Raquel Virgínia, CEO da Nhaí, enfrenta desafios como mulher negra e trans, atuando tanto na agência quanto na carreira artística como cantora. Em 2023, venceu o Prêmio Caboré e liderou o Contaí, plataforma de empreendedores LGBTQIA+.
Aos 35 anos de idade, a empresária paulistana Raquel Virgínia vive um momento crucial - e bastante promissor, diga-se de passagem - em sua trajetória. Ou melhor: trajetórias, no plural, já que ela concilia o comando de sua agência com a carreira artística como cantora. Em ambas, os desafios não são poucos pelo fato de ser uma mulher negra e trans.
Raquel Virgínia é o principal nome à frente da Nhaí, agência que propõe soluções inovadoras e tecnológicas com o objetivo de levar empresas e marcas a expandir o pilar da diversidade. "Somos uma diversitech com o propósito de fortalecer e promover possibilidades de crescimento para a comunidade LGBTQIAPN+", conta.
Em um país onde apenas 4% da população trans feminina tem empregos formais, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra), Raquel Virgínia é a exceção que quer abrir caminhos.
A Nhaí surgiu em 2021 e tem entre seus clientes empresas como Globo, Amstel, Santander, Pepsico e Mercado Livre. Em 2022, a empresária criou o Contaí, primeira plataforma de aceleração de empreendedores LGBTQIA+ do Brasil.
"Meu objetivo é que o mercado enxergue as pessoas LGBTQIA+ com uma visão mais corporativa. São muitos os nossos desafios e a sociedade ainda não desenvolveu a sensibilidade necessária para lidar conosco. São muitas camadas para que seja possível uma mulher negra e trans como eu desenvolver um projeto perene e vencedor", afirma.
A CEO ainda destaca: "Sem querer ser arrogante ou presunçosa, quero quebrar barreiras e servir de inspiração. Quero que a Nhaí seja um modelo de negócio que impacte positivamente. Ao mesmo tempo em que a sociedade vem compreendendo a importância da diversidade, existe uma força reacionária tentando estagná-la e até mesmo diminuí-la. As empresas precisam ser inovadoras na inclusão e investir tanto nas políticas internas quanto no público externo", diz.
Em 2023, Raquel Virgínia venceu o Prêmio Caboré na categoria de melhor profissional de atendimento e negócios do ano e participou do case “TERR4”, criado pela AlmapBBDO para o Pacto Global da ONU e B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), que levou um Grand Prix no Festival de Cannes, na categoria Creative B2B.
Apresentação na ONU
Formada em História pela Universidade de São Paulo (USP), foi na fase universitária que Raquel Virgínia descobriu a sua veia empreendedora - e ainda a de artista. Com dois colegas que conheceu no campus, ela formou o grupo As Baías e a Cozinha Mineira. "Foi tudo muito orgânico. Gravamos um álbum, que acabou ganhando uma dimensão relevante e seguimos o caminho da música", relembra ela.
A banda foi duas vezes indicada ao Grammy Latino e esteve em atividade até 2021, mas a música seguiu fazendo parte da vida da CEO. Em março deste ano, Raquel Virgínia se apresentou em Nova York, no evento Pacto Global da ONU - Rede Brasil, que aconteceu em paralelo à 68ª Comissão Sobre a Situação da Mulher (CSW). Com uma performance com homenagens a importantes nomes da comunidade LGBTQIAPN+ e sucessos de Rita Lee e Elza Soares, ela se tornou a primeira mulher trans e negra a se apresentar na sede das Organização das Nações Unidas.
Ultimamente, Raquel Virgínia vem se desdobrando para dar conta da função de empresária com o investimento na carreira de cantora. Ela lançou há cerca de 15 dias o clipe de "Hipnose", de seu primeiro álbum solo "Raquel à Venda". "Este é um trabalho mais popular e menos filosófico", explica. "Quero fazer músicas mais voltadas ao entretenimento e atingir mais pessoas com a minha arte", conta.
Evento na capital paulista no fim se semana
As gravações de "Hipnose" coincidiram com o planejamento e a organização da primeira edição do Pink Economy Experience, que acontece no sábado (3) na Casa das Caldeiras em São Paulo (SP). Com entrada gratuita, o evento promovido pela Nhaí foi criado para celebrar as potências da comunidade LGBTQIAPN+ presentes em diversas áreas e segmentos.
"Vamos ter exibições de filmes e documentários que celebram e discutem a diversidade, estandes de diversas marcas, artesãos e empreendedores da comunidade promovendo negócios e networking, e shows, palestras e atividades recreativas", conta Raquel Virgínia.
Embora esteja em processo de divulgação de seu álbum, ela optou por não se apresentar no Pink Economy Experience. "Eu até pretendia, mas sou muito ansiosa e gosto de bancar a 'senhora intrometida' em tudo: na montagem, na execução. Não ia conseguir ficar no camarim me preparando para o show com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo durante o evento", revela.
Com o Pink Economy Experience, a empresária quer firmar cada vez mais o espaço da Nhaí como uma grande agência gestora de projetos. "Meu objetivo é cada vez mais fazer trabalhos consistentes e impulsionar potências LGBTQIAPN+. Que daqui a 30 anos eu possa olhar a minha história e ver que ajudei a fazer muitas pessoas felizes", finaliza.