"Virar mochileira depois dos 50 anos salvou a minha vida", conta viajante que já percorreu 21 países

Para enfrentar uma depressão, Marcia Reis decidiu ir sozinha para Arraial do Cabo (RJ), tomou gosto pela coisa e nunca mais deixou de viajar

14 out 2024 - 05h00
Resumo
Marcia Reis, aposentada de 61 anos, inspira outras pessoas 50+ a viajarem com sua página no Instagram @coroamochileira.
"Vi nos mochileiros a oportunidade de viajar dentro da minha realidade financeira", conta a aposentada; a foto foi tirada na Irlanda
"Vi nos mochileiros a oportunidade de viajar dentro da minha realidade financeira", conta a aposentada; a foto foi tirada na Irlanda
Foto: Acervo pessoal/@coroamochileira

Uma das maiores vontades da pedagoga aposentada Marcia Reis, 61 anos, ao percorrer a Turquia era conhecer o chamado Pamukkale, na cidade de Denizli. Trata-se de um conjunto de piscinas termais de origem calcária que, com o passar dos séculos, formaram bacias gigantescas de água que descem em cascata numa colina. O efeito, pelo menos nas muito bem tratadas e caprichadas imagens da internet, é deslumbrante. Ao vivo, no entanto, a magia esperada deixou bastante a desejar. 

Quando estava deixando o local, desapontada, Marcia passou por uma barraca que alugava asas pra tirar fotos. Cada uma custa 8 euros, mas a viajante já tinha economizado ao contratar o passeio e disse a si mesma: e por que não? Tirou várias e fez "do limão uma deliciosa limonada": voltou para o hotel se sentindo sexy, renovada e feliz.

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Olhar cada vivência por um viés positivo, ressignificar frustrações e agir com resiliência, serenidade e, claro, sagacidade têm sido comportamentos constantes desde que Marcia, dona da página do Instagram @coroamochileira, resolveu viajar pelo mundo. Em 2018, quando decidiu visitar sozinha Arraial do Cabo (RJ), não parou mais e viu a vida dar uma guinada extremamente positiva.

6 frases que parecem elogio, mas são etaristas 6 frases que parecem elogio, mas são etaristas

Hoje, ela soma a impressionante marca de 22 estados brasileiros e 21 países visitados. "Virar mochileira não era a opção inicial. Era só viajar. Mas ter descoberto que não tinha grana para viajar da maneira que queria me fez buscar outras opções. Vi nos mochileiros a oportunidade de viajar dentro da minha realidade financeira", conta ela, por WhatsApp, enquanto conhece a Espanha. O próximo destino ainda é incerto, mas o sonho maior é visitar a Tailândia.

Economia e etarismo

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Solteira, duas filhas e sem netos, Marcia tem pago suas aventuras com o valor da aposentadoria. "Como não ganho muito, fui complementando com a venda de itens que tinha em casa, de roupas e calçados até móveis", diz, referindo-se à moradia que conserva em Resende, no interior do Rio de Janeiro. A renda da venda do livro "Aventuras de Mochila", disponível na plataforma Hotmart, ajuda a cobrir as despesas, que também recebem a colaboração de algumas pessoas.

Marcia Reis em Istambul, na Turquia: dicas para mochileiros de todas as idades em página no Instagram
Foto: Acervo pessoal/@coroamochileira

Ela busca formas mais baratas viajar, como dormir em albergues, faz alguns trabalhos - cozinhar, por exemplo - em troca de hospedagem e caminha bastante a pé. Não raro, é alvo de comentários etaristas. 

"No começo, minhas filhas acharam que eu estava ficando doida. Me disseram para ir procurar algo para me ocupar, como fazer tricô ou estudar uma nova profissão. Mas eu tinha descoberto há pouco tempo que estava numa depressão muito grande e, se continuasse em casa, algo mais sério poderia acontecer. Começar a viajar literalmente salvou a minha vida. Quanto aos outros, bom, os outros são os outros. Ouço as opiniões, mas escuto mesmo só o meu coração", afirma.

Situações etaristas costumam ser levadas numa boa. "A pior foi ser barrada no hostel por ter mais de 40 anos. Jovens que me ignoram por achar que sou 'careta'? Encontrei vários. Mas, depois de descobrirem o que faço e olharem meu Instagram, mudam de opinião. Aí, vejo uma admiração e um desejo de chegarem à minha idade como eu", celebra.

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Cuidados para segurança

Marcia sabe que uma mulher viajando sozinha pode ser arriscado em alguns lugares e circunstâncias. Como medidas de segurança, não caminha por ruas desertas, evita chegar nos lugares à noite, busca pedir informações apenas a pessoas uniformizadas ou trabalhadores do comércio e procura sempre ter acesso à internet.

"Não bebo, então sair à noite é mais difícil. Quando saio, vou acompanhada de outros turistas que estão no hostel comigo. Outra medida que sempre tomo é procurar me hospedar perto dos locais mais movimentados e com facilidade de usar o transporte público", comenta.

Pose diante da igreja Sagrada Família, em Barcelona: "A vida é curta para perder tempo se aborrecendo com a opinião dos outros"
Foto: Acervo pessoal/@coroamochileira

Para ela, os maiores obstáculos para se tornar uma mochileira 50+ como ela vêm das próprias pessoas 50+. "A grande maioria acredita não ter condições físicas, financeiras e, principalmente, emocionais para se jogarem no mundo das viagens. Os medo as deixam paralisadas. Medo de não conseguir se entrosar, de não saber se virar, de se perder... Medos de vários perigos que, na realidade, não existem", diz ela, que ao longo do caminho vai colecionando amigos de todos os cantos. "Meu lema é: está com medo? Vai com medo mesmo!". 

Entre tantas andanças e tantas coisas maravilhosas que teve a chance de contemplar, o maior ganho de Márcia, até agora, foi encontrar o lugar mais feliz dentro de si mesma, na própria pele.

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"Tenho aprendido muito sobre a vida, sobre a maturidade e sobre mim. Por exemplo, pensar primeiro em você é o certo. A vida é curta para perder tempo se aborrecendo com a opinião dos outros. Tenho o direito de ser e fazer tudo o que tenho vontade e de ir onde e com quem quero. Ser feliz é meu direito acima de tudo e de todos. Ninguém pode ser impedido de ser feliz", conclui.

Fonte: Redação Nós
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