. A influenciadora foi exonerada no governo Lula, depois de participar dos atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília. Ela negava participação nas ações de destruição e invasão de prédios públicos. Ela foi admitida, em março deste ano, como assessora especial do deputado estadual paulista Paulo Mansur (PL).
Em julho, começou a vida partidária. Jair Bolsonaro assinou a filiação dela à legenda, em um evento na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp). Ela seria uma das candidatas à Câmara de São Paulo. "Com reconhecida liderança na internet e forte apoio de seguidores às bandeiras que defende, Karol Eller foi convidada e aceitou o convite do presidente de honra do PL, Jair Bolsonaro, para disputar as eleições municipais de 2024 pelo PL da capital paulista", escreveu o partido em post nas redes sociais.
No mês passado, a jovem se converteu à fé cristã e divulgou uma nota afirmando ter renunciado à "prática homossexual, aos vícios e aos desejos da carne para viver Cristo". O anúncio foi feito após um retiro religioso.
Antes de confirmada a morte, o perfil de Karol Eller no Instagram publicou mensagens com afirmações como "perdi a guerra" e "lutei pela pátria". Os posts foram apagados horas depois.