Aluna da USP diz a CPI que foi estuprada em festa no campus

16 jan 2015 - 07h07
(atualizado às 07h36)

Mais uma estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) disse que foi violentada sexualmente dentro do campus da instituição. A aluna, que não quer ter o nome divulgado, prestou depoimento, nesta quinta-feira, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que apura casos de abusos dentro das faculdades paulistas.

De acordo com a estudante, em uma festa em 2013 organizada pelo Centro Acadêmico da faculdade, dois alunos a levaram até um local ermo no estacionamento da instituição, onde colocaram a mão dentro da calça dela e a forçaram a beijá-los. Após reagir, a estudante foi vista por uma amiga e conseguiu deixar o local.

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A aluna denunciou o ocorrido à faculdade, mas, segundo ela, não recebeu apoio da instituição. “Eu não sabia a quem podia recorrer, onde podia recorrer. Não tive apoio psicológico nenhum, ainda mais que, depois do que aconteceu, houve um grande processo de difamação, perseguição. Em momento nenhum eu encontrei apoio”, disse à CPI.

Uma sindicância foi aberta ainda em 2013 na faculdade para apurar o ocorrido. No entanto, segundo a estudante, o processo foi viciado. O depoimento dela aos professores da comissão de investigação foi alterado. Em 2014, uma nova sindicância foi feita. Segundo a faculdade, os dois alunos serão punidos.

O diretor da Faculdade de Medicina da USP, José Otavio Costa Auler Junior, presente na sessão, negou que a instituição tenha sido omissa nos casos de abuso e violência sexual. Ele não soube precisar, no entanto, quantos casos ocorreram dentro da faculdade nos últimos anos. Auler disse que enviará à CPI, em breve, na íntegra, todos os processos de apuração existentes. Ele reconheceu que, pelo menos desde 2012, não houve nenhum aluno punido em decorrência das denúncias.

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“Todos os casos que chegaram a nosso conhecimento oficialmente foram apurados. A faculdade não se omitiu em nenhuma hipótese sobre isso. Muitos dos assuntos chegaram a nosso conhecimento por meio desses depoimentos (da CPI). Estamos dispostos a promover novas políticas e correções”, disse.

Auler acrescentou que, a partir de fevereiro, entre outras ações, será instituído um núcleo de acolhimento aos alunos, com assistência médica, advogados e psicólogos, onde os estudantes possam relatar seus problemas. Também será criado um núcleo de ações dos direitos humanos e uma ouvidoria na faculdade, de fácil acesso aos estudantes.

“Os calouros passarão a ser recebidos de maneira totalmente diferente. Não haverá álcool. E vamos começar a recepção com os pais, explicando para eles toda a situação e mostrando todos os mecanismos que a instituição tem hoje de acesso à denúncia”, destacou.

O presidente da CPI, deputado Adriano Diogo (PT), questionou a razão de todas as sindicâncias da faculdade, até o momento, não terem sido concluídas com culpados. Ele disse que não criminalizar a conduta desses estudantes agora poderá gerar médicos como Roger Abdelmassih, condenado por ter estuprado uma série de mulheres em sua clínica.

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“A gente achava que essas barbaridades aconteciam nas faculdades dos grotões, onde o MEC (Ministério da Educação) não entrava. Mas não, são nas melhores, nas mais espetaculares, na cara de todo mundo. Nós temos que aproveitar esse momento mágico (da CPI) para estabelecer novas formas de funcionamento”, disse.

A CPI pediu ainda que seja apurada a alteração do depoimento da aluno dada à Comissão de Investigação da faculdade.

Agência Brasil
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