Em sessão ordinária realizada na última terça-feira (26), em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, um parlamentar usou o termo "viado" ao se referir ao autor do projeto de lei que pretende proibir a discriminação sexual e de gênero no município. A fala foi proferida por Jojó Guerra (PL-PE) ao se referir a iniciativa e ao perfil do vereador Vinicius Castello (PT-PE), chegando a complementar que o mesmo "apesar de viado, é muito mais homem".
"Eu acho que, nesse momento, posso falar isso, se você declara que você é um viado, né? E aí, eu acho que você tem feito esse papel. Você tem defendido o que você escolheu. É direito seu, né? Diferentemente de outras pessoas, você, como viado, pode ser muito mais homem", declarou Guerra.
Antes de concluir a sua fala, o vereador foi interrompido pelo presidente da Câmara, Saulo Holanda (SD-PE), que afirmou não entender a forma em que o parlamentar estava se referindo ao colega e que abriria uma denúncia no conselho de ética da Casa.
"É bom ter o respeito aqui dentro da Casa. O senhor tá com quebra de decoro aí. Respeito é respeito. Cada um tem seu compromisso com sua igreja e com sua religião, mas respeito aqui dentro. O senhor já faltou com o respeito na outra sessão. Eu vou abrir [uma denúncia no] conselho de ética contra o senhor", declarou assertivamente o presidente.
Sobre o ocorrido, o vereador Vinicius Castello publicou em suas redes sociais um vídeo com trechos da sessão juntamente com uma nota. No texto oficial, o parlamentar aponta que o projeto de lei já sofre perseguição por parte de fake news, que associam a iniciativa de combate à discriminação com o objetivo de inserir placas LGBTQIA+ em igrejas.
Em conversa com a Alma Preta Jornalismo, Castello ainda aponta que o intuito seria, além de deslegitimar o projeto, a ação visa fazer com que a população cristã passe a odiá-lo e que as demais autoridades se sintam pressionados a se posicionar contra a iniciativa.
"Isso é danoso até para a atividade legislativa, ir contra a um projeto que prevê igualdade e combate à violência contra quem segue em quadro de vulnerabilidade, sob a justificativa de que é contra 'em nome de Deus'. Isso é uma narrativa falsa, que acaba prejudicando o apoio institucional. Uma postura que é nociva para as atividades internas", aponta o vereador.
Com direito de resposta ainda durante a sessão, o parlamentar também se posicionou afirmando que a perseguição contra ações como a sua proposta são frutos de práticas homofóbicas.
"O senhor, inclusive, enquanto representação da igreja, e todos os demais parlamentares deveriam chegar em casa e se questionarem por que é que as igrejas querem que a gente condene Vinicius Castello? Para mim, só tem uma resposta. É porque eu sou uma pessoa assumidamente LGBT", denunciou.
Via rede social, Jojó Guerra publicou um vídeo e uma nota para dar a sua versão do ocorrido, afirmando que em nenhum momento se referiu ao parlamentar com a intenção de ofendê-lo. Ele complementou que, em mais de um ano de convívio, sempre o respeitou.
"Reafirmo meu sentimento de respeito com o parlamentar e qualquer um que tenha se ofendido. Contudo, estamos sendo diariamente atacados por pessoas que estão incomodadas com o nosso trabalho e se aproveitam de situações como esta para me atacar", afirmou.
No entanto, ainda em vídeo, Guerra reafirmou que não votaria em projetos em apoio à comunidade LGBTQIA+ por seguir em apoio aos valores cristãos e à "preservação da família".
Apesar da polêmica envolvendo o discurso do vereador, o projeto foi aprovado. Como expectativa, Castello explica que a próxima etapa é conseguir orçamento para que as atividades de combate à discriminação saiam do papel e passem a ser aplicadas.
"É preciso que haja uma articulação, mobilização e conscientização da importância do PL para que tenhamos orçamento. É preciso que se entenda que o projeto deve ser propagado no intuito de, por exemplo, ser uma ferramenta de suporte, para que as pessoas violentadas saibam quem acionar, quais serão os responsáveis e, através disso, terem um canal de defesa. Essa é uma pauta que não pode ser esquecida e, sim, combatida", finaliza.
"Macaco": pré-candidato à presidência, Léo Péricles é alvo de racismo