Armação, receio de perder amizade e manipulação: veja o que dizem jovens acusados de matar amiga

Os três alegam que queriam descobrir se um deles era psicopata, mas seria preciso matar uma pessoa e saber a reação que teria após o crime

15 jul 2022 - 17h36
(atualizado às 18h12)
Na foto, da esquerda para direita: Enzo, Jeferson e Raíssa; trio preso suspeito de matar amiga em Goiânia
Na foto, da esquerda para direita: Enzo, Jeferson e Raíssa; trio preso suspeito de matar amiga em Goiânia
Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Documentos obtidos pelo Terra nesta sexta-feira, 15, mostram em detalhes o que foi dito pelos três jovens acusados de assassinato. Freya, que nos documentos aparece como Enzo Jacomini, Jeferson Rodrigues e Raíssa Alves revelaram informações sobre o planejamento e a execução da morte da amiga deles, Ariane Bárbara, em Goiânia.

Os depoimentos dos investigados foram colhidos quando eles passaram por exame de insanidade mental na Justiça. Além do trio, uma adolescente suspeita de envolvimento no homicídio também foi apreendida. Sua identidade não foi revelada.

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Ariane tinha 18 anos quando foi morta e abandonada na mata pelos amigos, em agosto de 2021. Os suspeitos foram presos depois que uma análise das câmeras de monitoramento identificar a ação do trio. Segundo eles, o objetivo era descobrir se Raíssa, uma das presas, era psicopata. Para isso, ela precisaria matar uma pessoa para saber a reação que teria após o crime.

Os laudos dos psicológos e psiquiatras da junta médica da Justiça descartam insanidade mental dos acusados e apontam que todos eles são capazes de entender os próprios atos. As avaliações psicológicas periciais foram realizadas por meio de uma entrevista semi-estruturada com os suspeitos, exame clínico e testes psicológicos. 

Confira o que cada um alegou:

Jeferson Rodrigues:

O suspeito relatou que foi forçado a participar do crime para não perder a amizade das amigas. Ele havia conhecido as duas cerca de 15 dias antes do homicídio.

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"Elas armaram para mim. Já estava tendo desentendimento com a [adolescente]. Não queria perder meu grupo de amigos. Não era uma amizade recíproca. Oferecia caronas e emprestava dinheiro", disse ele em depoimento. 

Segundo o jovem, o crime foi planejado pela adolescente, que teve a identidade preservada, e por Raíssa. Ele alegou que foi ameaçado pela adolescente.

"Na manhã [do ocorrido] ela disse que era filha de traficante e me ameaçou, se eu não participasse. Disse que estava planejando matar uma pessoa e que eu tinha que participar. Nós éramos cinco no carro", acrescentou, se referindo a Freya, Raíssa, à adolescente e à vítima, Ariane.

De acordo com o relato, no dia do ocorrido ele buscou as amigas.

"A [adolescente] me disse qual seria o sinal: dois estalar de dedos. Aí a Raíssa iria tentar enforcar a Ariane, passando um braço para enforcar. A Raíssa tentou duas vezes e não conseguiu. O Enzo [que se identifica como Freya] passou para o banco de trás, enforcou até a Ariane desmaiar, e aí foi dada a primeira facada pela Raíssa", disse. 

Os peritos avaliam que Jeferson tem como característica marcante o desrespeito pelas regras sociais e ele não se importa com as consequências de seus atos, se irá machucar ou ferir terceiros. A única preocupação do suspeito, dizem os peritos, é atender seus desejos imediatos.

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A perícia conclui também que, por ele ter conduzido o veículo com atenção, não poderia estar com humor exaltado, conforme tentou afirmar.

Freya:

Questionada como entende o ocorrido, ela relatou aos psicólogos que vê a história como "um desastre que destruiu sua vida". Ao ser perguntada sobre o destino da vítima, a suspeita foi sucinta: "Concordo que a vítima perdeu sua vida, mas eu não tenho nada a ver com isso". 

"A [adolescente] deu uma facada na japa. Aí mandou todo mundo sair do carro e ajudar a tirar o corpo. O plano dela era matar mesmo. Ela era boa em manipular as pessoas", acrescentou. 

Ela também afirma que depois do fato a adolescente passou a ameaçar ela e sua família, caso contasse alguma coisa para alguém. O exame psíquico, no entanto, concluiu que Freya não demonstrou arrependimento sobre seus atos.

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Raíssa Nunes:

"Quando comecei a enforar ela [vítima], pensei: 'o que estou fazendo aqui?'. Quando parei de enforcar, a [adolescente] me mandou ir para o banco da frente. Aí a Freya sentou no colo da Ariane e enforcou ela. O Jeferson dirigiu o carro e deu as facas [usadas no crime]", disse Raíssa. 

A jovem afirmou que Ariane pediu ajuda para a [adolescente], mas ela ficou rindo e passando a mão na cabeça de Freya. 

"Aí a [adolescente] se estressou comigo e mandou eu enfiar a faca na Ariane. Aí eu peguei a faca e enfiei no peito dela. A culpa da morte dela caiu em mim. A Freya e a [adolescente] passaram o corpo para o porta-malas e aí a [adolescente] deu mais facadas na Ariane", alegou, conforme aponta o documento. 

A jovem disse não se lembrar sobre quem deu a ideia de enterrar o corpo no bairro do Jaó. "O corpo não foi enterrado. Colocaram pedras e terra em cima", disse. 

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Segundo os profissionais que a avaliaram durante o depoimento, ela tentou passar a ideia de que era uma marionete nas mãos da adolescente envolvida no crime e que foi induzida a cometer o assassinato contra sua vontade. Essa teoria, no entanto, não tem sustentação nos fatos reais. A perícia também aponta que ela mostrou frieza ao falar do crime. 

Advogados

Em nota, o advogado Luiz Carlos Ferreira, responsável pela defesa de Jeferson, afirma que Jeferson é conhecido por todos os amigos e familiares como uma pessoa empatica e solícita. "A defesa irá provar que ele não participou de nenhum ato de premeditação em relação ao fato", diz o texto.

O Terra ainda tenta localizar os advogados das outras suspeitas.

*Com edição de Estela Marques.

Fonte: Redação Terra
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