Base do governo está formada, mas tamanho exato só será conhecido em votações

8 mai 2020 - 18h27

O governo articulou sua base no Congresso para se calçar frente a eventuais ameaças em um esforço que contou, inclusive, com a oferta de cargos do segundo escalão a partidos do chamado centrão, mas a real extensão desse apoio só será aferida nas próximas votações polêmicas ou de interesse do governo.

Plenário da Câmara dos Deputados
07/08/2019
REUTERS/Adriano Machado
Plenário da Câmara dos Deputados 07/08/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Para muitos políticos, os próximos dias serão, ainda, de monitoramento. Há uma série de variáveis envolvidas no comportamento desses partidos, incluindo as crises que assolam o país devido à pandemia do novo coronavírus e as turbulências políticas criadas pelo próprio governo, como no episódio mais recente da demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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"Não é possível saber de forma exata qual é o tamanho da base, em termos quantitativos", disse à Reuters o deputado Fábio Trad (PSD-MS).

"As próximas votações, aquelas mais polêmicas, de interesse do governo, é que vão dar essa noção para nós", acrescentou, citando ainda que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, afirmou que a sigla não integra o centrão.

Trad lembra, assim como outras três fontes ouvidas pela Reuters, que o engajamento de partidos cortejados pelo governo não foi total. Muitos deputados dentro de siglas como o PP e o PL, por exemplo, preferiram não se colar à imagem do governo e se abstiveram da indicação de cargos para o segundo escalão.

Daí a necessidade de se aguardar uma próxima votação de peso para entender os resultados da recente investida do presidente Jair Bolsonaro junto ao grupo político.

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Umas dessas votações poderia ser a do possível veto do presidente ao dispositivo do projeto de auxílio a Estados e municípios que trata das categorias de servidores públicos que não sofrerão congelamento de salário, avalia Trad.

A pauta do Congresso, no entanto, tem se centrado nas matérias de combate à crise do coronavírus que tenham consenso, o que traz dúvidas quanto à vontade política de pautar o veto.

O clima, por ora, é de maturação, e não há definição sobre uma data para análise da eventual negativa presidencial. Caso haja o veto e ele seja mantido, isso dará uma noção do comportamento da base após a confirmação de nomeações.

Na quarta-feira desta semana, por exemplo, foi publicada a nomeação do novo diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) com um nome indicado pelo centrão, segundo as fontes ouvidas pela Reuters.

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As próximas ofertas do governo nesse movimento de articulação da base devem abarcar a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, os comandos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), além da presidência do Banco do Nordeste.

Para o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), assim como para vários outros parlamentares, no presidencialismo de coalizão não só é legítimo buscar uma base de sustentação no Congresso, como também necessário para sair da crise que o país enfrenta.

"Ele precisa de uma base, pelo menos que seja mínima, para passar as medidas necessárias nesta crise", ponderou.

    "O presidente não falava com o centrão e se perdeu o diálogo político que Brasil precisa. Agora ele viu essa necessidade."  

Na mesma linha, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), defendeu em entrevista a emissoras de rádio de seu Estado que Executivo e Legislativo se articulem para consturir uma agenda comum.

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"O governo iniciou um processo de diálogo com as forças políticas que compõem o Congresso Nacional. Fez isso porque está convencido de que o segundo desdobramento mais grave da pandemia vai ser a crise econômica e social, fruto do desemprego e da retração das atividades produtivas. Para isso, vai ser preciso adotar medidas amargas e duras para reanimar a economia brasileira", disse o líder.

SEM GARANTIA ABSOLUTA

Se de um lado, o governo partiu para a prática do que Bolsonaro muitas vezes chamou de velha política, políticos do centrão, de outro lado, garantem, com o movimento, seus nichos dentro da administração pública de olho nas eleições municipais.

Outro ponto focal diz respeito à disputa pela presidência da Câmara, que abriu os flancos no grupo que até poucas semanas atrás rodeava o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O governo agiu, na avaliação de parlamentares críticos ao movimento, por "desespero" e "instinto de sobrevivência". Além de questões enfrentadas no Judiciário, Bolsonaro pode se ver em situações de risco no Parlamento.

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"O presidente está muito fragilizado com os acontecimentos e pela crise sanitária, econômica e social a que Brasil está acometido", avaliou o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).

"O movimento dele na direção do centrão é uma vacina, não só para a situação atual, mas para o que vem pela frente."

O partido de Ramos é um dos cortejados pelo presidente. O deputado em si, no entanto, teria recusado oferta de indicar cargos, segundo relatos de uma outra fonte.

A Mesa da Câmara já computa ao menos 30 pedidos de impeachment conta o presidente da República, que também é ameaçado por atividades legislativas como Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).

Essa é a ideia, avalia uma fonte, de Maia, alvo rotineiro de Bolsonaro e do grupo de apoiadores do presidente: deixar Bolsonaro sangrar. Não é o momento de movimentos bruscos como dar andamento a um requerimento de impeachment --até porque seriam necessários os votos do centrão nas votações seguintes à aceitação do pedido por parte do presidente da Câmara.

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Maia também precisa levar em conta, alertam duas fontes, que há integrantes de seu círculo de apoio fazendo jogo duplo.

Isso não quer dizer, no entanto, que os que se engajaram no governo estarão fechados com Bolsonaro em qualquer situação, avaliam fontes parlamentares.

O deputado Fábio Trad lembra que há pelos três crises em curso com forte capacidade de influência na opinião pública, e portanto, no posicionamento do centrão.

Uma delas diz respeito aos impactos sociais e na área de saúde por conta do novo coronavírus, a segunda diz respeito aos efeitos econômicos da doença, e há ainda a crise política, no momento centrada no embate entre Moro e Bolsonaro, já na esfera judicial, sobre possível interferência do presidente na Polícia Federal.

Acrescenta-se a isso o vai e vem na Justiça sobre a divulgação ou não dos testes de Covid-19 realizados por Bolsonaro.

"Temos que ver quais os desdobramentos dessas três crises para também monitorar o comportamento do centrão... Podem surgir matérias polêmicas e aí vai depender muito da nossa atenção, da nossa sensibilidade, para metrificar o grau de adesão do centrão."

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