Nova unidade vai contar com soldados da ativa para proteger portos, ferrovias e gasodutos. País se prepara para ser base operacional da Otan em caso de conflito com a Rússia.As Forças Armadas da Alemanha afirmaram neste sábado (11/01) que o país vai estabelecer uma nova unidade de forças terrestres dedicada à proteção da infraestrutura crítica e de instalações militares dentro do país.
Atualmente, a Alemanha tem três divisões que podem ser convocadas pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em caso de conflito, cuja tarefa principal será defender a aliança ao confrontar um possível adversário diretamente na linha de frente. Estas divisões existentes podem ser implantadas nas fronteiras externas da Otan, sob comando da organização, como um elemento dissuasório.
Já a reorganização, que entrará em vigor em abril, aumentará o número de divisões militares alemãs para quatro, sem mudar o atual efetivo de cerca de 180.000 soldados.
A nova estrutura ficará sob o comando do Exército. O objetivo é garantir a segurança de portos, ferrovias e rotas de abastecimento e energia dentro do país, hoje supervisionado pelos estados e com militares da reserva.
Por que isso está acontecendo agora?
A Alemanha está se preparando para o seu papel de centro logístico em um possível conflito direto com Moscou.
A Otan tem atuado em seu maior estado de alerta desde o fim da Guerra Fria, com alguns de seus membros mais pessimistas, como o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, afirmando que países da aliança podem ter que conter um ataque da Rússia em seu território em até quatro anos.
Se isso acontecer, dezenas tropas de aliados da Otan precisariam atravessar a Alemanha para chegar ao leste europeu.
Com isso, Pistorius ordenou no ano passado uma reorganização do Exército nacional para fortalecer suas capacidades de defesa com um comando operacional unificado.
Sua criação está alinhada com o Decreto de Osnabrück, de maio de 2024, que visa tornar a Alemanha pronta para uma guerra contra a Rússia. Na época, o ministro disse que o país precisava se preparar para uma guerra defensiva.
O que muda?
Embora a Alemanha já tenha unidades de defesa nacional, estas geralmente são inativas e compostas por reservistas, ficando sob o controle de comandos dos estados alemães. A medida mais recente tornará essas unidades semi-ativas, sob o comando do exército, com soldados ativos e reservistas.
Esta é apenas a quarta vez que o Exército alemão passa por uma reorganização em sua história. Segundo o governo alemão, o decreto fornece "a base formal para uma organização de liderança pronta para a guerra."
A nova unidade deve contar com cerca de 6.000 militares até a metade do ano, antes de ser expandida ainda mais. As Forças Armadas alemãs atualmente contam com mais de 260.000 pessoas, incluindo os funcionários civis. Isso inclui o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, além de serviços médicos e outros serviços de apoio.
Embora a criação de uma nova unidade militar tenha sido inicialmente congelada após o colapso do governo de coalizão em novembro, os preparativos continuam.
A aliança conservadora CDU/CSU da Alemanha, que lidera as pesquisas para as eleições parlamentares de 23 de fevereiro, afirma que deseja ir além do modelo já proposto pelo governo de centro-esquerda do chanceler federal alemão Olaf Scholz.
O que a força fará?
As Forças Armadas das Alemanha afirmam que a divisão de defesa nacional será encarregada da proteção de portos, instalações ferroviárias e pontos de embarque de cargas, bem como de oleodutos e gasodutos. Ela também guardará estradas para o deslocamento de tropas, pontes, centros de transporte e infraestrutura digital, disse o exército.
Essas capacidades são vistas como particularmente cruciais caso o restante do exército alemão seja deslocado para países como a Polônia ou estados bálticos. A divisão também salvaguardará o papel da Alemanha como base operacional e centro para a Otan.
Ela também pode ser usada para prestar assistência administrativa em caso de grandes acidentes, ataques terroristas ou futuras pandemias.
Um porta-voz do exército afirmou no sábado que a divisão "liderará suas próprias tropas e, se necessário, outras tropas como parte da defesa territorial nacional, em caso de assistência, em cooperação civil-militar e na implementação de tarefas conjuntas das Forças Armadas na área."
gq (dpa, DW)