O grupo de advogados que defende manifestantes detidos durante protestos contra a Copa do Mundo em São Paulo declarou nesta quarta-feira ter sido alvo de ameaças de morte após assumir o caso de Fabrício Proteus, baleado por policiais militares após a manifestação do último sábado. De acordo com o grupo, o advogado Daniel Biral saía do hospital Santa Casa de Misericórdia na última segunda-feira, onde Fabrício está internado, quando foi abordado por uma pessoa armada em um veículo que ordenou que o grupo abandonasse o caso e também a atuação nas ruas junto aos manifestantes.
"Estou aqui como advogado para dizer que, sendo cerceado do meu direito como advogado de defender uma pessoa, está sendo ameaçada muito mais que a minha integridade. Está sendo ameaçada a democracia e o Estado Democrático de Direito", declarou Biral a jornalistas.
O grupo e o advogado não quiseram comentar quem poderia estar por trás das intimidações, mas afirmam que a ameaça foi "específica a este caso (Fabrício Proteus)" e criticaram a postura das policias Militar e Civil no caso, que consideram ter despertado um "estranho interesse político".
De acordo com eles, o depoimento de Fabrício, colhido ontem pela Polícia Civil, não tem valor jurídico, pois o jovem não estava em condições físicas e mentais de se apresentar em juízo. "No momento em que o delegado colheu o depoimento, Fabrício tinha acabado de sair de um coma, internado na UTI, estava sob o efeito de morfina e o depoimento dele foi assinado com o dedão", destacou o advogado Geraldo Santamaria.
Segundo Santamaria, os pais do garoto também foram impedidos de acompanhar o trabalho da Polícia Civil e, após o ocorrido, decidiram restituir o grupo de advogados ativistas como defensores do caso.
No entanto, o grupo conta que menos de 24 horas após a assinatura da procuração, a família de Fabrício ligou para o grupo para tirá-los do caso "sem maiores explicações". "Diante de todas as circunstâncias que vêm acontecendo, de ameaças e interesses políticos, eu não posso dizer nada declaradamente, mas existe algo estranho no caso", afirmou o advogado Luis Guilherme Ferreira.
A manifestação do dia 25 de janeiro teve, além dos disparos contra Fabrício Proteus, outros 130 manifestantes detidos e dois jornalistas agredidos, entre eles o fotógrafo da Agência Efe, Sebastião Moreira, que chegou a ficar mais de uma hora sob o poder dos policiais mesmo após se identificar como profissional da imprensa.
Uma nova manifestação está marcada para o dia 22 de fevereiro.