Com o segundo maior surto de coronavírus do mundo, o Brasil tem algo que parece estar se espalhando mais rápido do que o vírus: os métodos suspeitos, e às vezes bizarros, para tratá-lo.
As sugestões incontáveis de remédios improvisados são transmitidas por WhatsApp, Facebook ou pelo velho boca a boca.
Às vezes, mensagens incentivam o uso de medicamentos convencionais, como o remédio antimalária cloroquina, que o presidente Jair Bolsonaro defende -- apesar dos poucos indícios de sua eficiência contra a Covid-19.
Mas com a mesma frequência os métodos tendem à excentricidade: de feijões com poderes mágicos a aspirina dissolvida em mel quente.
"Tive coronavírus, mas me tratei só com ervas medicinais", disse Beth Cheirosinha, ambulante de cabelo rosa do Mercado Ver-o-Peso, em Belém.
"Peguei algumas folhas de algodão e mastruz. Bati tudo no liquidificador, misturei com mel e bebi meio copo três vezes por dia", acrescentou ela diante de sua barraca, onde vende a mistura. Os negócios vão muito bem, disse.
A desinformação não é novidade nas redes sociais do país, mas profissionais de saúde alertam que ela raramente foi tão perigosa quanto as curas sem comprovação sendo alardeadas durante a pandemia.
Não está claro como estes arremedos de remédios surgem, mas especialistas dizem que o nervosismo generalizado é um ingrediente essencial, especialmente quando políticos emitem mensagens conflitantes ou desdenham os conselhos de profissionais de saúde.
Bolsonaro chegou a classificar o coronavírus como uma "gripezinha", e disse que sua vida de atleta o imunizou dos piores efeitos da doença.
A Covid-19 já matou mais de 45 mil pessoas no Brasil, número só inferior ao dos Estados Unidos, e os casos confirmados se aproximam de 1 milhão.
Sugestões de "curas" incomuns recebidas por repórteres da Reuters por WhatsApp nas últimas semanas incluem o consumo de frutas como abacate e abacaxi.
Outra mensagem sustentou que o novo coronavírus vibra naturalmente na frequência de 5,5 megahertz. Entre as coisas que podem matá-lo está o "amor incondicional" -- que, segundo a mensagem, vibra naturalmente em 205 megahertz.
A Reuters não encontrou nenhum relato de pacientes que ficaram perigosamente doentes devido a curas fantásticas, mas médicos disseram que alguns brasileiros estão ignorando os conselhos médicos sobre distanciamento social e preferindo contar com remédios sem comprovação.