Estrela do tênis, Daria Kasatkina diz ser importante que atletas falem publicamente sobre sua sexualidade. "Dá força a muitas meninas", afirma, condenando a repressão aos direitos LGBTQ na Rússia.
Daria Kasatkina, a tenista mais bem classificada da Rússia, se declarou publicamente lésbica, numa entrevista em vídeo publicada no YouTube nesta segunda-feira (18/07), na qual também fez críticas à forma como seu país lida com a homossexualidade.
Questionada pelo youtuber russo Vitya Kravchenko se tinha namorada, a atleta de 25 anos respondeu que sim. "Viver no armário, como dizem, é inútil. Não faz sentido, vai ficar sempre dando voltas em sua cabeça, até você dizer alguma coisa. Obviamente, cada um decide como se abrir e quanto."
Kasatkina, que ocupa a 12ª posição do ranking mundial, treina atualmente sob as instruções do espanhol Carlos Martínez em Barcelona. Ao longo da entrevista, concedida na cidade espanhola, a jovem reconheceu que ficou "um pouco nervosa" ao fazer a revelação diante da câmera, mas disse ser necessário falar publicamente sobre o tema.
"Acredito que é importante que gente influente do esporte, ou de qualquer outra esfera, realmente fale sobre isso. É importante para os jovens que têm dificuldades com a sociedade e precisam de apoio."
Horas após o vídeo ser publicado, Kasatkina postou fotos nas redes sociais ao lado da namorada, a patinadora artística russo-estoniana Natalia Zabiiako.
Tabu na Rússia
Na entrevista, a tenista também criticou a postura do governo russo em relação à homossexualidade, bem como a perseguição aos direitos LGBTQ em seu país.
"Tantos assuntos são tabu na Rússia. Essa noção de alguém querer ser gay ou se tornar gay é ridícula. Acho que não há nada mais fácil neste mundo do que ser heterossexual. Sério, se houvesse escolha, ninguém escolheria ser gay. Por que tornar sua vida mais difícil, especialmente na Rússia? Qual é o sentido?"
As declarações de Kasatkina vieram logo após parlamentares russos sugerirem a proibição de qualquer debate sobre relacionamentos "não tradicionais" na esfera pública.
A atleta, que alcançou a segunda posição do ranking mundial da WTA em 2018, disse que "não é surpresa" que a Rússia esteja tentando reprimir a homossexualidade.
A chamada lei de "propaganda gay" aprovada no país em 2013 foi usada para impedir marchas do orgulho LGBTQ e deter ativistas dos direitos LGBTQ.
Primeira atleta russa fora do armário
Durante a entrevista,na ainda elogiou a jogadora de futebol russa Nadezhda Karpova, que em junho se tornou a primeira atleta do país a se declarar publicamente lésbica.
"Tenho todo respeito. Fiquei feliz por ela, mas também por outras pessoas, especialmente meninas, que precisavam saber disso. Deu força a elas, com certeza. Nadezhda ajudou não apenas a si mesma tirando esse fardo de seu peito, mas também ajudou outras."
Segundo Kasatkina, houve uma pressão por mais abertura sobre o tema na Copa do Mundo de 2018 na Rússia, mas esse impulso acabou se perdendo depois da invasão da Ucrânia.
Enquanto isso, quando questionada sobre o que ela mais quer na vida, a atleta disse: "Que a guerra termine", um conflito que ela diz considerar um "completo pesadelo".
ek/av (Efe, AFP, Reuters, DPA, AP)