Quem foi Leila Diniz, ícone do feminismo no Brasil

Conheça a história da atriz Leila Diniz, que ficou conhecida por lutar contra o conservadorismo e o machismo durante a Ditadura Militar

2 fev 2024 - 05h00
Leila Diniz desafiou as normas tradicionais relacionadas à moralidade e ao comportamento das mulheres
Leila Diniz desafiou as normas tradicionais relacionadas à moralidade e ao comportamento das mulheres
Foto: Arquivo Nacional

Reconhecer figuras importantes ao longo da história possibilita que se entenda quais foram os passos dados para chegar aonde se está hoje. Esse é o caso do movimento de mulheres no Brasil. Essa luta vem sendo construída ano após ano por nomes como de Leila Diniz, uma das maiores referências do feminismo em terras brasileiras.

Atriz e um grande nome da cultura brasileira, tem uma extensa lista de novelas, filmes e peças de teatro que atuou. Mas, sem dúvida, o que fez de Leila Diniz um dos maiores nomes do Brasil é a sua resistência no período da ditadura brasileira, na década de 60, sendo uma das principais vozes da emancipação feminina. 

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Seu posicionamento político e social fez com que ela se tornasse uma figura importante na resistência cultural dessa época e, apesar do momento crítico, ela não hesitou em expressar sua oposição ao governo, enfrentando a censura, o conservadorismo e o autoritarismo. 

Carioca, nasceu no dia 25 de março de 1945 em Niterói, no Rio de Janeiro, estado esse que foi sua casa na maior parte do tempo. Formada no magistério, foi professora de séries iniciais antes de ter a oportunidade de atuar no teatro ou na televisão.

Quem foi Leila Diniz?

Leila Diniz foi uma atriz brasileira nascida no Rio de Janeiro em 1945. Atuou em diversas peças de teatro, telenovela, além de flertar com o cinema durante a sua carreira. É um dos maiores nomes do empoderamento feminino e da resistência à ditadura militar na década de 60.

Uma frase que ficou conhecida da atriz brasileira Leila Diniz resume bem quem foi essa mulher tão importante para o feminismo brasileiro: “Sobre a minha vida, o meu modo de viver, não faço o menor segredo. Sou uma moça livre”. Com esse posicionamento muito à frente de seu tempo, ela não só confrontou o conservadorismo, como também, se negou a seguir os padrões da sociedade machista da época.

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Aos dezessete anos, se casou pela primeira vez com o cineasta Domingos Oliveira. Durante esse relacionamento, que durou apenas três anos, surgiram os primeiros contatos com a cena cultural carioca e as primeiras oportunidades de trabalhar como atriz. Seu primeiro trabalho foi no teatro, mas logo em seguida começou a gravar a sua primeira telenovela, na emissora Globo.

Todas as suas manifestações públicas eram genuínas. Ela sempre se mostrou uma mulher de atitude que falava da vida pessoal e profissional sem ficar constrangida ou poupar palavras.

Foi vista dando entrevistas que foram consideradas polêmicas para a época e, inclusive, foi por causa de umas dessas publicações que a lei da censura prévia à imprensa entrou em vigor. Conhecida como Decreto Leila Diniz, a atriz foi perseguida e precisou ficar escondida.

Casou-se também com o diretor de cinema moçambicano Ruy Guerra, e com ele teve uma filha: Janaína Diniz Guerra.

Seu papel durante a ditadura militar

Durante o turbulento cenário da Ditadura Militar no Brasil, surgiu Leila Diniz, uma mulher destemida e que desafiava as convenções sociais e enfrentava de frente o autoritarismo. Ao longo do tempo, foi tornando-se um ícone de resistência e coragem durante um dos períodos mais sombrios da história brasileira.

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Ela não se acovardou diante das imposições do regime militar. Seu espírito livre e sua determinação a tornaram uma voz que desafiava não apenas as estruturas patriarcais, mas também as amarras de uma sociedade sufocada pela censura.

Em um momento em que a censura tentava calar a tudo e a todos, Leila Diniz ergueu sua voz e não se calou, apesar de todas as ameaças. Suas entrevistas e artigos desafiavam as noções convencionais de comportamento feminino, questionando o papel atribuído às mulheres na sociedade. Tudo isso fez com que sua ousadia inspirasse outras tantas a desafiarem as normas estabelecidas, até os dias atuais.

Mas, além das entrevistas concedidas, um outro ponto que marcou muito a sua trajetória foi o fato de se tornar mãe e publicizar isso em um tempo em que isso era inaceitável. Sua postura desafiadora em relação à maternidade contribuiu para o debate sobre os direitos reprodutivos e a autonomia das mulheres sobre seus corpos, pautas que ganharam mais relevância nas décadas seguintes e que seguem em alta nas discussões sobre os direitos das mulheres até hoje.

Grávida, ela escandalizou a sociedade ao posar grávida de biquíni para a revista Manchete, desafiando os padrões conservadores que cercavam a maternidade e a imagem da mulher gravida na mídia.

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Tudo isso fez com que ela fosse inclusive proibida de atuar e dar entrevistas à mídia, sendo um alvo perseguido da censura durante o período da ditadura. Mas a coragem de Leila Diniz transcende sua época e influencia gerações subsequentes. Seu legado persiste como um lembrete de que a resistência pode surgir mesmo quando não há espaço para resistir. 

Leila e Marieta: uma amizade por toda a eternidade

Leila Diniz e Marieta Severo foram grandes amigas, se conheceram em uma gravação para a TV e a partir dali, não se separaram. As duas jovens mulheres estavam começando no mundo da atuação, reescrevendo o papel da mulher na sociedade e lutando contra o conservadorismo.

Com personalidades distintas, Leila, conhecida por sua autenticidade e paixão, encontrou em Marieta a parceira perfeita para criar momentos inesquecíveis no teatro, mas também na vida pessoal. Fora dos holofotes, a amizade entre Leila Diniz e Marieta Severo prosperou. 

As duas enfrentaram juntas as oscilações da vida, celebrando conquistas e apoiando-se nas dificuldades, principalmente durante a ditadura. Após a morte prematura da atriz, Marieta Severo acabou criando sua filha, Janaína, tentando suprir um pouco da falta que a mãe fazia. Encontrou apoio em Chico Buarque, seu então marido.

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Isso porque Leila tinha acabado de dar à luz e, na época, sua filha tinha apenas 8 meses de vida. Após a morte da atriz, Ruy Guerra, acabou abdicando da criação da filha nos primeiros anos, passando a criar somente aos 10 anos.

Atriz Leila Diniz em 1971, um ano antes de sua morte
Foto: Arquivo Nacional / Domínio

A morte prematura de Leila Diniz

A notícia da morte da atriz brasileira chocou o país e causou uma comoção em toda a sociedade. No dia 14 de junho de 1972, ao pegar um voo de volta da Austrália, onde tinha ido promover um filme que havia gravado e receber um prêmio no festival de cinema de Melbourne, acabou sofrendo um acidente e veio a óbito.

Aos 27 anos de idade, a atriz e grande nome do feminismo brasileiro acabou sendo vítima de um acidente aéreo, onde o avião acabou colidindo e explodindo, ocasionando a sua morte. Essa tragédia acabou matando mais de 80 pessoas, e foi uma perda bem significativa para a população brasileira.

Leila tinha o hábito de colecionar diários e escrever neles constantemente. No fatídico dia do acidente, uma frase escrita pela artista chamou a atenção: “Está acontecendo alguma coisa muito es…”. O acidente acabou sendo um grande mistério e a artista acabou deixando sua filha, Janaína, com apenas 8 meses de idade. 

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Sua partida foi precoce e abalou a população brasileira. Ela deixou um vazio na cena cultural e social do Brasil, mas seu legado persiste como símbolo de coragem, ousadia e resistência. Leila Diniz será sempre lembrada como uma mulher à frente de seu tempo, que desafiou as convenções e inspirou gerações seguintes a buscarem a liberdade. 

Legado de Leila Diniz

Para se falar sobre o movimento feminista e a luta de mulheres no Brasil é preciso falar em Leila Diniz. Toda a sua vivência e posicionamento fez com que o seu legado seguisse vivo até os dias atuais. 

Leila desafiou as normas tradicionais relacionadas à moralidade e ao comportamento das mulheres, foi pioneira ao quebrar tabus, como falar abertamente sobre sua sexualidade, sua gravidez e questões relacionadas à maternidade.

Tudo isso contribuiu para questionar e desafiar estereótipos de gênero estabelecidos na sociedade, além de defender a ideia de autonomia feminina. Ela buscava independência, tanto em termos financeiros quanto em relação às expectativas sociais em relação às mulheres. 

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Uma das coisas que mais chamava a atenção em Leila era a sua coragem. Ela não tinha medo de criticar abertamente o machismo e as normas opressivas impostas às mulheres. Sua postura firme e suas declarações públicas ajudaram a sensibilizar o público para as questões relacionadas à igualdade de gênero e ao feminismo.

Por esses e outros tantos motivos, o legado de Leila Diniz serve como uma fonte de inspiração para mulheres que buscam desafiar as normas sociais e lutar por seus direitos. Ao enfrentar o conservadorismo com determinação para viver de acordo com seus próprios termos, inspiraram e continuam a inspirar gerações de mulheres no Brasil.

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Fonte: Redação Terra
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