Alas do governo se unem contra indicação de Kassio Marques

Principal incômodo na base, que fala em 'decepção', é que nome do desembargador agrada ao Congresso e a membros do Supremo

2 out 2020 - 17h21
(atualizado às 17h27)

Ao confirmar a indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira, 1º, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu o feito de criar um consenso entre militares, ideológicos, evangélicos e auxiliares considerados técnicos. Em rara concordância nos bastidores, relataram desapontamento com o nome escolhido e surpresa com a rapidez da confirmação. O decano Celso de Mello se aposentará no dia 13 de outubro.

Alas do governo se unem contra indicação de Kassio Marques
Alas do governo se unem contra indicação de Kassio Marques
Foto: Gabriela Biló / Estadão Conteúdo

Após o anúncio na transmissão ao vivo nas redes sociais, a militância digital tratou de resumir o sentimento colocando a palavra "decepção" entre os assuntos mais comentados no Twitter. O principal incômodo na base é que Kassio Marques agrada ao Congresso e a membros do STF, com quem há pouco tempo o governo e a militância trocavam farpas.

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A indicação de Marques foi selada em um encontro na casa do ministro Gilmar Mendes com a presença de Dias Toffoli, que presidiu a Corte até o mês passado. O arranjo foi feito pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que trabalha por sua reeleição no Senado e se colocou como o principal articulador para aprovar o nome escolhido por Bolsonaro. Para ser nomeado, o desembargador precisará dos votos de 41 dos 81 senadores.

A avaliação no Planalto, logo após a confirmação, é que a reação nas redes sociais já é pior do que as críticas pela indicação de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República, no ano passado. Supera até mesmo a ocasião em que o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, deixou o governo.

Desde que o favoritismo de Marques, desembargador do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, foi divulgado, auxiliares de confiança do presidente tentaram oferecer alternativas, segundo apurou o Estadão. Até as últimas horas, alguns integrantes do primeiro escalão esperavam uma reviravolta diante da "fritura".

Apoiadores fizeram chegar ao WhatsApp presidencial informações que, na visão deles, depunham contra o desembargador. Foi em vão. Decidido por Marques, o presidente, então, foi aconselhado a formalizar a indicação o quanto antes e evitar um desgaste ainda maior de seu protegido, que já vinha sendo alvo da ofensiva nas redes.

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Indicado com a bênção do Centrão, o empenho de Alcolumbre e com a chancela de Gilmar Mendes e Dias Toffoli, Marques se tornou imbatível, segundo interlocutores do governo, por ter o apoio do senador Flávio Bolsonaro (Repúblicanos-RJ). O primogênito do presidente é investigado no caso envolvendo seu ex-assessor Fabrício Queiroz e as "rachadinhas" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e que pode chegar à Corte. A participação direta de Flávio na escolha de Marques foi confirmada ao Estadão por pessoas próximas ao senador e interlocutores do Planalto no Congresso.

No governo, até os auxiliares mais próximos do presidente não souberam explicar a relação de confiança com o desembargador. Ao Estadão, um ministro justificou que Bolsonaro conhece o magistrado, reconhecido pela habilidade política, desde os tempos em que era deputado. Segundo esse auxiliar, quando o presidente mencionou que queria um ministro do Supremo que "bebe cerveja" era a Nunes que se referia. Na live nesta quinta-feira, o presidente disse: "Kassio Nunes já tomou muita tubaína comigo".

Nos últimos meses, o desembargador percorria gabinetes em Brasília em busca de apoio a uma vaga para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), que se abrirá com a aposentadoria do ministro Napoleão Nunes Maia em dezembro. Foi assim que há dois meses teria estreitado relações com Flávio Bolsonaro e abriu caminho para ganhar a indicação para o Supremo.

Durante a transmissão, Bolsonaro rebateu ponto a ponto críticas que foram feitas a Marques, como o fato de em uma decisão ter liberado a compra de lagostas e vinhos premiados no Supremo e pelo voto que impediu a deportação do italiano Cesare Battisti, em 2015. "O desembargador Kassio apanha pela questão do cardápio. Sobre o Battisti mandei averiguar qual foi a participação dele nesse caso. É impressionante como esculhambam com as pessoas sem comprovação de nada. Quem decidiu foi o STF, não foi ninguém do TRF1", afirmou.

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Bolsonaro também defendeu Marques das acusações de ser "petista" e "comunista". Ele foi indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff ao TRF-1 com o apoio do governador do Piauí, Wellington Dias (PT). "Com tantos anos de PT, todo mundo teve alguma relação com eles. Não é por causa disso que o cara é comunista, socialista", rebateu Bolsonaro.

Embora também alvo de críticas, o presidente só não justificou a costura com Gilmar, Toffoli, Alcolumbre e o Centrão, com atuação do senador Ciro Nogueira (PP-PI), tampouco a participação do filho Flávio Bolsonaro na escolha.

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