Reddy Allor, também conhecido como Guilherme Bernardes, de 25 anos, nasceu em Olímpia, interior de São Paulo, e iniciou a carreira musical em uma dupla sertaneja com o irmão, Gabriel Bernardes. Eles permaneceram como uma dupla por 12 anos, até Guilherme decidir trilhar o seu próprio caminho. No processo de autoconhecimento e na busca por suas próprias referências, o sertanejo conheceu a arte drag.
“Sempre gostei muito de estar envolvido nesse lugar artístico, independente do que fosse, e acho que é por isso que eu me identifiquei”, disse em entrevista ao Terra NÓS.
A cantora Pabllo Vittar foi uma de suas inspirações, o que fez Guilherme estudar o movimento LGBTQIA+ e conhecer outros artistas da comunidade. “Era algo que eu era um pouco afastado”, ressaltou, complementando ainda que a falta de pessoas LGBTQIA+ em sua vivência contribuiu para esse afastamento.
Foi assim, então, que nasceu a drag queen Reddy Allor. No entanto, trabalhar como drag queen não estava nos planos. "Eu não tinha essa pretensão de 'nossa, isso vai ser a minha carreira'. No começo, foi um suspiro de alívio", contou.
A inspiração para o nome veio de sua própria vida. Desde criança, Guilherme tem o cabelo ruivo, mas nunca gostou da cor por causa das piadas que as pessoas faziam. "Esse era um ponto que me incomodava, então eu comecei a minha drag tirando esses pontos de incômodo e ressignificando. O Reddy é a junção de 'red', que significa 'vermelho', e 'ready' de 'pronto' ou 'preparado'", explicou.
No início de sua carreira como cantora drag queen, Reddy passou por situações complicadas. A sua família, por exemplo, demorou para entender o que ela fazia e aceitar a sua arte como parte de seu trabalho.
"Eu precisei provar para a minha família que a arte drag era o meu trabalho, algo sério e que eu não estava de brincadeira. Mas é uma luta diária, não é assim não só com a minha família, mas com a sociedade também, que precisa sempre estar atenta ao preconceito", contou.
Drag queen sertaneja
Mesmo após iniciar a carreira como drag, Reddy não largou o sertanejo, presente em sua família há anos. Conhecida como a "drag queen do sertanejo", juntar a arte drag com um gênero musical mais tradicional foi um processo natural para ela.
"A primeira música que eu lancei como drag foi sertaneja, porque era algo que estava no meu sangue, na minha vivência", disse. No dia 6 de outubro, lançou o seu novo EP chamado "Ciclos", seu primeiro trabalho após assinar com a gravadora Som Livre.
O sertanejo é visto como um ambiente conservador e homofóbico, mas Reddy usa o espaço como uma forma de resistência. "É um ambiente que não está preparado para o discurso de uma pessoa LGBTQIA+. A minha proposta é tirar esse peso do conservadorismo dentro do sertanejo", afirmou.
Ao Terra NÓS, Reddy contou que a arte drag pode, sim, influenciar positivamente o sertanejo. "A arte existe para a gente sentir", disse. "A arte drag tem o papel de trazer esse lugar mais sentimental e mais forte. Ela vai além da música e tem uma imagem muito impactante".
Segundo ela, a representatividade no sertanejo é muito importante, pois faz com que pessoas como ela, que antes não conseguiam se identificar com o gênero musical, passem a se sentir incluídas. "Ser drag queen é um ato político e fazer isso dentro do sertanejo é ainda mais", destacou Reddy.
Casamento homoafetivo
Em um contexto mais recente, a cantora falou sobre a aprovação do projeto de lei que proíbe o casamento homoafetivo. Guilherme é homossexual e, no dia da entrevista, estava aproveitando o feriado prolongado do dia 12 de outubro com o namorado em São José dos Campos, interior de São Paulo.
"É um retrocesso. A comunidade LGBTQIA+ já conquistou tantas coisas. Isso é uma tentativa de omitir comportamentos preconceituosos que fazem 'em nome de Deus'", disse Reddy. "Não podem apagar a história do que estamos construindo e conseguindo".
Por fim, mandou um recardo para as pessoas que aprovam essa proibição. "É preciso estudar e entender porque a proibição é errada. Isso é falta de empatia. Precisam se colocar no lugar das pessoas LGBTQIA+ para entender a nossa realidade".