O vereador Zezinho Lima (PL), do município de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém (PA), fez uma polêmica declaração a respeito de religiões de matriz africana. Em sessão especial da Câmara Municipal sobre os 50 anos da Igreja do Evangelho Quadrangular no Pará, o político afirmou não participaria de homenagens da casa legislativa a terreiros.
Na sessão realizada em 30 de novembro, o vereador se autodenomina como "defensor das pautas de direita, conservadoras e cristã" e dispara: "Eu vou participar desse tipo de evento, evento que tenha Deus. Não me convidem para sessão especial para homenagear terreiro de umbanda, candomblé, essas coisas, pois Zezinho Lima não estará, estará onde estiver Deus presente", afirma.
A Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará (OAB-PA) informou à Alma Preta Jornalismo que vai denunciar Zezinho à Comissão de Ética da Câmara Municipal de Ananindeua, além de representar o vereador criminalmente no Ministério Público Federal (MPF) e ajuizar uma ação de indenização cível.
A reportagem pediu um posicionamento oficial da Câmara Municipal de Ananindeua a respeito da declaração do vereador, mas até a publicação deste texto não houve resposta.
Em março, Zezinho foi um dos vereadores que não compareceu à sessão da Câmara que batizou uma via de Ananindeua como Rua Pai Ayrton Soeiro, em homenagem ao sacerdote de matriz africana mais antigo do município. Há 60 anos, a via abriga o terreiro fundado por Pai Ayrton, o Teucy - Ilê Ase Oyá Egunitá - Mansu Manso Bando Keke Bisneta.
Confira a fala do vereador Zezinho Lima na íntegra:
"Não poderia deixar de registrar que eu sou o vereador defensor das pautas de direita, conservadoras e cristã, porque não é fácil defender essas pautas. Sei que a luta das igrejas é muito grande e a maior prova disso é o crescimento da Igreja Quadrangular. E parabenizar a todos os senhores. Não é fácil ser o vereador que defende as pautas cristãs. Sou o vereador que defende, por exemplo, a não participação das crianças e adolescentes na parada gay, porque entendo que a participação de crianças é na escola e dentro da igreja. Você pode contar comigo sempre Pastora Rai [vereadora e requerente da sessão], porque eu vou participar desse tipo de evento. Evento que tenha Deus. Não me convidem para sessão especial para homenagear terreiro de umbanda, candomblé, essas coisas, pois Zezinho Lima não estará, estará onde estiver Deus presente. Muito obrigado. Parabéns, Igreja do Evangelho Quadrangular! Viva o pastor Josué Bengston e viva todos os senhores. Deus abençoe!".
Denúncia por violência contra a mulher
Eleito vereador de Ananindeua com 2.475 votos pelo Partido Liberal (PL), José Maria de Lima Segundo, o Zezinho Lima, tem uma trajetória política e pessoal marcada por controvérsias. Ele foi condenado pela Lei Maria da Penha após a ex-companheira registrar Boletim de Ocorrência (BO) em 2021 por ameaças. A Justiça Estadual do Pará o condenou e determinou Medida Protetiva para a vítima.
Pesquisa no site Jusbrasil aponta 49 processos que citam o vereador, incluindo pedidos de medida protetiva, crime de descumprimento de medida protetiva, violência doméstica contra a mulher, ameaça, crime contra a honra, calúnia, difamação e injúria.
Zezinho também responde a acusações no âmbito do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PA) e tem mandato marcado por falas polêmicas, que já tiveram como alvo mulheres, pessoas em situação de rua e descumprimento de medidas de proteção contra a covid-19 durante a pandemia.
Em junho deste ano, durante ato de mulheres por segurança em frente à Camara Municipal de Ananindeua, após o registro de cinco casos de feminicídio na Grande Belém no período de duas semanas, Zezinho disse na tribuna: "Essas mulheres vieram aqui com atitude completamente desrespeitosa… Eu não sei se elas estão desde ontem no Arraial do Pavulagem, sem dormir, fumaram aquela maconha, típico de militantes do Psol".
A Alma Preta solicitou atualizações ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA) e ao TRE-PA sobre o andamento dos processos contra o vereador de Ananindeua, Zezinho Lima, e aguarda um retorno.
Igreja do Evangelho Quadrangular
A Igreja do Evangelho Quadrangular é presidida pelo pastor e ex-deputado Josué Bengtson, condenado em 2018 por enriquecimento ilícito em esquema de desvio de recursos da saúde no Pará.
Em maio de 2023, um avião pertencente à igreja foi apreendido em Belém pela Polícia Federal com 290 quilos de maconha. Além disso, em 2020, durante uma pregação religiosa, Josué atacou as cotas raciais em universidades. Ele afirmou que "não entraria em um avião em que um piloto fosse cotista". "É por isso que de vez em quando cai um avião. Em 99% das vezes, a culpa é do piloto. Ele errou alguma coisa", afirmou.
Josué também é proprietário da Fazenda Cambará, em Santa Luzia, nordeste paraense, reivindicada para reforma agrária desde 2007 por se tratar de terra pública grilada. A área é administrada pelo filho do pastor, Marcos Bengtson, que responde pelo assassinato de um agricultor dentro da fazenda. Ele também é acusado de destruir equipamentos do acampamento Quintino Lira, utilizados pelos trabalhadores rurais na produção familiar.
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