BRASÍLIA - A aliança do Centrão com o presidente Jair Bolsonaro criou um novo desenho político na Câmara. Sem se assumir como base do governo e distantes da oposição, partidos como DEM e PSDB se uniram para defender uma agenda em comum e também discutem um nome de consenso para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Casa.
Chamado internamente de "núcleo independente", o grupo informal tem ainda a participação do MDB e Cidadania e da parte do PSL que rompeu com Bolsonaro. No total, esses partidos reúnem 102 deputados, embora existam entre eles nomes governistas.
"Esse grupo independente acabou se formando de uma forma muito natural", disse o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP). "Dos dez grandes partidos, o PT é oposição, o PSL está dividido e quatro foram para o governo", afirmou. As legendas citadas por ele na base do governo Bolsonaro são o Republicanos, o Progressistas (antigo PP), o PL e o PSD, que reúnem 146 parlamentares. "Passamos a conversar mais agora por conta de que existe o bloco da oposição, o do Centrão e um bloco que tem independência das suas posições", disse Sampaio.
Sob pressão de aliados e após sofrer sucessivas derrotas políticas no ano passado, Bolsonaro passou a distribuir cargos aos partidos do Centrão em troca de apoio no Congresso, ressuscitando a velha prática do "toma lá, dá cá". Até agora, Progressistas, Republicanos e PL já foram contemplados. O DEM, embora tenha se unido a este novo bloco, mantém os pés no Centrão e também tem indicados em cargos no governo, como na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
A ideia deste novo núcleo é se apresentar como o "fiel da balança" nas votações da Câmara, como um meio termo entre governo e oposição. Na prática, sabe que o Palácio do Planalto precisará do seu apoio, por exemplo, para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
"É um grupo de partidos que tem uma identidade mais sólida, que costumam a pensar e votar da mesma forma e, portanto, seguem alinhados para se posicionar na votação de projetos atuais e estratégias pensando no futuro", disse o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB).
A ala não governista do PSL também dá apoio ao bloco. "O PSL é um partido absolutamente independente e assim se manterá. É importante a união de outras siglas em torno desse bloco independente, a criação de um núcleo forte que não se dobra às constantes tentativas de interferência do presidente da República no Parlamento", afirmou a líder do PSL, Joice Hasselmann (SP). O PSL elegeu 52 deputados, mas ao menos 19 são da ala chamada "bolsonarista", de apoio irrestrito ao presidente da República.
A formação do núcleo é estratégica também para a sucessão de Maia. A eleição da Câmara está marcada para fevereiro do ano que vem e o Centrão já vem trabalhando com possíveis candidatos, como o líder do PP, Arthur Lira (AL), e o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), os dois que podem ter o apoio de Bolsonaro na disputa.
No novo grupo informal, um nome que vem ganhando força é o do presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), mas ainda não há definição. Apesar de o MDB ter parlamentares na base do governo, Baleia é próximo do presidente da Câmara.