Conversa entre ministro do Planejamento, Romero Jucá, e ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado sobre "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato é divulgada. Confira os principais trechos.
Em conversa telefônica ocorrida em março passado e divulgada nesta segunda-feira (23/05) pelo jornal Folha de S. Paulo, o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), sugere ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma mudança no governo poderia "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato.
"Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria", teria dito o ministro e ex-senador. Ambos os políticos estão sob investigação na Operação Lava Jato. No último dia 20, o Supremo Tribunal Federal deu aval à quebra dos sigilos bancário e fiscal de Jucá em um inquérito que apura fraudes no repasse de emendas parlamentares, na época em que ele era senador.
Confira os trechos por assunto:
Receio sobre delações
Sérgio Machado: Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
Romero Jucá: Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
Machado: Odebrecht vai fazer.
Jucá: Seletiva, mas vai fazer.
Machado: Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... o Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
Jucá: Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. (...) Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
Expectativa sobre o impeachment
Machado: Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
Jucá: Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado: É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá: Com o Supremo, com tudo.
Machado: Com tudo, aí parava tudo.
Jucá: É. Delimitava onde está, pronto.
Envolvimento do PSDB
Machado: A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...
Jucá: Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...
Machado: Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
Jucá: Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
Machado: Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
Jucá: Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
Avaliação sobre Aécio Neves (PSDB-MG)
Machado: O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
Jucá: Todos, porra. E vão pegando e vão...
(...)
Machado: É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...
Jucá: Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
Machado: O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...
Jucá: É, a gente viveu tudo.
Conversas com membros do STF
Jucá: [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
Machado: Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava Jato].
Jucá: Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento...
Machado: ...E burro (...) Tem que ter uma paz, um...
Jucá: Eu acho que tem que ter um pacto.
Machado: Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
Jucá: Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].