Vítima de estupro coletivo foi culpabilizada por médico e teve que brigar por aborto legal

Vítima relembra, no programa Terra Agora, como foi negligenciada em instituição de saúde e relata traumas que carregou após violência

20 jun 2024 - 17h12
(atualizado em 21/6/2024 às 09h09)
Resumo
Uma mulher, que não teve a identidade revelada, contou ao programa Terra Agora que foi vítima de estupro há 13 anos e engravidou. Após o ocorrido, ela andou nas ruas sozinha e ensanguentada até chegar em casa. Ela conseguiu realizar o aborto legal e hoje está grávida de uma menina.
A mulher, que não foi identificada, tinha 20 anos quando foi estuprada por, pelo menos, três homens
A mulher, que não foi identificada, tinha 20 anos quando foi estuprada por, pelo menos, três homens
Foto: Imagem de Freepik

A vítima, que pediu para não ser identificada, tinha 20 anos quando sofreu um estupro coletivo. Há 13 anos, ela decidiu ir a uma festa da faculdade que cursava. Foi lá que a mulher sofreu um estupro coletivo. "Eu não me recordo de tudo porque eu fui 'medicada'. Foi o equivalente 'boa noite Cinderela', que eles chamam", iniciou o relato, que foi dado com exclusividade para o programa Terra Agora, apresentado por Cazé Pecini toda quinta-feira, às 17h, no youtube.

Apesar de não se lembrar do número exato de agressores, ela sabe que foi pelo menos três. Durante a agressão, que se iniciou na madrugada e terminou de manhã, eles também usaram objetos para violentá-la. A entrevista teve produção de Aline Andreoni e foi conduzida pela jornalista Luciana Pioto.

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Quando a violência acabou, ela foi para casa sozinha e a pé. "Eu estava sem bolsa, sem dinheiro, sem nada", relembrou. Enquanto andava na rua, não recebeu de ninguém, mesmo ensanguentada. "Eu estava com uma blusa rasgada, com sangue, com o rosto cortado, com o nariz sangrando e com a boca toda cortada", contou.

Segundo a vítima, ela mancava na rua e tinha duas costelas quebradas. "Eu não estava bem e ninguém prestou socorro, ninguém perguntou 'quer que chame uma ambulância?', 'quer que chame a polícia?'. Eu sei que eu andei mais ou menos 5 ou 6 km até chegar em casa", desabafou.

A mulher ainda disse no programa Terra Agora que, após chegar em casa completamente machucada, a amiga que morava com ela entrou em pânico ao ver a situação e a ajudou, chamando a mãe. "Eu fui levada para o hospital e eles chamaram a polícia. Quando é um caso de abuso sexual, eles [os médicos] têm que informar".

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Equipe médica

No hospital, foi atendida por um médico "extremamente grosseiro" que a culpabilizou pelo ocorrido. "'Ah, mas olha a roupa que você está vestida', 'mas você foi na festa sozinha', 'o que você bebeu?", relembrou as falas do profissional.

A mãe de sua amiga interrompeu o médico e exigiu uma médica ou enfermeira para conduzir o resto do atendimento e realizar o exame para verificar a existência de lacerações.

"É basicamente para ver se você não está mentindo, porque, segundo o médico, eu poderia ter tido sexo consensual um pouco mais violento com um rapaz e teria me arrependido por estar bêbada. E eu falei que não foi só um rapaz. Daí ele falou, 'está vendo? Por isso você se arrependeu'".

"Ele basicamente afirmava que eu tinha feito sexo grupal e as coisas saíram do meu controle. Quando chegou na enfermeira, ela foi um pouco mais humana", contou a vítima.

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Descoberta da gravidez

Um tempo depois, quando estava na companhia da mãe, a vítima descobriu que estava grávida. Na época, a mãe comprou um exame de farmácia. "Para a nossa total surpresa, tristreza e depressão, vieram os dois risquinhos. Eu estava de 8 a 9 semanas de gestação", afirmou.

A reação após descobrir a gravidez foi a de tentar se matar. Ela se recusava a chamar o feto por essa nomenclatura e se referia a ele como "coisa". "Eu tinha plena convicção que não queria aquela coisa dentro de mim. Eu não queria que aquilo crescesse mais".

Aborto

A mãe da vítima, então, entrou em contato com uma advogada para que a vítima conseguisse realizar o procedimento de interrupção de gravidez. O hospital em que ela estava internada pela tentativa de suicídio não quis fazer o aborto. "Então, foi feito um pedido de urgência", contou.

A vítima e a mãe foram mandadas para o hospital público de Gioânia. "Tentaram me fazer mudar de ideia, que podia dar para a adoção, que eu não precisava nem ver a cara", disse. Mas essa não era sua vontade. No dia seguinte, passou pelo procedimento.

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"Depois que acabou todo esse ciclo, foi quando eu voltei pra casa. E comecei a fingir que nada tinha acontecido", afirmou a vítima, que tentou suicídio novamente em 2016 e passou por um longo processo terapêutico.

Hoje, casada e grávida de uma menina, que deve nascer em setembro deste ano, vive um dia de cada vez. Questionada sobre como se sente ao gerar uma menina, ela respondeu: "Eu tinha um verdadeiro pânico de gerar um menino, porque uma menina eu consigo proteger, ensinar".

"Eu tinha medo de gerar um futuro estuprador, entendeu? Porque assim é a mãe das pessoas que me

machucaram. As mães poderiam ser mulheres maravilhosas, que educaram muito bem seus filhos, sabe? Nunca aconteceu nada com eles, nunca ninguém descobriu quem eram. Mas imagina a dor de você saber o tipo de pessoa que seu filho pode ser?", afirmou.

Clique aqui para assistir o programa Terra Agora.

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Fonte: Redação Nós
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