Em meio a mais uma crise com as queimadas que devoram o Pantanal e a Amazônia, além da epidemia que coloca o Brasil entre as piores respostas mundiais ao novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro vai usar seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, na terça-feira, para defender seu governo e atacar o que chama de campanha contra o país.
Documento que embasa os pontos principais de seu discurso, ao qual a Reuters teve acesso, mostra que os dois temas deverão concentrar a maior parte da fala do presidente no discurso que, este ano, será feito virtualmente, em vídeo gravado previamente.
Entre os temas da sua fala, Bolsonaro vai tentar demonstrar que o governo está sim tentando combater ilegalidades na Amazônia, mobilizando recursos para combater o desmatamento e outras atividades ilegais na região, e destacando que indicou o próprio vice-presidente Hamilton Mourão para coordenar o Conselho Nacional da Amazônia.
O presidente deve destacar ainda que a agricultura brasileira, que hoje é alvo de ameaças de boicote internacional, especialmente de países europeus, pelos problemas ambientais que o país, enfrenta, é altamente produtiva e que ainda mais de 60% do território brasileiro está preservado.
Na semana passada, ao discursar para produtores rurais em Sinop (MT), Bolsonaro já usou números que deve repetir na ONU, especialmente quando diz que a produção brasileira alimenta hoje 1 bilhão de pessoas em 180 países e que sempre estará aberto a vender para todo mundo. Na sua fala, deve ainda pregar contra barreiras que tem sido impostas ao comércio internacional.
O presidente também deve destacar que o Brasil tem avançado em questões de desenvolvimento sustentável, mas ao mesmo tempo precisa garantir o avanço econômico de 20 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, uma das regiões mais pobres do país.
Em 2019, em sua primeira fala na ONU, a Amazônia também ocupou papel central. Na época, o país também enfrentava uma alta no desmatamento, nas queimadas, e ameaças de boicote. Em sua fala, Bolsonaro criticou os países ricos, que chamou de colonialistas, seus antecessores, a quem chamou de socialistas que teriam comprado a mídia e congressistas, e líderes indígenas como o cacique Raoni, que seria, "peça de manobra" de governos estrangeiros.
Criticado constantemente pela atuação do governo brasileiro no combate à epidemia de Covid-19, Bolsonaro também deve usar seu discurso para se defender. O presidente deve afirmar que o Brasil tem feito esforços para salvar vidas, mas sem esquecer investimentos para retomada da economia.
As diretrizes a que a Reuters teve acesso são bases com informações, temas e alguma estrutura e frases propostas por assessores para compor o texto do que vai ser dito pelo presidente. Está ali, por exemplo, a indicação de que ele ofereça condolências às vítimas da epidemia.
A versão final, depois de modificações feitas pelo próprio presidente e assessores próximos, foi gravado na quarta-feira e o vídeo enviado na quinta à ONU. A organização havia pedido que os discursos de todos os presidentes que irão se manifestar fossem enviados até sexta-feira passada.