Qual é o seu sonho? A pergunta está sempre na mente, mas e quando você deixa isso de lado por um forte motivo? Essa é uma questão importante na vida de muitas mulheres ao se depararem com a gravidez e a responsabilidade de cuidar da nova vida que geraram. Muitas precisam dar uma pausa para viver esse momento, como foi o caso da cantora EuLá, participante da 10ª temporada do The Voice Brasil. “Com a chegada da minha filha, precisei alterar o momento de realização para várias questões”, conta ela, que está na campanha da Riachuelo do Dia das Mães, cujo enfoque são as mães de diferentes perfis que foram atrás dos seus sonhos.
No caso de EuLá, o desafio foi ainda maior. "Principalmente por ser mãe solo, sabemos dos inúmeros desafios e sobrecarga que isso traz", analisa a cantora, que se mudou de cidade para receber a filha e alterou a direção da carreira, passando a compor e focar em trabalhos mais consistentes. Por motivos pessoais, a artista preferiu não divulgar o nome e a idade da filha nesta entrevista.
EuLá é consciente do seu papel de mãe no contexto atual, sem se apegar ao peso do perfeccionismo que a condição carrega. "Ser mãe, para mim, é ser o que consigo dentro das minhas condições. Dizer ou determinar o que é ser mãe é tão perigoso, pois é justamente isso que faz com que muitas de nós acreditem não estar sendo a ‘mãe ideal’. Quando uma mulher cria uma filha só, sem a presença de um homem, automaticamente a maioria das pessoas acredita ter o dever de opinar na direção dessa criação. Eu tenho enfrentado essas situações me posicionando com firmeza e limitando o espaço que tentam ultrapassar", conta.
Essa posição também passa pela questão de ser portadora de uma doença chamada retinose pigmentar - pigmentos na retina que vão fechando o campo visual até a perda total da visão, porém seu avanço é de difícil previsão, já que se comporta de maneira única em cada portador. EuLá descobriu a deficiência antes da maternidade e, com a chegada da filha, tomou ainda mais consciência e ação diante dessa condição. “Quando ela começou andar, percebi que precisaria ter e dar mais segurança física para nós, então, a partir disso, aceitei usar a bengala e isso mudou completamente a minha noção de autonomia”, conta.
A partir da rotina adaptada a cantora percebeu que crianças criadas com e por pessoas com algum tipo de deficiência se tornam ainda mais sensíveis e atentas com o outro e com o meio, além de explorarem mais os outros sentidos, como audição e tato. "É incrível!", vibra.
Mas nem sempre tudo foi um mar de rosas nessa jornada. "Ouvi muitos comentários desanimadores, dizendo que não ia poder cuidar da minha filha só por ter deficiência visual. E que também precisaria mudar a minha profissão, porque não seria possível ser artista e proporcionar uma boa vida para ela. Joje vejo como tudo tem sido diferente, pois aceitei o meu processo e quis construir meu próprio caminho com ela", comemora.
A atitude de EuLá reflete o direito à liberdade da mulher para respeitar seus processos e suas histórias, sem seguir cartilhas de como agir, ter, ser, obter. "Vivemos, todas, experiências completamente diferentes e, enquanto houver tentativa de padronizar os comportamentos ou a forma de ‘maternagem’, continuará havendo muito sofrimento", conclui.