Pioneira na narração, Luciana Mariano quer ser a voz da resistência para as mulheres que estão chegando agora na profissão. Com mais de 20 anos de experiência, e tendo no currículo o fato histórico de ser a primeira mulher a narrar um jogo de futebol na TV brasileira, ela arregaçou as mangas para se posicionar contra os ataques que recebe nas redes sociais.
Já foram 156 processos abertos contra agressores que despejam mensagens de ódio e machistas, principalmente em seu Instagram, pelo simples fato de ela ser uma narradora mulher.
Em entrevista exclusiva ao podcast do Papo de Mina, a narradora dos canais esportivos da Disney garante que hoje, com todo o alicerce construído, esses ataques não geram mais desconforto, mas questiona: “que mensagem nós estamos e vamos passar sobre esse exemplo que é o único que temos até aqui. A gente vai deixar bater?”
Além de exemplo, Luciana é uma “sobrevivente na profissão”, como ela mesma se define. E é com esse cargo, com o respeito conquistado e com um background sólido que ela se sustenta para seguir na luta contra o preconceito. Por ela e por todas as novas gerações.
“Como eu fui a primeira a fazer isso, tenho que dar exemplo. Não posso ter medo, ou se tiver, que faça mesmo sentindo medo. Uma garota que está começando agora não vai abrir a boca, e não tem problema, eu falo por ela. Entendo perfeitamente a situação daquelas que não podem se rebelar”, explica.
“Eu tenho que fazer isso, agora que a resistência de fato começa”, acrescenta.
Poder da diversidade
Responsável por abrir portas, Luciana ouviu muitas palavras de desestímulo, mas não abandonou o sonho. Ver que sua batalha hoje colhe frutos, com cada vez mais mulheres ocupando seus lugares nas transmissões esportivas, é motivo de muito orgulho.
“Estar presenciando a chegada da primeira safra de narradoras é o maior ponto de vitória da minha vida”, afirma.
E para os comentários misóginos e preconceituosos, Luciana tem uma única resposta: “acostume-se”.
“Acostume-se com mulheres narrando, acostume-se com negros sendo juízes, médicos e ocupando espaços que nunca ocuparam, acostume-se com a comunidade LGBTQIA+, acostume-se com coisas que são diferentes de você, porque o mundo é diverso e as pessoas também são”, argumenta.
Aos 46 anos, com o objetivo de narrar até quando a saúde permitir, e sendo uma voz ativa para luta de tantas minorias, como o caso das mulheres no esporte, Luciana reconhece a importância dessa sua postura.
“Eu tenho certeza que quando morrer alguém vai dizer 'nossa, um dia ela pensou em um lugar de igualdade, abriu mão de coisas por isso, trabalhou pra caraca pra que isso acontecesse'. E você, como vai ser quando morrer?”, finaliza.
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