As obras de arte vandalizadas nas invasões em Brasília

Um rico acervo guardado nesses edifícios do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto sofreu diversos tipos de danos.

9 jan 2023 - 18h43
(atualizado em 10/1/2023 às 16h19)
Tela de 1962 é uma das mais importantes já produzidas por Di Cavalcanti
Tela de 1962 é uma das mais importantes já produzidas por Di Cavalcanti
Foto: Planalto / BBC News Brasil

A invasão e depredação de prédios dos três poderes em Brasília no domingo (8/1) causou diversos prejuízos a obras de arte localizadas nos prédios atacados pelos bolsonaristas.

Um rico acervo guardado nesses edifícios do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto sofreu diversos tipos de danos.

Publicidade

Nesta terça-feira (10/1), a Câmara dos Deputados divulgou um levantamento preliminar dos prejuízos na Casa com computadores, impressoras, TVs, entre outros, que ultrapassa os R$ 3 milhões.

O cálculos das perdas com os objetos de arte ainda serão quantificados, mas a Câmara divulgou uma lista atualizada de obras danificadas.

Os responsáveis pelos prédios lamentaram a perda de parte importante desse acervo, que é apontado por eles como um capítulo importante da história nacional.

Os estragos são avaliados pelas autoridades e ainda não se sabe o que poderá ser reparado futuramente.

Publicidade
Vândalos destruíram diversas obras de arte
Foto: Reuters / BBC News Brasil

"O valor do que foi destruído é incalculável pela história que representa. O acervo é uma representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro nesse longo período que se inicia com JK. Esse é o seu valor histórico", disse à BBC o diretor de curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho.

Abaixo, veja uma lista com algumas dessas obras que foram danificadas no domingo:

Tela de Di Cavalcanti

O quadro é a principal peça do Salão Nobre do Planalto e tem um valor estimado em R$ 8 milhões, embora seu valor de venda possa ser cinco vezes maior em leilões, de acordo com o governo.

A obra de 1962 é uma das mais importantes já produzidas pelo pintor carioca Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (1897-1976).

O Planalto informou que foram encontrados sete rasgos de diferentes tamanhos.

Elizabeth Di Cavalcanti, filha do artista, esclareceu ao jornal O Globo que, embora a tela esteja sendo chamada na imprensa e nas redes sociais de As Mulatas, ela não tinha nome, porque seu pai não batizava suas obras.

Publicidade
Pintura foi perfurada em diversos pontos
Foto: Reuters / BBC News Brasil

"Esse quadro também já apareceu muito na mídia com o nome 'Mulheres na varanda'. Mas ele não intitulava as obras, quem fazia isso eram colecionadores e agentes do mercado secundário", disse ela ao jornal.

Ainda segundo Elizabeth, a obra provavelmente foi feita por encomenda da companhia de navegação estatal Lloyd Brasileiro, hoje extinta, para decorar o salão nobre de um dos seus navios turísticos.

"Depois que a Lloyd acabou, essa obra foi parar na sede do governo brasileiro", disse a filha do pintor.

'O Flautista', de Bruno Giorgi

A escultura de bronze do artista paulista Bruno Giorgi (1905-1993) foi "completamente destruída", informou o governo.

A peça, avaliada em R$ 250 mil, ficava no 3º andar do Planalto, onde está localizado o gabinete presidencial.

Giorgi é o autor de outras obras muito conhecidas instaladas em palácios públicos em Brasília, como Meteoro, no Itamaraty, e Os Candangos, na Praça dos Três Poderes.

Publicidade

'Bandeira do Brasil', de Jorge Eduardo

Pintura da bandeira do Brasil esteve entre os alvos dos vândalos no domingo
Foto: Ricardo Stuckert / BBC News Brasil

A pintura de 1995 reproduz a bandeira nacional hasteada diante do Planalto.

O governo federal informou que ela foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o local após os hidrantes instalados ali serem abertos.

A obra vandalizada está entre as registradas nas fotos feitas por Ricardo Stuckert e compartilhadas pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), em sua conta no Twitter.

'Galhos e Sombras', de Frans Krajcberg

Escultura em madeira foi quebrada em diversos pontos
Foto: Planalto / BBC News Brasil

A escultura em madeira ficava instalada na parede do terceiro andar do Planalto.

A obra foi quebrada em diversos pontos, informou o governo, e pedaços dos galhos que a compunham foram atirados para longe.

O valor da peça é estimado em R$ 300 mil, disse o Planalto.

Relógio de Balthazar Martinot

Relógio entregue como presente pela Corte Francesa a Dom João 6º esteve entre os alvos dos ataques
Foto: Secom/Presidência da República / BBC News Brasil

Com um valor "fora de padrão", segundo o Planalto, o relógio de pêndulo do século 17 foi totalmente destruído pelos invasores.

Publicidade

A peça foi dada de presente pela Corte francesa a Dom João 6º. Seu criador, Balthazar Martinot (1636-1714), era o relojoeiro do rei francês Luís 14.

Segundo o Planalto, restam apenas dois relógios feitos por ele no mundo. O segundo está no Palácio de Versalhes, mas tem metade do tamanho do exemplar que foi destruído.

'A Justiça', de Alfredo Ceschiatti

A escultura de 1961 fica diante do palácio do STF foi pichada
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A escultura de 1961 que fica diante do palácio do Supremo Tribunal Federal (STF) foi pichada com a frase "Perdeu, mané".

As palavras foram ditas por um dos ministros da Corte, Luís Roberto Barroso, ao ser questionado por apoiadores de Bolsonaro sobre fraudes na última eleição em viagem a Nova York, nos Estados Unidos em novembro passado.

Peça em granito retrata uma Têmis
Foto: STF / BBC News Brasil

A peça em granito de mais de três metros de altura do artista plástico mineiro Alfredo Ceschiatti (1918-1989) retrata uma Têmis, deusa da justiça, da lei e da ordem, com os olhos vendados, segurando uma espada no colo.

Publicidade

De acordo com o STF, uma perícia técnica está sendo realizada para verificar os danos causados no interior do edifício.

"Depois da perícia, o STF vai iniciar o trabalho de catalogar os estragos e quantificar os prejuízos. Também não há previsão para a conclusão deste trabalho", informou a Corte.

Muro Escultórico, de Athos Bulcão

O "Muro escultórico" está localizado na Câmara dos Deputados
Foto: Câmara dos Deputados / BBC News Brasil

A obra "Muro escultório", do artista plástico e professor Athos Bulcão, passou a fazer parte da decoração do Salão Verde da Câmara dos Deputados na década de 70, após ampliação do Edifício Principal, que teve o projeto de decoração elaborado por Oscar Niemeyer.

O muro escultórico, de Athos Bulcão, que era colaborador de Niemeyer, foi criado especificamente para o local, segundo texto compartilhado na página da Câmara dos Deputados.

Durante o vandalismo de domingo, a obra foi perfurada na base, segundo a assessoria de imprensa da Câmara dos Deputados.

Bailarina, de Victor Brecheret

Escultura em bronze polido está entre os alvos de bolsonaristas
Foto: Câmara dos Deputados / BBC News Brasil

A escultura em bronze polido, dos anos 1920, que retrata uma bailarina também foi alvo de ataques neste domingo na Câmara dos Deputados.

Publicidade

A obra "Bailarina", do escultor italiano Victor Brecheret representava a fase parisiense dele, na qual prevalece a delicadeza das formas e a sutileza com que tratava os temas femininos, diz texto compartilhado no site da Câmara dos Deputados.

Os invasores radicais retiraram a bailarina do pedestal, segundo a assessoria de imprensa da Câmara.

Escultura Maria, Maria, de Sônia Ebling

Escultura Maria, Maria foi marcada a pauladas
Foto: Câmara dos Deputados / BBC News Brasil

A escultura em bronze Maria, Maria, da artista Sônia Ebling também foi alvo dos ataques.

A obra de 1980 está localizada na Câmara dos Deputados e foi marcada com pauladas durante a invasão de domingo.

'The Pearl', autor desconhecido

A peça, presente do presidente da Assembleia Nacional do Sudão, na África, em visita de 2012 foi furtada durante a invasão ao prédio da Câmara dos Deputados.

Vaso, autor desconhecido

Vaso presenteado por uma delegação chinesa foi quebrado
Foto: Câmara dos Deputados / BBC News Brasil

Um presente de uma delegação chinesa que esteve presente na Câmara dos Deputados em 2008 em visita oficial foi quebrado.

Publicidade
BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
TAGS
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações