Após soltura de Lula, polarização política preocupa mercado

Investidores temem que radicalização de discurso atrapalhe a tramitação das reformas; dólar sobe 1,80 % e vai a R$ 4,16, Bolsa cai 1,78%

9 nov 2019 - 05h10
(atualizado às 09h07)
Bolsa de Valores de São Paulo 09/05/2016 REUTERS/Paulo Whitaker
Bolsa de Valores de São Paulo 09/05/2016 REUTERS/Paulo Whitaker
Foto: Reuters

O mercado reagiu ontem à soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com alta forte do dólar e queda no Ibovespa, principal indicador do Bolsa de São Paulo. A leitura foi de que, do ponto de vista jurídico, a mudança de posição do Supremo Tribunal Federal (STF) traz insegurança e assusta sobretudo o investidor estrangeiro. Pelo lado político, na visão dos agentes, significa o acirramento da polarização em Brasília e nas ruas, o que poderia afetar o andamento da pauta econômica do governo.

Há, inclusive, parlamentares ameaçando obstruir qualquer votação no Congresso até que ocorra a análise da proposta de emenda à Constituição (PEC) sobre a prisão em segunda instância. Foi nesse ambiente que o dólar subiu 1,80% nesta sexta-feira, 8, e fechou cotado a R$ 4,1666 no mercado à vista. Já a Bolsa fechou com queda de 1,78%, aos 107.628,98 pontos.

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Nesta sexta, no caso do câmbio, em menos de 45 minutos, período entre a notícia de que o ex-presidente seria solto e o fechamento do mercado, houve renovação de sucessivas máximas e a incorporação de dois centavos na cotação, da casa de R$ 4,14 para a de R$ 4,16.

"Na semana, a moeda norte-americana refletiu dois eventos: de um lado, o leilão, que começou tudo, e depois a liberação do Lula. O mercado deu uma azedada, não teve nenhuma notícia que ajudasse o real (na semana)", disse o economista da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira. O economista se referia também ao fracasso dos leilões realizados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Bolsa

A semana no mercado de ações encerrou com os investidores se desfazendo de suas posições, mesmo após terem absorvido a frustração com os dois leilões de petróleo e gás, com resultado negativo para o governo.

Na avaliação do economista-chefe do banco digital ModalMais, Álvaro Bandeira, o noticiário deu impulso à realização de ganhos acumulados na esticada de cinco mil pontos do índice à vista desde o final de outubro. "A soltura de Lula já estava mais ou menos no preço. O mercado já estava meio que esperando a decisão do Supremo desde que a ministra Rosa Weber mudou o voto", disse.

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No entanto, para ele, apesar dos ruídos que podem haver com a intensificação da polarização, se o governo seguir tocando a agenda liberal e reformista, não deve comprometer a tendência até agora vista para a Bolsa. "Por enquanto, não dá para assustar, vamos ver os desdobramentos."

O analista-chefe da Necton Corretora, Glauco Legat, ressalta que o tom pode ser mais negativo com Lula solto em um contexto no qual o governo quer fazer mais reformas. "De maneira geral, a soltura dele traz eventos negativos e fica mais evidente o Brasil dividido, com passeatas que já começam", diz.

Nesse meio tempo, o senador José Serra (PSDB-SP) protocolou requerimento solicitando dados que embasaram a elaboração das três PECs do pacote Mais Brasil, em tramitação no Senado. O tucano quer saber informações detalhadas, entre elas, a economia esperada das medidas e a memória de cálculo das projeções.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, poderá ter de abrir em até 30 dias todos os dados e, caso contrário, a tramitação das PECs ficará sobrestada, interrompendo sua tramitação.

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