O Brasil está perto de finalizar protocolos para exportação de miúdos suínos e peixes à China, em processos que abririam mercados com alto potencial, disseram à Reuters duas pessoas a par do assunto.
Os acordos só não foram assinados na visita do presidente chinês, Xi Jinping, a Brasília, nesta semana, porque algumas análises técnicas não foram concluídas a tempo, disse uma das pessoas, na condição de anonimato.
"Os dois estão bastante avançados, estamos esperando a conclusão das análises técnicas. Não temos como prever ainda quando será a assinatura, mas não deve demorar", afirmou.
No caso dos miúdos, a eventual abertura seria "disruptiva" para a cadeia de produção de suínos brasileira, disse a fonte.
"São produtos que a China valoriza muito e o Brasil não tem hábito de consumir", acrescentou a pessoa.
Ela explicou que o foco inicial são os "miúdos vermelhos", que incluem coração, fígado, rins, pulmões, miolo, língua e esôfago.
Devido ao baixo consumo desses miúdos no Brasil, os preços são pouco remuneradores para a indústria local, mas com valores competitivos na China.
O Brasil, quarto exportador global de carne suína, exportou em 2023 cerca de 1,2 milhão de toneladas, mas o volume de miúdos somou pouco mais de 100 mil toneladas, para todos os destinos, segundo dados oficiais.
As questões técnicas para a formalização do protocolo incluem o reconhecimento pela China de que outros Estados brasileiros, além de Santa Catarina, são livres de febre aftosa sem vacinação.
A entrada de Paraná e Rio Grande do Sul no rol dos Estados reconhecidos poderia aumentar a oferta para exportação de miúdos à China --os dois Estados nacionais estão entre os poucos com reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), mas não pela China.
Atualmente, apenas Santa Catarina pode exportar miúdos e carne com osso para a China, segundo a fonte.
"Estamos trabalhando para os outros Estados que foram reconhecidos livres pela OMSA, para também poder exportar carne com osso e miúdos."
"Hoje esses outros Estados exportam, no caso de suínos, por exemplo, apenas carne sem osso."
O processo de abertura do mercado de miúdos suínos acontece em momento em que a China abriu uma investigação antidumping sobre a carne suína e miúdos suínos da União Europeia, maior exportador do produto ao país asiático, em resposta às restrições europeias às exportações de veículos elétricos chineses.
Se a China decidir levar adiante e colocar uma tarifa (antidumping) na carne da UE, os preços europeus vão ficar "inviáveis", disse a fonte, lembrando que 80% do que a China compra vem da Europa, um mercado que poderia vir, ao menos em parte, para o Brasil.
Em receitas, as importações chinesas totais de carne suína, incluindo vísceras, somaram 6 bilhões de dólares em 2023, sendo que a Espanha respondeu por cerca de 1,5 bilhão de dólares e o Brasil por pouco mais de 1 bilhão de dólares. Holanda e Dinamarca exportaram o equivalente a mais de 500 milhões de dólares cada, segundo dados da alfândega chinesa.
PESCADO
O protocolo para exportações de peixes brasileiros para a China deverá envolver a pesca extrativa, um mercado que pode somar 1 bilhão de dólares, segundo a fonte.
Assim como o acordo em miúdos suínos, o referente a pescado estaria entre os protocolos mais próximos de serem assinados.
Na quarta-feira, o Brasil anunciou que entre os pactos comerciais já firmados para exportação estão aqueles que incluem farinha de peixe, óleo de peixe e outras proteínas e gorduras derivadas de pescado para alimentação animal.
No mesmo dia, Brasil e China firmaram acordos para abrir mercados na China a uvas frescas, gergelim e sorgo.
No sorgo, o movimento da China acontece antes da posse de Donald Trump, que pode implementar tarifas contra produtos chineses que seriam passíveis de retaliações em mercadorias agrícolas dos EUA, como o sorgo.
O mercado de sorgo pode chegar a 500 milhões de dólares, se a questão tarifária surgir, disse a fonte.