Recebi o diagnóstico de autismo, e agora?

Maior visibilidade de casos de adultos com TEA tem gerado dúvidas em muita gente sobre o que fazer diante da confirmação do espectro autista

15 jun 2023 - 05h00
A estimativa é de que existam cerca de 2 milhões de adultos com TEA no Brasil
A estimativa é de que existam cerca de 2 milhões de adultos com TEA no Brasil
Foto: iStock

Na última década - e com maior frequência nos últimos cinco anos - paira no ar a impressão generalizada de que nunca se falou tanto sobre autismo. Há também a sensação de que os casos de pessoas no espectro têm aumentado, sobretudo entre jovens e adultos. Na verdade, é preciso compreender alguns fatores importantes e atuais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) para tirar conclusões. 

De acordo com o Center for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos, cerca de 1% da população mundial adulta - ou seja, mais de 75 milhões de pessoas com 18 anos ou mais - está no espectro autista. O Brasil carece de estatísticas, mas, conforme especialistas, a estimativa é de que existam cerca de 2 milhões de adultos com TEA no país.

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O que esses números expressam? O primeiro fator a considerar é que hoje os especialistas conhecem melhor a condição, os diagnósticos são mais certeiros e eficazes. E o fato de ativistas e influenciadores digitais autistas abordarem o tema compartilhando as próprias experiências, principalmente no TikTok e no Instagram, não só vem contribuindo para desmistificar o assunto como para proporcionar alento aos seguidores que se identificam com os relatos. 

Descobrir o autismo na vida adulta pode, num primeiro momento, ser um choque, mas, passado esse momento inicial, surge a percepção de que com o diagnóstico em mãos a vida vai fluir de forma mais tranquila.

Vale observar que nem sempre os traços do autismo são perceptíveis, por isso a alta incidência de diagnósticos tardios. Isso acontece principalmente naqueles em que a condição é classificada de alto funcionamento ou Transtorno de Asperger, também chamado de TEA de nível 1 ou grau leve. 

Alguns adultos buscam orientação e avaliação para determinadas questões, como dificuldades persistentes na interação social, desafios na comunicação, padrões restritos e repetitivos de comportamento, problemas na regulação sensorial, ansiedade e depressão. Essas questões podem levar ao questionamento sobre a possibilidade de estar no espectro autista.

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Autismo pode ser confundido com transtorno de ansiedade social, transtorno de personalidade esquiva e TDAH
Foto: Freepik

É importante ressaltar que o autismo em adultos pode ser confundido com outros distúrbios, transtornos ou condições, especialmente quando os sinais se manifestam de forma menos evidente. Alguns exemplos incluem transtorno de ansiedade social, transtorno de personalidade esquiva, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e transtorno de comunicação social, anteriormente conhecido como transtorno pragmático da linguagem.

Uma vez estabelecido o diagnóstico de autismo em adultos, os passos seguintes podem envolver a busca por apoio e intervenções adequadas para promover uma melhor qualidade de vida. As terapias e acompanhamentos indicados variam dependendo das necessidades individuais, mas costumam incluir terapia cognitivo comportamental (TCC), terapia ocupacional, treinamento social, apoio psicológico, habilidades de empregabilidade e adaptações ambientais.

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Características escondidas

Em se tratando de adultos diagnosticados tardiamente, a maioria são pessoas que manifestam os sinais de forma mais leve ou tidas como tímidas ou com dificuldades sociais. Um dos grandes alívios obtidos com o tratamento - que deve ser multidisciplinar e personalizado - é finalmente deixar de ocultar o chamado "masking", a capacidade que alguns autistas desenvolvem de esconder suas características típicas e imitar os comportamentos mais aceitos pela sociedade. 

Isso inclui reprimir stims, movimentos corporais repetitivos de autorregulação dos autistas, e imitar as pessoas que têm um comportamento, digamos, mais aceito socialmente para mascarar suas características típicas. É um disfarce da própria condição, uma modulação do próprio comportamento.

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Por não se tratar de uma doença, mas sim do resultado de um desenvolvimento atípico do cérebro, o autismo não tem cura. É uma condição para a vida toda e, na idade adulta, pode exigir apoio em áreas específicas, como aprender a demonstrar sentimentos, se adaptar a um novo emprego e a lidar com alterações no dia a dia, já que a rigidez cognitiva típica costuma dificultar algumas coisas.

Estabelecimento de rotinas e estruturas consistentes no dia a dia melhoram a qualidade de vida
Foto: iStock

De olho na rotina

Mudanças práticas no cotidiano podem ser necessárias, dependendo das dificuldades e desafios específicos enfrentados pela pessoa autista. Isso pode incluir a implementação de estratégias de autorregulação, adaptações no ambiente de trabalho para melhor acomodação das necessidades individuais, estabelecimento de rotinas e estruturas consistentes, além de apoio em relação às interações sociais e comunicação.

Já a decisão de compartilhar ou não o diagnóstico de autismo com amigos, colegas e familiares é pessoal e depende da situação individual. Algumas pessoas optam por compartilhar para obter um maior entendimento e apoio em seus relacionamentos, enquanto outras preferem manter o diagnóstico em sigilo. 

Apesar de não existir um medicamento específico para tratar o autismo, antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores de humor e outras classes de medicamentos podem ser indicados no tratamento das comorbidades. A terapia, em especial a cognitivo comportamental, é recomendada para autoconhecimento e para lidar com as questões gerais da vida já que pessoas autistas são seres humanos como quaisquer outros, com desejos, sonhos, medos e questões diversas que se beneficiam de qualquer processo terapêutico. E, obviamente, podem estudar, trabalhar, namorar e desenvolver projetos como todos.

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FONTES CONSULTADAS: Bárbara Calmeto, psicóloga cognitivo-comportamental, neuropsicóloga pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e diretora do Autonomia Instituto, e Eduardo Perin, psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCUSP).

Fonte: Redação Nós
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