As chuvas que atingiram o litoral norte de São Paulo nos últimos dias deixaram muitos indígenas ilhados, principalmente os moradores da Terra Indígena Ribeirão Silveira, que abrange os municípios de São Sebastião, Bertioga e Salesópolis. As tempestades causaram diversos estragos na região. Um alerta foi emitido pela Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste (ArpinSudeste) em conjunto a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
“Solicitamos atenção e a visita do Ministério dos Povos Indígenas, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas e da Secretaria Especial de Saúde Indígena para que as mais de 500 famílias que vivem na região não fiquem desatendidas neste momento de calamidade pública”, diz o comunicado.
A ArpinSudeste e Apib alertam para que as vidas dos indígenas, que vivem no litoral norte de São Paulo, sejam preservadas em decorrência das fortes chuvas que atingem a região. A TI Ribeirão Silveira, que possui cinco aldeias no município de São Sebastião, é uma das mais afetadas pic.twitter.com/n6byOJcgOf
— Apib Oficial (@ApibOficial) February 20, 2023
Entre a última terça-feira (21) e a próxima sexta-feira (24), a previsão de precipitação acumulada é de 200 milímetros (mm). O temporal que aconteceu no último domingo (19), deixou o município em estado de calamidade pública, com deslizamentos e enchentes. Segundo a Defesa Civil de São Sebastião, a chuva foi de mais de 600 milímetros (mm). Até o momento, 48 pessoas morreram em decorrência das chuvas, informação confirmada pela Prefeitura de São Sebastião nesta quinta-feira (23).
O acesso ao local sofreu danos pelas tempestades e o posto de saúde que atende a Terra Indígena (TI) foi afetado pelas chuvas, segundo um dos cofundadores da Frente de Apoio aos Povos Indígenas (Fapib) Sudeste, Maurício Fonseca.
“Foi um evento climático que assustou a comunidade inteira e, obviamente, ela está preocupada com os desdobramentos dessa crise climática, que está cada vez mais afetando o litoral. Eles têm o conhecimento, estão percebendo essas mudanças”, afirmou Fonseca à Agência Brasil.
Ele ainda disse que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) está presente no local para conversar com as autoridades e dar assistência aos indígenas, que estão recebendo o apoio de diversas lideranças, como o Fórum das Comunidades Tradicionais do litoral norte. O fórum conseguiu acessar o território com caminhões e está ajudando as famílias com cestas de alimentos e doações em dinheiro.
Segundo o alerta da ArpinSudeste e Apib, as aldeias estão recebendo doações e apoio via pix pelo CPF do cacique Adolfo Timotio: 133.346.368-52. Ele mora na aldeia indígena Guarani Rio Silveiras. Além da doação através da transferência bancária, a Funai e a Prefeitura de Bertioga estão arrecadando doações na Secretaria de Turismo e Cultura (Avenida Tomé de Souza, nº 130, Centro, Bertioga).
A Fapib também está com cestas básicas para entregar, mas no momento não consegue acessar a TI para fazer isso. Seguindo a orientação do governo estadual, a entidade precisa aguardar até que o caminho possa ser feito de forma segura.
O Terra NÓS entrou em contato com o Cacique Adolfo da aldeia Rio Silveiras, uma das afetadas pelas chuvas. Cacique Adolfo está acompanhando o que acontece na região e disse que eles têm recebido doações da prefeitura de Bertioga, que fez a arrecadação. Os indígenas receberam três carregamentos com alimentos, roupas e outros itens necessários, apesar de ainda faltar itens para algumas famílias como fogão e geladeira.
O indígena ainda afirmou que não tem mais nenhuma pessoa ilhada. "A aldeia já está estabilizada. A aldeia e as comunidades estão seguras", disse ele.
Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, informou nas redes sociais que está em contato com os indígenas da região. “Toda solidariedade às vítimas e famílias atingidas pelas fortes chuvas no litoral de São Paulo”, escreveu.
Toda solidariedade às vítimas e famílias atingidas pelas fortes chuvas no litoral de São Paulo.
Foi o maior registro de chuvas em 24H na história do BR. O desequilíbrio climático do planeta traz consequências trágicas. Estamos em contato com representações das aldeias da região.
— Sonia Guajajara (@GuajajaraSonia) February 21, 2023
A Terra Indígena Ribeirão Silveira abriga cinco aldeias e tem cerca de 400 pessoas das etnias Guarani, Guarani Mbya e Guarani Ñandeva, de acordo com dados da Comissão Pró-Índio, do Instituto Socioambiental e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).