Após ataque a policiais, Bolsonaro tenta se distanciar de Roberto Jefferson

24 out 2022 - 10h01
(atualizado às 10h52)

Após ex-deputado de extrema direita atacar policiais com tiros de fuzil e granadas, presidente nega relação com aliado, tenta associá-lo ao PT e chega a mentir sobre não haver fotos dos dois juntos.Após o ataque a tiros e granadas contra a Polícia Federal (PF) promovidos pelo ex-deputado de extrema direita Roberto Jefferson (PTB), o presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou se desvincular do aliado. Apesar de supostamente repudiar a ação, Bolsonaro também usou o episódio para criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) e mentiu sobre sua relação com o político extremista.

Roberto Jefferson e Bolsonaro. "Nós não somos amigos, não não temos relacionamento", disse o presidente
Roberto Jefferson e Bolsonaro. "Nós não somos amigos, não não temos relacionamento", disse o presidente
Foto: DW / Deutsche Welle

Em sua primeira manifestação, Bolsonaro criticou tanto o aliado como o inquérito do STF pelo qual Jefferson foi detido. "Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP", escreveu em sua conta no Twitter.

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Pouco depois, Bolsonaro determinou que o ministro da Justiça, Anderson Torres, fosse ao local - ainda que Jefferson não tenha nenhuma prerrogativa de foro especial. Nas redes, vários usuários questionaram por que um ministro foi deslocado para tratar do caso e apontaram que o mesmo tratamento não é dispensado para criminosos comuns que atacam policiais

Após a prisão do seu aliado e com os detalhes sobre a gravidade do ataque repercutindo negativamente na imprensa e nas redes, Bolsonaro finalmente adotou uma linguagem mais dura contra Jefferson, chamando o ex-deputado de "bandido" num vídeo divulgado nas redes.

"Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio", disse Bolsonaro.

Mentiras sobre relação e fotografias

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Depois disso, Bolsonaro mentiu sobre seu vínculo com Jefferson e disse que não tinha nenhum relacionamento com ele.

"Não existe qualquer ligação minha com Roberto Jefferson, nunca se cogitou em trabalhar na minha campanha", afirmou o presidente pouco antes da entrevista que concedeu à emissora de televisão Record neste domingo. "Nós não somos amigos, não não temos relacionamento", afirmou o presidente já durante a sabatina.

Diante da repercussão negativa na investida de Jefferson contra os policiais, Bolsonaro tentou vincular o aliado ao adversário Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT, lembrando sua ligação com o Mensalão, que veio à tona após o ex-deputado delatar o escândalo, em 2005. Jefferson exerceu cinco mandatos consecutivos e acabou cassado por seu papel no Mensalão.

Em live neste domingo, o presidente ainda chegou a alegar que não havia fotografias dele com Jefferson. "Não tem uma uma foto dele comigo, nada", declarou. No entanto, desde 2019, o PTB divulga nas redes sociais imagens dos encontros de Bolsonaro com o político. Há várias fotografias dos dois juntos.

Bolsonaro também recebeu Jefferson pelo menos duas vezes no Palácio do Planalto. Além disso, durante os debates do primeiro turno, o presidente contou com o apoio do candidato do PTB "padre" Kelmon, que atuou como substituto de Jefferson após o ex-deputado ter sua candidatura à Presidência barrada pela Justiça Eleitoral.

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A máquina de propaganda bolsonarista também acompanhou o presidente e foi fazendo ajustes na sua "cobertura" do caso. No início do dia, influencers bolsonaristas e comentaristas da rede Jovem Pan, por exemplo, concentraram críticas à ordem do STF. Mais tarde, boa parte passou a retuitar o vídeo em que Bolsonaro chama Jefferson de bandido.

Acompanhando a nova posição do presidente, vários passaram a associar Jefferson ao PT e admitir que o ataque aos agentes foi mesmo grave. Alguns trataram de abordar outros assuntos numa tentativa de distrair seus seguidores.

Lula culpa Bolsonaro

Primeiro colocado nas pesquisas pela disputa à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou o episódio e culpou Bolsonaro pela violência.

"Há 50 anos que nós disputamos eleições neste país e a gente nunca viu uma aberração dessa, uma ofensa dessa, uma cretinice dessa que esse cidadão que é o meu adversário estabeleceu no país", disse Lula, após um ato de campanha em São Paulo.

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"Ele [Bolsonaro] conseguiu criar nesse país uma parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio, mentirosa e que espalha fake news o dia inteiro. Isso gera comportamentos como esse do ex-deputado Roberto Jefferson", completou Lula. Nas redes, o petista também prestou solidariedade aos agentes feridos.

Oito horas de cerco

Investigado por suspeita de integrar uma organização criminosa que visa "desestabilizar as instituições republicanas", Jefferson teve a prisão domiciliar revogada pelo Supremo Tribunal Federal após violar várias medidas cautelares. Nos últimos meses, ele se reuniu com dirigentes do PTB e concedeu uma entrevista ao canal Jovem Pan News. Mais recentemente, publicou em redes sociais ofensas à ministra do STF Cármen Lúcia.

Quando agentes da PF foram à casa do ex-deputado para cumprir a ordem de prisão neste domingo, Jefferson efetuou disparos de fuzil e lançou granadas. O ataque feriu a agente Karina Oliveira e o delegado Marcelo Vilella, que foram atingidos por estilhaços. Os dois passam bem.

No início da noite, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou nova prisão de Jefferson, desta vez por tentativa de homicídio.

O ex-deputado de extrema direita se entregou somente após oito horas de cerco. O aliado de Bolsonaro cumpria prisão domiciliar na sua casa na cidade de Comendador Levy Gasparian, no interior do estado do Rio de Janeiro, a cerca de 140 quilômetros da capital fluminense.

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De acordo com as investigações preliminares, mais de 20 tiros de fuzil foram disparados por Jefferson. Pelo menos nove tiros atingiram os vidros de uma viatura. Alguns chegaram a perfurar o veículo.

cn/lf (ots)

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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