Escalado por Jair Bolsonaro para representá-lo na investigação sobre Adélio Bispo de Oliveira, o advogado Frederick Wassef afirmou que o autor do atentado a faca contra o presidente há mais de um ano, ainda durante a campanha eleitoral, é um "assassino profissional" e que "foi pago para isso". "Uma organização criminosa tentou assassinar Bolsonaro", afirmou ao Estadão.
Wassef já atuava na defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, nos processos que tratam de movimentação atípica nas contas do parlamentar e do seu ex-auxiliar, Fabrício Queiroz.
Questionado sobre a declaração do novo procurador-geral da República, Augusto Aras, que defendeu um aprofundamento das investigações sobre Adélio em entrevista ao Estado, elogiou. "Tem razão na íntegra o que o nobre PGR disse."
O senhor tem se encontrado com o presidente da República?
Minhas idas ao Palácio da Alvorada foram de natureza jurídica, quando o presidente resolveu me constituir advogado dele. Entendo que qualquer cidadão brasileiro, quando ele sofre um crime - e não é porque é o Jair Bolsonaro -, ele tem direito a ter um advogado para atuar como assistente de acusação. Para acompanhar o caso tanto em delegacias, acompanhas as diligências policiais, acompanhar junto ao MP. E posteriormente junto a uma ação penal, na qualidade de assistente de acusação. Basicamente é isso.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, disse acreditar que o caso Adélio merece aprofundamento, para se apurar teve mandantes. O que o senhor acha disso?
Tem razão na íntegra o que o nobre PGR disse.
E foi um erro, na sua avaliação, não recorrer do arquivamento do caso em Minas Gerais?
Houve um equívoco em não ter recorrido, para não deixar transitar em julgado, para não deixar morrer. Teve algum membro da AGU (Advocacia-Geral da União) que acompanhou passo a passo, hora a hora? Eu acho pouco provável que um membro da AGU, que são normalmente pessoas extremamente qualificadas, vendo como essa questão ocorreu, que qualquer um sabe que não é factível de ser verdade, que essa pessoa não fosse recorrer, não apelar e deixar transitar em julgado. Isso não tem cabimento nenhum.
O que era necessário provar nesse processo?
Era necessário provar que Adélio não é, e nem nunca foi, louco. É um assassino profissional e foi pago para isso. Eu ainda não tive tempo de ir até Juiz de Fora (MG) tirar as devidas cópias, estudar, fazer um diagnóstico mais preciso, para poder falar com mais precisão, de forma mais acertada. Mas o fato é que sabiam que em algum momento (se o caso não fosse arquivado) ele (Adélio) poderia fazer uma delação premiada. Aí sim poderia ter um grande escândalo nacional, que é uma organização criminosa que mandou matar o presidente da República. Isso é de uma gravidade singular.
Qual vai ser o caminho, a partir de agora, para se tentar chegar a eventuais mandantes ? Vai contratar perícia particular?
Nenhuma hipótese está descartada. Vamos usar o que tiver à disposição. Agora não dá para falar nisso. Primeiro vai ser preciso analisar o processo, ver as cópias, analisar, estudar as falhas e omissões para ter um diagnóstico preciso para, a partir daí, definir uma estratégia de trabalho e ação junto com a Polícia Federal e o Ministério Público.
A confiança do presidente no senhor se deve muito ao êxito no caso Flávio, especialmente com as duas vitórias no Supremo?
Isso na verdade não tem vínculo com o fato de eu estar atuando para o Flávio. Eu conheço o presidente desde 2014. Já advoguei para o presidente no passado, inclusive no caso Maria do Rosário. E o presidente sabe que sou uma pessoa leal e de confiança. Sabe que sou uma pessoa íntegra e honesta. A relação é basicamente essa. De confiança e integridade
Mudando de cliente. Se houve descumprimento da decisão do Supremo (de paralisar as investigações contra Flávio), procuradores devem ser punidos?
Eu sou um advogado que tenho o máximo de respeito ao Ministério Público enquanto instituição, assim como ao Poder Judiciário. Não cabe a mim dizer o que deve acontecer com autoridades públicas que transgrediram normas ou regras. Eu acho que cabe ao órgão fiscalizador do Ministério Público que, ao constatar que Flávio Bolsonaro foi vítima de ilegalidade, de quebra de sigilo bancário e fiscal sem autorização da Justiça, apurar as circunstâncias em que isso ocorreu e ter certeza do nível da circunstância. É preciso apurar a irregularidade para depois se falar em punição. Não podemos ser prematuros.
O senhor vai pedir a nulidade do caso Flávio?
Isso já foi requerido. Nós impetramos alguns meses atrás um habeas corpus no Rio de Janeiro. Habeas corpus esses que estão suspensos, onde apontamos as inúmeras irregularidades e os vícios cometidos. Vale à pena ressaltar que a investigação contra Flávio Bolsonaro durou um ano e meio, e durante todo esse período nada foi encontrado. E, ao contrário do que foi propagado, as autoridades tiveram acesso aos extratos e viram que nunca teve depósito nas contas de Flávio Bolsonaro oriundo de qualquer pessoa. Seja de Fabrício Queiroz, seja de qualquer assessor. Não existe isso. Seus recursos são de seu salário enquanto parlamentar e de suas empresas. Tudo devidamente declarado na Receita Federal. Não existe qualquer movimentação atípica. Fabrício Queiroz já foi ao MP dizer que nunca repassou qualquer recurso ao Flávio. Além disso, tem a prova incontestável dos extratos nas mãos do MPRJ. Então temos um cidadão brasileiro, inocente, que sempre combateu corrupção, que foi massacrado por dez meses porque um ex-assessor teve uma movimentação financeira considerada atípica. Que, lembrando, atípica não quer dizer que teve crime.
Mas, independente do que diz ou não o MP, havia rachadinha no gabinete do Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio?
Jamais! Isso é uma farsa, é uma mentira. É irresponsável falar isso. As autoridades públicas do Rio já quebraram o sigilo de forma ilegal, já têm todas as informações, esse dinheiro nunca entrou nas contas de Flávio. Todo seu crescimento patrimonial é absolutamente compatível com suas rendas declaradas na Receita Federal e não há nenhuma irregularidade.
O senhor coloca a mão no fogo pelo Queiroz também?
Eu não estou pondo a mão no fogo por ninguém, eu estou apenas dizendo que os elementos que estão nos autos que eu estudei mostram, de forma clara, objetiva, inequívoca, que não existiu rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro. Isso não é minha opinião, é a narrativa de um fato verídico.
Se há certeza da inocência, por que pedir para trancar as ações sobre o caso? Não seria melhor ter uma absolvição na Justiça?
A resposta é muito simples. Flávio Bolsonaro foi investigado por um ano e meio e nada foi encontrado. E ele foi submetido a todo tipo de ilegalidade nesse um ano e meio e a um massacre midiático. Agora, ele tem que se permitir ser violado e destruir sua imagem e reputação para provar que ele é inocente? Não faz sentido? Nós, da defesa técnica, o próprio senador, jamais quisemos interromper qualquer investigação. Pelo contrário, nós só pedimos que as regras fossem cumpridas, que as leis fossem cumpridas. Porque não é razoável, num estado democrático de direito, quebrar regras em nome de uma investigação. E isso não é para o Flávio, é para todo o cidadão brasileiro.
O que existe de folclore e de verdade na sua relação com o presidente?
A minha relação com o Bolsonaro é uma relação normal. Eu vou ser bem sincero. Uma vez eu vi esse homem falando. Quando eu vi esse homem falando, eu ali, na hora, identifiquei um herói nacional. Era 2014. Minha relação com ele nasce em 2014. Minha relação com ele já nasce como advogado, já nasce profissional. Bolsonaro é humilde, é simples, é do bem, tem uma alma boa, uma pessoa carinhosa, ama todo mundo, e é um brasileiro taxado de forma dogmática como homofóbico - mentira, porque ele não é -, nazista - mentira, porque ele não é -, ditador militar - mentira, porque ele não é -, e tantas outras mentiras. Para completar, vem o tema Maria do Rosário. Para mim foi o estopim.