Foi em uma sala de hospital, após sofrer um infarto, que Letícia Lanz escolheu viver verdadeiramente quem era de fato. A economista, psicanalista, mestre em Sociologia com especialização em Gênero e Sexualidade viu a morte de perto e, naquele momento, decidiu colocar um ponto final na vida dupla que levava até então.
Em entrevista ao Terra NÓS, a psicanalista contou que transicionou apenas aos 50 anos de idade, apesar das dificuldades e dos olhares tortos que teve de lidar na época. Hoje, aos 70, segue feliz, casada com a mesma mulher há 45 anos e em um lar cheio de amor e respeito.
“Ninguém entendia porque eu queria transacionar e continuar me relacionando com mulher. Mas as pessoas mais próximas tinham curiosidades específicas. Queriam saber se contiuávamos dormindo juntas e como era o sexo”, explica.
Segundo Letícia, ela e a companheira, a psicóloga Angela Autran, levaram na brincadeira os comentários preconceituosos. "Senão não iríamos aguentar as pressões, que eram muitas e idiotas”, destaca.
Juntas, a psicanalista e a psicóloga têm três filhos e cinco netos e seguem se conhecendo e se escolhendo. "É possível ser uma mulher trans, casada e com filhos e eu nunca abri mão dos meus papéis dentro da família", pontua.
“Para meus filhos pouco importa como eu estou vestida, desde que eu seja a pessoa que vá cumprir o papel na família. Sempre fiz questão de continuar sendo chamada de pai e de avô. Meus netos nunca me conheceram de outra forma, para eles eu sou a vovô Letícia”, conta.
A escritora, que possui na sua bagagem diversos livros publicados como "A construção de mim mesma: Uma história de transição de gênero", fez questão de deixar uma mensagem positiva para os leitores do Terra NÓS: “Deixem as pessoas serem como elas são que elas serão o melhor o que elas puderem ser”.