A recente condenação dos responsáveis pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes marcou um passo significativo em busca de justiça. A sentença trouxe um sentimento de alívio parcial para a família e defensores dos direitos humanos, que agora esperam pela condenação dos mandantes desse crime brutal. Anielle Franco, irmã de Marielle e atual ministra da Igualdade Racial, destacou a importância do julgamento, mas reafirmou que a dor e a luta continuam.
Para a família de Marielle, o julgamento representou uma vitória em meio a anos de sofrimento e incertezas. A condenação de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz trouxe um certo alívio, porém, a ausência de Marielle permanece profundamente sentida. Anielle Franco enfatizou que, embora a justiça tenha começado a ser feita, a luta por um país mais justo e seguro continua.
Durante o julgamento, familiares e amigos foram obrigados a reviver o trágico dia 14 de março de 2018, quando Marielle e Anderson foram assassinados. Esse processo doloroso foi comparado a um segundo velório, destacando a carga emocional enfrentada pela família.
"Não serei interrompida, não aturo o interrompimento dos vereadores dessa casa, não aturarei de um cidadão que vem aqui e não sabe ouvir a posição de uma mulher ELEITA" - Marielle Franco pic.twitter.com/DZL9tzi557
— Monica das Pretas (@MonicaSeixas) October 31, 2024
Como os depoimentos no julgamento impactaram o público, segundo Anielle Franco?
Anielle Franco ressaltou à Folha de Sâo Paulo a frieza com a qual os acusados descreveram o planejamento e execução do crime, contrastando com o depoimento comovente da mãe, que não conseguiu descrever a imensidão de sua dor. Os testemunhos evidenciaram a brutalidade do crime, fazendo com que muitos se emocionassem e refletissem sobre a vulnerabilidade enfrentada por aqueles que lutam por direitos e justiça social.
"A justiça chegou para a minha família. Infelizmente, não chega para muitas das famílias do nosso país, mas ali não era só pela Mari, pelo Anderson, era por todos aqueles familiares de vítimas de violência", disse ela.
Para ela, a frieza dos acusados, especialmente de Ronnie Lessa, que se referiu ao ato criminoso como "trabalho" foi especialmente chocante. Esse tipo de discurso ilustra a desumanização presente em práticas violentas associadas ao crime organizado.
"Isso não é trabalho. Trabalho honesto era o que eu fazia e faço ainda hoje, o que a minha irmã fazia também, o que a Luyara [filha de Marielle], minha mãe e meu pai fazem até hoje", afirmou.
No entanto, Anielle Franco aponta que a condenação dos executores não encerra o caso. A identificação dos mandantes do crime é um passo crucial para que justiça completa seja feita. Evidências apontam para possíveis ligações entre milícias, figuras políticas e o assassinato, aumentando a complexidade da investigação.
Ainda, quanto a um possível perdão, a ministra diz que não é possível. "Acho que não sou eu que tenho que perdoar ele. Ele que tem que se perdoar com ele, com o que ele acredita, seja lá qual for a religião. Pedir perdão para familiares que tiveram ali uma das pessoas mais importantes das nossas vidas, tirada da maneira que foi? Não cabe a mim, não cabe à minha mãe, não cabe a ninguém. Isso é ele com a consciência dele", concluiu.