PR: casal vítima de panfletos homofóbicos ganha apoio em ato

15 abr 2017 - 19h27
(atualizado às 19h30)

Cerca de cem pessoas, entre amigos, parentes, vizinhos e lideranças LGBTs, realizaram na tarde deste sábado (15), na Praça Elias Abdo Bittar, em Curitiba (PR), um ato em apoio ao casal João Pedro Schonarth, de 29 anos, e Bruno Banzato, de 31. O local fica bem próximo à residência onde o jornalista e o servidor público federal irão morar a partir da semana que vem, no bairro Água Verde, e onde sofreram um ataque homofóbico dois dias atrás, de uma pessoa ainda não identificada.

Vizinhos, familiares e amigos do casal João Pedro e Bruno, vítimas de ataque homofóbico em Curitiba, se reuniram na tarde deste sábado (15) em ato de apoio no bairro onde eles vão residir
Vizinhos, familiares e amigos do casal João Pedro e Bruno, vítimas de ataque homofóbico em Curitiba, se reuniram na tarde deste sábado (15) em ato de apoio no bairro onde eles vão residir
Foto: Mariana Franco Ramos / Especial para Terra

Casados há sete anos, eles estão prestes a adotar uma criança e, por isso, decidiram se mudar para uma casa maior, que passa por reforma. Na manhã dessa última quinta-feira, um dos trabalhadores da obra percebeu que panfletos apócrifos tinham sido espalhados pelo condomínio, contendo o endereço da "baixaria" e frases preconceituosas. "Em breve, a sua rua será mais ‘alegre’ (...) Se fazem isso em público, imaginem o que fazem quando estão a sós ou com amigos mais próximos", diziam alguns dos trechos.

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Neste sábado, ao invés dos flyers, havia balões, bandeiras com as cores do arco-íris e cartazes com dizeres como "menos preconceito, mais amor", "a rua vai ficar mais alegre, sim" e "não temos medo". Os participantes fizeram uma ciranda, cantaram músicas, abraçaram o casal e, já no fim da mobilização, foram convidados pelos dois a acompanhá-los até a nova casa, para no futuro visitar e tomar com eles um café.

"A rua vai ficar mais alegre, sim!" foi a resposta do ato de apoio ao casal vítima de ataque homofóbico com panfletos que continham frases como "Sua rua vai ficar mais 'alegre'"
Foto: Mariana Franco Ramos / Especial para Terra

"As pessoas estão manifestando o outro lado. Se existe o ódio, existe o amor também, e ele é maior. Estamos sendo acolhidos. É isso que a população LGBT precisa, de acolhimento. Essas pessoas estão excluídas da sociedade. A homofobia é uma violência que machuca, que intimida e que mata. Por isso mesmo, precisa ser criminalizada. Há episódios de violência diariamente no nosso País e temos de evitar que outros sofram o que sofremos. O recado e a lição que fica é que como sociedade, se estivermos juntos, a gente cresce", disse Schonarth.

O diretor-presidente da Aliança Nacional LGBT-I e secretário nacional da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, contou que tomou conhecimento recentemente de oito casos de discriminação em condomínios de Curitiba, mas que as vítimas não quiseram formalizar as denúncias, por medo de se expor. "Fiquei muito feliz, em meio a esse episódio triste, que eles tiveram essa coragem. Tenho certeza que irão ajudar muitas pessoas. Há uma porcentagem grande de gente que nos quer ver em guetos ou mesmo mortos".

"Se existe o ódio, existe o amor também, e ele é maior. Estamos sendo acolhidos. É isso que a população LGBT precisa, de acolhimento. Essas pessoas estão excluídas da sociedade. A homofobia é uma violência que machuca, que intimida e que mata", disse João Pedro ao lado do companheiro Bruno, ambos vítimas de ataque homofóbico em Curitiba
Foto: Mariana Franco Ramos / Especial para Terra

O próprio Reis lembrou que há 25 anos foi vítima de homofobia e que, na época, se sentiu amedrontado. "A gente não vai mais tolerar nenhum tipo de preconceito. O Supremo Tribunal Federal (STF) nos deu, por unanimidade, o direito de casar, de ter uma família. Não é um vizinho homofóbico ou frustrado, incomodado com a felicidade alheia, que vai nos tirar isso. O que não nos mata nos fortalece", comentou. 

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O caso

No flyer distribuído pela região, havia ainda uma foto, mas de outro casal, desconhecido, abraçado. “Era uma montagem. O marceneiro chegou e encontrou a vizinha da frente lendo o panfleto. Vários foram espalhados por toda a quadra onde fica o condomínio. Ninguém viu nem sabe quem pode ter sido, mas imaginam que seja alguém que passou com o carro e jogou pela janela”, relatou o jornalista.

O casal já tinha passado por outro incidente no mesmo local, entretanto, na hora não pensou se tratar de um caso de discriminação. Na semana passada, um dos profissionais da obra achou o imóvel totalmente alagado. Os registros teriam sido abertos por um indivíduo que invadiu a residência, ligou uma mangueira na entrada do ar condicionado e deixou a água correndo a madrugada inteira no piso de madeira. 

Ambos registraram boletim de ocorrência na recém-inaugurada Delegacia de Vulneráveis da cidade, que segue investigando o caso. O construtor também fez b.o. de dano ao patrimônio e à propriedade. O setor da polícia fica na Avenida Sete de Setembro, 2077, em Curitiba, e atende pelo telefone 0800 631121. Denúncias desse tipo também podem ser encaminhadas para o e-mail comissao.igualdaderacial@oabpr.org.br, pelo Disque 100 ou ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção aos Direitos Humanos (www.direito.mppr.mp.br).

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Fonte: Especial para Terra
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