ANPD proíbe pagamento de criptomoedas por coleta de íris no Brasil

24 jan 2025 - 20h51
(atualizado em 25/1/2025 às 11h56)

Empresa cofundada por Sam Altman, CEO da Open AI, registrou dados de 400 mil brasileiros em troca de moedas digitais. Órgão do governo argumenta que prática gera risco e interfere na decisão do usuário.A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou nesta sexta-feira (24/01) que a empresa de tecnologia Tools for Humanity (TFH), deve parar de oferecer compensação financeira em troca da coleta da íris de brasileiros.

Equipamento Orb permite a coleta de dados da íris. Empresa oferece criptomoedas para usuários que autorizam o procedimento
Equipamento Orb permite a coleta de dados da íris. Empresa oferece criptomoedas para usuários que autorizam o procedimento
Foto: DW / Deutsche Welle

A Tools for Humanity foi cofundada pelo CEO da OpenAI, Sam Altman, empresa dona do ChatGPT. A TFH levou o projeto chamado de WorldID ao Brasil em novembro de 2024, e promete escanear a íris da população para desenvolver um sistema único de verificação humana.

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A TFH também afirma que esta coleta de dados biométricos permite diferenciar um ser humano de um robô, e promove maior segurança digital em um momento de expansão das ferramentas de inteligência artificial.

Para atrair novos usuários, a empresa oferecia uma criptomoeda criada por ela, cuja cotação chega a R$ 600 reais.

Em medida preventiva, a Coordenação-Geral de Fiscalização da ANPD entendeu que a concessão de criptomoedas e compensação financeira em troca de dados pessoais fere a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) pois "pode interferir na livre manifestação de vontade dos indivíduos, por influenciar na decisão quanto à disposição de seus dados biométricos", em especial para pessoas em situação de vulnerabilidade.

"O consentimento para o tratamento de dados pessoais sensíveis, como é o caso de dados biométricos, precisa ser livre, informado, inequívoco e fornecido de maneira específica e destacada, para finalidades específicas", diz a agência.

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A ANPD também considerou que o tratamento de dados pela Tools for Humanity é "particularmente grave" pois impossibilita excluir os dados biométricos coletados. O órgão ainda vê risco de as informações serem usadas para finalidades que não foram inicialmente informadas. A medida entra em vigor neste sábado (25/01).

Empresa diz que segue padrões de privacidade

Em sua defesa, a empresa afirmou que aplica "altos padrões de privacidade e segurança" e que a ferramenta auxilia as pessoas a se prepararem para a IA, "ao mesmo tempo preservando a privacidade individual".

A TFH também será obrigada a indicar no seu site a identificação do encarregado pelo tratamento de dados pessoais, conforme determina a LGPD. Segundo os organizadores do WorldID, mais de 400 mil pessoas no Brasil já cadastraram sua íris na plataforma.

O projeto WorldID é gerenciado pela World Foundation, organização sem fins lucrativos que também foi cofundada por Altman. Em nota, a organização defende que segue as leis brasileiras e que "relatos imprecisos e atividades nas mídias sociais resultaram em informações falsas para a ANPD".

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A organização tem defendido que os usuários não precisam compartilhar nome, número de telefone, e-mail e endereço para ter a íris coletada, e que a imagem é apagada após ele ser transformado em um código numérico.

Em dezembro, a agência de proteção de dados da Baviera, na Alemanha, tomou decisão parecida e proibiu a World de coletar dados de moradores do estado. O órgão defende que não há base legal para escanear a íris dos usuários em troca de dinheiro e sem consentimento explícito. A empresa defendeu que as práticas foram ajustadas.

gq (Reuters, ots)

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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