Trans latinas: por um feminismo inclusivo

Conheça mulheres que são símbolo de luta e força em seus países

8 mar 2023 - 18h36
Brasil é o país que mais mata a população trans pelo 14º ano consecutivo - em 2022
Brasil é o país que mais mata a população trans pelo 14º ano consecutivo - em 2022
Foto: AzMina

O Dia e Mês Internacional da Mulher são marcos importantes para celebrar as vitórias e conquistas feministas, mas também para conscientizar o resto da população sobre as nossas necessidades. Neste ano, AzMina marca posição contra a transfobia e por um feminismo inclusivo, que abarque todas as formas de ser e se identificar como mulher.

Para homenagear as mulheres trans, no dia 8 de março de 2023, buscamos latinas que são símbolo de luta e força. Para isso contamos com a parceria de veículos independentes e feministas de países vizinhos, na América do Sul e Central - Edición Cientonce, do Equador, Volcánicas, da Colômbia, e Reportar Sin Miedo, de Honduras.

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O Brasil é o país que mais mata a população trans pelo 14º ano consecutivo - em 2022, foram 131 mortes. É terrível constatar isso, pior ainda seria nos calarmos. Mas, apesar das dificuldades que mulheres trans enfrentam, não focamos agora no sofrimento, mas exaltamos suas vidas e trajetórias. Mulheres como Neon dos Afonso Cunha, a primeira trans a mudar de nome sem diagnóstico de patologia no Brasil, são exemplos de resistência nos quais  queremos nos inspirar. 

Neon Cunha

Neon Cunha é uma das maiores ativistas LGBTQIAP+ que abriu vários caminhos para outras pessoas trans
Foto: Reprodução/AzMina

Nascida em Belo Horizonte (MG), Neon se estabeleceu como uma das vozes mais reconhecidas da despatologização das identidades trans no Brasil, além de ser patrona da Casa Neon Cunha, espaço de acolhimento LGBTQIAP+ do ABC Paulista. 

Graças a mulheres como Neon à frente da luta pelos direitos trans no país, tivemos conquistas como o direito ao uso do nome social no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2006, e a realização de cirurgia de redesignação sexual na rede pública, em 2008. Em 2019, ocorreu finalmente a criminalização da lgbtfobia no Brasil, que cita a transfobia separada da homofobia. 

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“Eu não preciso da cisgeneridade para outorgar a minha existência enquanto mulher. Acho que essa é a maior lição do transfeminismo: a liberdade de existir na condição de ser quem se é para além das normas de gênero”, afirma Neon, mulher negra, ameríndia, transgênera  e ativista independente.

Estrella Estevéz

Estrella foi a primeira a conseguir mudar o campo de gênero de masculino para feminino em seu documento de identidade.
Foto: Reprodução/AzMina

Outra mulher que deve ser celebrada é Estrella Estévez, nascida em 1972, em Quito, no Equador. Em um país onde a população trans também está exposta a agressões e ataques [no ano passado, 16 mulheres trans foram assassinadas no Equador], ela foi a primeira que conseguiu mudar o campo de gênero de masculino para feminino em seu documento de identidade, após um processo judicial.

As vitórias são relativamente recentes para as pessoas trans equatorianas. Se desde 1997 houve a descriminalização da homossexualidade no país - e Estrella também participou dessa luta -, apenas em 2008 a Constituição do Equador reconheceu a identidade de gênero como uma categoria protegida contra a discriminação. 

Em 2016, foi aprovado colocar o 'gênero' no lugar do 'sexo de nascimento' em documentos de identidade para pessoas trans, mas o ativismo trans ainda considerava isso discriminatório, principalmente porque, assim, ficava diferente do documento de pessoas cisgênero, que mantinha o sexo biológico. Só no ano passado pessoas trans puderam modificar diretamente o campo de 'sexo' na identidade, colocando da maneira que se identificavam. 

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Allison Hernández

Em 2022, 43 pessoas LGBTQIAP+ foram assassinadas em Honduras.
Foto: Reprodução/AzMina

Em Honduras, Allison Hernández é vice-diretora da Associação Feminista Trans, que luta para mudar o contexto de violência vivenciado por mulheres trans no país centro-americano, além de empoderar as mulheres com as ferramentas necessárias para se defenderem. 

Ao passo em que avanços acontecem em Honduras - como a condenação do Estado pelo homicídio de Vicky Hernández, mulher transgênero ativista assassinada aos 26 anos durante o golpe de Estado de 2009 -, a falta de direitos básicos ainda impede a conquista de igualdade de pessoas trans hondurenhas. Em 2022, 43 pessoas LGBTQIAP+ foram assassinadas em Honduras, seis delas trans, de acordo com o observatório da Red Lésbica Cattracha.

Allison também luta por respeito. “Que as pessoas me respeitem não só pelo meu corpo, não só pelos meus seios, mas pela minha inteligência e pelo meu diálogo como mulher trans.” E faz um convite: “que as pessoas que fazem parte das mensagens de ódio contra a população trans conheçam a realidade de uma mulher trans.”. 

Laura Weinstein

Além de trabalhar e lutar pelos direitos das pessoas trans e profissionais do sexo, Laura era próxima de Deus e do judaísmo.
Foto: Reprodução/AzMina

Laura Weinstein é uma das mais importantes ativistas e líderes da população LGBTIQIAP+ na Colômbia. Foi diretora da GAAT Foundation (Grupo de Apoyo y Acción a Personas Trans). Além de trabalhar e lutar pelos direitos das pessoas trans e profissionais do sexo, Laura era próxima de Deus e do judaísmo. E, embora a religião possa afastar muitas pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans da espiritualidade, deu força a Laura. 

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“Existem seres tão valiosos, tão corajosos, em meio à sua diversidade, e acho que é isso que há de belo e valioso em todas as mulheres: poder falar a partir das nossas diferenças, dos nossos lugares e poder dizer que somos e que existimos”, depõe Laura Weinstein.

Mesmo que, desde 1993, o Tribunal Constitucional colombiano tenha ampliado a compreensão do direito à identidade de gênero, ainda existem barreiras à garantia desses direitos no país. Nesse contexto, a amizade de Laura representava um espaço de acolhida e refúgio para mulheres trans, contra os discursos excludentes de que ela também era vítima.

Clique aqui e acesse a reportagem original.

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