Saiba quem é o viúvo de Antonio Cícero que distribuiu carta do marido após a morte

Antonio Cícero morreu por suicídio assistido na Suíça devido aos sofrimentos causados pelo Alzheimer

23 out 2024 - 18h35
(atualizado em 24/10/2024 às 09h39)

Nesta semana, Antonio Cícero morreu aos 79 anos. O poeta tomou a decisão de se submeter a um suicídio assistido na Suíça devido aos sofrimentos causados pelo Alzheimer, e contou com o apoio do marido, o figurinista Marcelo Pies.

Antonio Cicero, Marcelo Pies (Reprodução/Instagram)
Antonio Cicero, Marcelo Pies (Reprodução/Instagram)
Foto: Mais Novela

Marcelo foi quem distribuiu uma carta deixada pelo escritor aos seus amigos e quem segurou a mão dele, enquanto a eutanásia era feita.

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Marcelo Pies é figurinista, nascido em Niterói, no Rio de Janeiro e acumula prêmios no teatro, na TV e no cinema. Com suas confecções para o palco, ele já ganhou troféus do Shell 2010, APTR 2010 e o Prêmio de Teatro Contigo de 2008. No cinema, ele foi responsável pelo figurino de grandes títulos como Sob Pressão (2016), Os Penetras (2012), O Juízo (2019), Chacrinha - O Velho Guerreiro (2017) e outros.

Cícero e Marcelo começaram a se relacionar em 1984. Em entrevista ao jornal O Globo, o figurinista de 61 anos afirmou que a eutanásia foi "uma decisão puramente racional" do escritor e que apenas ele sabia do que estava por vir. Nem mesmo sua irmã, Marina Lima, sabia da decisão. Ela, assim como os demais, foi apenas informada de tudo na terça-feira (22).

De acordo com Marcelo, o escritor passou por dezenas de exames, leu diversos laudos e precisou de atestados médicos para que a operação fosse aprovada. Inicialmente, a ideia era que o procedimento fosse realizado em agosto de 2024, porém, o figurinista estava ocupado trabalhando na série "Praia dos Ossos".

"Antonio sempre, sempre defendeu a liberdade de se cometer eutanásia e suicídio assistido. Nisso, ele foi de uma coerência admirável. Por isso, não reagi com tanta surpresa [a esta decisão]. Com toda a certeza, foi uma morte digna. Antonio morreu em paz, segurando a minha mão, muito tranquilo e sem nenhuma ansiedade. Depois do medicamento, ele dormiu e, em meia hora ou um pouco mais, morreu. O futuro para quem tem Alzheimer é sabido. Ainda não há cura nem tratamento eficaz. Respeitei a decisão dele e o apoiei. Admiro imensamente a coragem e a determinação. Ele sempre apoiou todas as formas de liberdade, e essa foi mais uma", disse o viúvo.

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Marcelo distribuiu carta deixada por Antonio Cícero

"Queridos amigos, encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer", inicia o documento.

"Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem. Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi", continuou.

"Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo. Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação", lamentou Antonio.

"A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas - senão a coisa - mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!", finalizou.

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