A sutileza do abuso emocional torna difícil identificar a toxicidade da relação, pois nem sempre ela se manifesta em agressão física evidente. Frequentemente, o abuso é camuflado sob a aparência de cuidado e amor excessivos, acompanhado de manipulação e controle. Isso tudo dificulta a percepção da vítima sobre a verdadeira natureza do relacionamento.
Sinais como controle excessivo, manipulação e ciúmes descontrolados são alertas importantes de um relacionamento abusivo que não devem ser negligenciados e merecem uma séria atenção.
O que é um relacionamento abusivo?
Em um relacionamento abusivo, uma pessoa busca exercer controle extremo sobre seu parceiro, uma dinâmica que pode ser caracterizada por um desequilíbrio de poder onde o se busca dominar a vítima, afetando sua liberdade e bem-estar emocional.
Um relacionamento abusivo não só cria dependência, mas também gera medo, insegurança e isolamento, podendo impactar o emocional, a integridade física, relações sociais e situação financeira da vítima.
“Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2021), a violência, em suas diferentes maneiras de se apresentar, é um dos principais empecilhos ao empoderamento feminino. É uma relação que causa prejuízos a um ou a ambos os sujeitos”, explica a psicóloga clínica Ana Claudia Silva, especialista em terapia cognitivo comportamental, pós-graduada em saúde mental e pós-graduanda no curso de atendimento psicossocial a vítimas de violência.
Quais são as características de um relacionamento abusivo?
Quando um parceiro busca controlar excessivamente e manipular a vida da vítima, é um sinal evidente de relacionamento abusivo. Essa forma de controle pode assumir diferentes facetas, como vigilância constante, limitação da liberdade e imposição de vontades sem considerar desejos e necessidades do outro.
Ana Claudia acrescenta que, nesse contexto, o parceiro vai tentar controlar cada detalhe, independente de sua importância. “Vai desde suas atividades diárias até interações sociais. Também quando ele começa a decidir o que a outra pessoa pode ou não fazer. Um exemplo é ‘troca de roupa porque essa é muito curta’.”
Outro indicativo é o comportamento manipulador, onde a pessoa exibe ciúmes intensos e tentativas de afastar a vítima de seus laços familiares e amizades. Esse padrão de controle pode resultar em um cenário de isolamento, tornando a vítima mais suscetível às influências do abusador.
“Ele vai fazer isso para manter um controle mais efetivo e utilizar táticas manipulativas para conseguir o que deseja, como chantagem emocional, mentiras e jogos psicológicos”, afirma a psicóloga.
As humilhações e críticas recorrentes são outros aspectos presentes. O parceiro constantemente desvaloriza e critica a outra pessoa, causando uma diminuição de autoestima e energia na vítima. Isso tudo gera um ciclo de desrespeito.
Violência física, sexual e psicológica
A violência também é um problema grave em relacionamentos abusivos, podendo se manifestar de diversas formas, incluindo violência física, sexual, psicológica e também ameaças constantes. Esses comportamentos comprometem a segurança da vítima, criando um ambiente de medo e ansiedade.
“É importante notar que o abuso pode assumir formas diversas, e cada relacionamento abusivo pode apresentar diferentes combinações desses comportamentos”, analisa Ana Claudia.
“Pode ser desafiador identificar porque o abuso pode começar de maneira sutil e gradual. É fundamental reconhecer os sinais de um relacionamento abusivo e buscar apoio para interromper o ciclo de abuso, seja por meio de conversas com amigos, familiares ou profissionais especializados em relacionamentos abusivos”, completa.
Onde e como denunciar?
É crucial buscar suporte para encerrar um relacionamento abusivo. Uma opção é entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher pelo número 180. A central recebe denúncias e oferece suporte às vítimas, encaminhando-as para outros serviços especializados e enviando os relatos para os órgãos responsáveis.
Além de ligar para o 180, também é possível fazer denúncias de violência utilizando o aplicativo Direitos Humanos Brasil e acessando a página da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), que gerencia o serviço. Além disso, violências contra a mulher podem se denunciadas em delegacias comuns pessoalmente ou pelo telefone 190.
Lei Maria da Penha
A Lei Maria da Penha também abrange casos de violência psicológica, que é “entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”, de acordo com o Art. 7º da Lei nº 11.340.