Aliados de Bolsonaro avaliam que caso das joias sauditas complica seu retorno ao Brasil

Governo Bolsonaro tentou entrar no País ilegalmente com joias avaliadas em R$ 16,5 milhões e caso será investigado pela Polícia Federal

7 mar 2023 - 17h46
(atualizado às 18h02)
O ex-presidente Jair Bolsonaro em evento na Flórida
O ex-presidente Jair Bolsonaro em evento na Flórida
Foto: Reuters

Sem uma linha de reação definida, o caso envolvendo o ingresso irregular no país de joias procedentes da Arábia Saudita destinadas ao então presidente Jair Bolsonaro e sua mulher, Michelle, complicam as tratativas para o retorno do ex-chefe do Executivo dos Estados Unidos ao Brasil, segundo fontes ligadas a ele disseram à Reuters.

Segundo as fontes, Bolsonaro provavelmente deverá enfrentar uma nova investigação criminal pelo caso. Ele agora está sem a garantia do foro privilegiado, o que o deixa mais vulnerável a medidas restritivas como busca e apreensão.

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O ex-presidente já está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito que apura os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro e em ao menos mais quatro inquéritos. Há também ações contra o ex-presidente analisadas na Justiça Eleitoral que pedem que ele fique inelegível.

Não bastasse, conforme as fontes, o caso ainda pode retirar o foco das atenções para que o ex-presidente volte ao país no papel de líder da oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva que gostaria de encarnar.

Nesta segunda-feira, a Polícia Federal decidiu abrir um inquérito após a Receita Federal informar que o governo Bolsonaro não adotou os procedimentos necessários para a incorporação ao patrimônio público de joias presenteadas pelo governo saudita a uma comitiva brasileira que visitou o país em 2021. Parte das joias ficou retida na Receita Federal em Guarulhos --um conjunto avaliado em 16,5 milhões de reais--, enquanto um outro pacote foi entregue à Presidência.

A Receita Federal e o Ministério Público Federal de São Paulo também instauraram apurações sobre o caso revelado na sexta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo. Nesta terça-feira, a Controladoria-Geral da União (CGU) informou ter instaurado uma Investigação Preliminar Sumária (IPS), com o objetivo de apurar a atuação de servidores públicos no caso.

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Até o momento, conforme duas fontes, Bolsonaro não indicou qual a linha seus aliados devem seguir para se manifestar sobre o caso, o que tem dificultado a atuação em sua defesa até dos bolsonaristas mais aguerridos.

O episódio tem complicadores, avaliam as fontes, porque há uma série de ofícios de integrantes do governo pedindo a liberação das joias, retidas desde outubro de 2021 no Aeroporto de Guarulhos, inclusive às vésperas de Bolsonaro deixar o comando do país.

No partido, segundo uma das fontes, a avaliação é que o caso das joias foi mal conduzido e não é um problema partidário, mas exclusivamente de Bolsonaro e de Michelle. A ex-primeira-dama foi aconselhada a adiar o giro que iria começar a fazer este mês para promover o PL Mulher.

Michelle tem sido tratada pelo presidente do partido, Valdemar Costa Neto, como uma das apostas da legenda para 2026 caso o ex-presidente venha a ser condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral e impedido de concorrer.

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O próprio retorno de Bolsonaro dos Estados Unidos, segundo outra fonte ligada à família, segue incerto e deve ser postergado em razão do caso das joias. Na manhã de terça, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que coordenou a campanha do pai à reeleição, chegou a publicar no Twitter que o ex-presidente voltaria ao país no dia 15.

"Acabou a espera! Bolsonaro vem aí! No dia 15 de março, o nosso Johnny Bravo volta para o Brasil. Já pode pendurar a bandeira verde e amarela e vestir as cores do nosso país. Juntos, vamos fazer uma oposição forte e responsável, pelo bem do nosso Brasil. Deus, pátria e família!", postou Flávio.

Pouco mais de dez minutos depois, Flávio apagou o que havia dito e se retratou. "Peço desculpas pela postagem anterior, deve ser a saudade grande! Na verdade a data de retorno do nosso líder @jairbolsonaro no dia 15/março era provável, mas não confirmada ainda. Assim que houver uma data definitiva ele mesmo divulgará, tá ok!", disse.

Flávio Bolsonaro e os demais filhos ainda não acharam o tom para responder o caso, segundo uma das fontes, à espera de uma linha de atuação do próprio pai. A suspeita, conforme essa fonte, foi de "fogo amigo", ou seja, alguém de dentro do núcleo de confiança teria vazado o caso. Flávio está particularmente preocupado com o impacto do episódio, conforme essa fonte.

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Bolsonaro viajou para os Estados Unidos na véspera do fim do governo, não participando das festividades de passagem de gestão para Luiz Inácio Lula da Silva. Ele nunca aceitou publicamente a derrota para o petista.

Em sua última versão sobre o 8 de janeiro, o ex-presidente disse "ter certeza" que foi arquitetado pela esquerda. Contudo, investigações oficiais já identificaram o envolvimento direto de apoiadores de Bolsonaro no planejamento e execução da invasão e da depredação dos prédios das sedes dos Três Poderes.

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