Assédio no trabalho atinge 65% das mulheres em SP e escancara desigualdade

8 mar 2025 - 11h34

No Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, um tema vem à tona: o assédio moral e sexual no ambiente de trabalho. Pesquisas indicam que as mulheres são as principais vítimas dessas práticas abusivas, enfrentando situações que vão desde desvalorização profissional até condutas que ferem sua dignidade.

Pesquisas indicam que as mulheres são as principais vítimas de práticas abusivas
Pesquisas indicam que as mulheres são as principais vítimas de práticas abusivas
Foto: Canva Fotos / Perfil Brasil

Um estudo da médica Margarida Barreto, da PUC-SP, analisou 2.072 trabalhadores de 97 empresas do setor químico e plástico em São Paulo, sendo 1.311 homens e 761 mulheres. A pesquisa revelou que 65% das mulheres entrevistadas sofreram violência psicológica no trabalho, enquanto entre os homens esse percentual foi de 29%. No total, 42% dos participantes relataram vivências de humilhação e situações vexatórias repetitivas no ambiente corporativo, evidenciando a maior vulnerabilidade das mulheres a essas agressões.

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A advogada especialista em assédio no trabalho, Michelle Heringer, explica que essas práticas abusivas seguem um padrão sistemático e prejudicam a saúde mental das vítimas. "Isso pode incluir críticas destrutivas, desvalorização constante, isolamento e sobrecarga de trabalho. As vítimas frequentemente se sentem impotentes e sofrem impactos profundos na saúde mental, como estresse, ansiedade e depressão", afirma.

O peso da desigualdade nas relações de poder sobre as mulheres

O assédio no ambiente corporativo, em grande parte dos casos, parte de superiores hierárquicos. Segundo um levantamento do site Vagas.com para a BBC Brasil, 84% dos episódios relatados são cometidos por chefes ou colegas em cargos mais elevados. O medo de represálias e a falta de mecanismos eficazes de denúncia fazem com que muitas mulheres permaneçam em silêncio.

Quando se trata de assédio sexual, a realidade é ainda mais alarmante. A relação de poder e a cultura patriarcal presentes no mercado de trabalho favorecem a perpetuação desse comportamento, especialmente quando o agressor ocupa um cargo de liderança. "A desigualdade de gênero no mercado de trabalho cria um ambiente propício para esses abusos. Muitas mulheres têm medo de denunciar, pois temem represálias ou a perda do emprego. É fundamental que as empresas adotem políticas eficazes para combater esse problema e proteger as funcionárias", reforça Heringer.

Como identificar e combater o assédio?

Além da dificuldade de denunciar, muitas mulheres sequer identificam o assédio moral e psicológico, pois esses comportamentos, em alguns casos, são normalizados dentro das empresas. "A dificuldade em detectar a violência psicológica e moral também está ligada à falta de conscientização sobre esses casos, tanto na sociedade quanto dentro das organizações. Muitas vezes, o comportamento abusivo é minimizado ou confundido com atitudes normais de liderança ou disciplina, o que impede que medidas sejam tomadas para interromper o ciclo de abuso", alerta a especialista.

A criação de canais de denúncia seguros e a implementação de políticas rigorosas contra o assédio são passos essenciais para um ambiente corporativo mais igualitário. O Dia Internacional da Mulher reforça essa necessidade e serve como um lembrete da luta contínua pela erradicação de todas as formas de violência contra as mulheres, inclusive no ambiente de trabalho.

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