USP, Unicamp, Unesp e Univesp incluem disciplina sobre pessoas com deficiência na grade de aulas

Episódio 174 da coluna Vencer Limites no Jornal Eldorado da Rádio Eldorado.

14 jan 2025 - 07h27
(atualizado às 08h53)

Temáticas fundamentais da população com deficiência agora fazem parte das aulas oferecidas aos alunos de todos os cursos de quatro faculdades públicas de São Paulo: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), vinculadas à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI).

A 'Disciplina Paulista de Acessibilidade e Inclusão', articulada pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPcD), é opcional, ministrada online e já está disponível na plataforma da Univesp, coordenada pela professora Vera Capellini, diretora da Faculdade de Ciências da Unesp (câmpus Bauru). São 16 mil vagas por ano, divididas em oito mil por semestre.

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Segundo dados do Observatório dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o estado de SP tem aproximadamente 3,3 milhões de habitantes com deficiência.

Marcos da Costa, secretário dos Direitos da Pessoa com Deficiência, explica o conceito e detalha a disciplina. "Aborda questões essenciais, como as barreiras físicas, atitudinais, tecnológicas e pedagógicas, que dificultam a inclusão, também discute os direitos das pessoas com deficiência, a construção de uma cultura inclusiva, o uso de tecnologias assistivas e o conceito do desenho universal na aprendizagem, além de reorganizar o trabalho pedagógico com foco na diversidade".

De acordo com o secretário, o conteúdo também proporciona uma reflexão profunda sobre os conceitos filosóficos, em prol da inclusão, engloba temas como deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades, e ressalta a importância da acessibilidade em todos os contextos sociais.

"O objetivo é claro, formar profissionais conscientes e preparados para atender todas as pessoas com dignidade e respeito, especialmente as pessoas com deficiência. Essa iniciativa reflete a nossa crença no poder transformador da educação para a construção de uma sociedade mais acessível e inclusiva. Não é apenas uma política educacional, mas um convite à transformação social, um chamado à quebra de preconceitos e à construção de um mundo onde todos tenham igualdade de oportunidades", diz Marcos da Costa.

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Entre os principais temas estão a análise de barreiras físicas, atitudinais, tecnológicas e pedagógicas, além do estudo dos direitos das pessoas com deficiência e da importância da cultura inclusiva.

Os estudantes também terão acesso a conceitos sobre tecnologia assistiva e desenho universal para a aprendizagem, práticas pedagógicas voltadas à diversidade, e discussões filosóficas e éticas sobre inclusão.

É um projeto muito importante, especialmente neste momento de abandono das práticas de diversidade por grandes corporações globais, em um sinal preocupante de retrocesso a ideias ultrapassadas e de percepções distorcidas a respeito de pessoas que lutam pela própria dignidade e pelo direito de serem quem são.

Pulo para trás - Na semana passada, a Meta, dona de Facebook, Instagram, Threads e WhatsApp, anunciou o fim de seu programa de diversidade, equidade e inclusão. Outras gigantes, entre elas McDonald's, Walmart e Harley-Davidson também extinguiram ou modificaram essas práticas nos EUA.

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O alvo principal é a população LGBTQIAPN+, que está no centro da atenção do discursos de ódio e discriminação. Na sociedade norte-americana, há uma batalha sobre a chamada 'cultura woke' - 'acordei', em inglês - termo que surgiu na comunidade afro-americana e significava 'estar alerta para a injustiça racial', mas que atualmente abrange outros temas sociais e políticos.

Defensores dizem que 'ser woke' é ter consciência social e racial, questionar paradigmas e normas opressoras impostos pela sociedade. Críticos afirmam que uma pessoa 'woke' e hipócrita, acredita ser moralmente superior e quer impor ideias progressistas com métodos coercitivos e policiamento da linguagem em expressões e ideias consideradas misóginas, homofóbicas ou racistas.

Questionei a Arco Dorados, operadora da marca McDonald's na América Latina e no Caribe, sobre os reflexos no Brasil da decisão da rede nos EUA de modificar diretrizes de diversidade e inclusão. A empresa afirma que, por aqui, principalmente no que diz respeito à contratação de pessoas com deficiência na rede brasileira, estão mantidas as práticas.

Ainda que essas decisões não sejam direcionadas aos trabalhadores com deficiência, elas podem criar um ambiente assistencialista e excludente pior do que já é imposto a quem tem deficiência e busca trabalho.

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Desinformação - O fim da checagem de fatos nas plataformas da Meta (Facebook, Instagram, Threads e WhatsApp), que replica a prática do X (antigo Twitter), vai gerar muitos problemas para as pessoas com deficiência porque temáticas do povo com deficiência são temas habituais de vídeos e posts em todas as redes sociais e plataformas, inclusive TikTok e YouTube, com informações erradas, invencionices e distorção de fatos.

É sempre necessário repetir que apurar dados, confirmar informações, verificar fontes, consultar publicações (livros, principalmente, mas também páginas oficiais, textos completos de projetos e de leis) não são ataques à liberdade de expressão ou censura, ao contrário, são medidas de cuidado e prevenção à desinformação usada de maneira tática e maldosa para destruir reputações e propagar falsidade. Redes sociais ajudam muito a entender a realidade das pessoas com deficiência, principalmente quando as publicações são genuínas, honestas, e geram reflexão sobre esse universo, a função da acessibilidade e o poder positivo da inclusão, mas é um campo desenfreado e usado sem qualquer responsabilidade com a qualidade da informação.

Na próprias redes sociais, quem aplaude a decisão de Mark Zuckerberg diz que os incomodados devem extinguir seus perfis, mas ainda isso seja feito, a desinformação permanece e sim, teremos problemas, muitos.

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