Se tudo ocorrer como o esperado, a Agência Espacial Europeia (Esa, na sigla em inglês) colocará uma sonda em Marte nesta quarta-feira com o objetivo de procurar indícios de vida no planeta além da superfície.
O robô Schiaparelli tentará a arriscada descida à superfície do planeta vermelho nas próximas horas, após uma jornada de 500 milhões de quilômetros da Terra.
O objetivo do veículo de seis rodas é perfurar a superfície em busca de vida.
O pouso do robô é visto como um treino para uma empreitada muito mais importante - e cara - nos próximos quatro anos, quando a Esa deve fazer uma expedição por Marte.
Pousar o pequeno robô Schiaparelli deve ser a parte mais simples. Mas, como mostram os registros científicos, Marte não é o lugar mais acolhedor que existe - mesmo para a tecnologia mais sofisticada, o que torna todos os detalhes da missão mais complicados.
Mais da metade das missões enviadas ao vizinho mais próximo da Terra falharam. Muitos dos robôs se perderam no caminho, erraram o destino ou acabaram destruídos na chegada.
Estágios
Para a Europa, a missão Schiaparelli é uma chance de aplacar a decepção com outra espaçonave, a Beagle-2, que em 2003 conseguiu pousar com sucesso mas em seguida teve uma pane total.
A expectativa é que a Schiaparelli se saia melhor. Ela usará uma combinação de protetor térmico, paraquedas e um conjunto de foguetes para diminuir a velocidade atmosférica inicial de 21 mil quilômetros por hora para praticamente zero quando chegar próxima à superfície.
Nos últimos dois metros, o robô de 600 kg deve se posicionar para pousar deitado. A sonda da Esa emitirá sinais em ultra-frequência para que o telescópio de uma rádio indiana os capture e envie então aos controladores em Darmstadt, Alemanha.
O pouso deve acontecer às 12:58 do horário de Brasília. Se a rádio indiana conseguir ouvir os sinais da Schiaparelli nesse horário, significa que o robô italiano chegou ao território marciano intacto.
"Todos estão sorrindo, otimistas, mas você também sente a tensão no ar", disse Mark McCaughrean, consultor sênior da Esa.
Alguns pesquisadores, como Colin Wilson, da Universidade de Oxford, estarão revivendo a ansiedade de 2003. Wilson controlava um sensor de vento na Beagle-2 e está voando mais uma vez a Marte com a Schiaparelli.
"É estressante. Eu construí esse instrumento há 14, 15 anos então tem sido uma longa espera. Sabemos que é um jogo arriscado, portanto precisamos nos envolver em várias missões", disse ele à BBC.
Aprendizado
A Schiaparelli deve reunir dados metereológicos enquanto durarem suas baterias, o que deve ser alguns dias.
O ganho com a missão pode ser limitado cientificamente, mas significativo em termos de tecnologia.
Se tudo correr como o esperado, os procedimentos usados para pousar a Schiaparelli na superfície, aliados a alguns elementos-chave de sua tecnologia, serão copiados na missão de colocar um explorador de seis rodas em Marte em 2021.
O robô, movido a energia solar, passará vários meses perfurando a superfície em vários lugares para procurar a presença de microorganismos.
Tanto o pouso de 2016 quando o projeto de 2021 são parte do chamado ExoMars, um programa da Esa feito em parceria com a Rússia.
A agência espacial russa, Roscosmos, lançou a Schiaparelli e sua nave-mãe, a Trace Gas Orbiter (TGO), e também lançará os foguetes da futura expedição. Os cientistas russos também instalaram instrumentos nas espaçonaves.
Nesta quarta-feira, a imprensa e o público estarão de olho na Schiaparelli, mas a verdadeira atenção da Esa será a TGO. Enquanto a sonda estiver tentando pousar na superfície de Marte, o satélite estará tentando estacionar em órbita ao redor do planeta.
A TGO deve passar os próximos anos estudando o comportamento de gases como metano, vapor de água e dióxido de nitrogênio na atmosfera marciana.
Apesar de estarem presentes apenas em quantidades pequenas, esses componentes - especialmente o metano - podem dar informações sobre o estado atual de atividade de Marte. E podem até dar indicações sobre a existência de vida no planeta.