Bebianno diz que foi demitido por Carlos Bolsonaro

19 fev 2019 - 21h21
(atualizado às 22h06)

Gustavo Bebianno disse nesta terça-feira que o responsável por sua demissão do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência foi Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.

Presidente Jair Bolsonaro e ex-ministro Gustavo Bebianno
02/01/2019
REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro e ex-ministro Gustavo Bebianno 02/01/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"Acredito que o Carlos tenha inflamado a cabeça do presidente", disse Bebianno em entrevista à rádio Jovem Pan, referindo-se ao período em que Bolsonaro esteve hospitalizado devido à cirurgia para a remoção de uma bolsa de colostomia.

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"Eu fui demitido pelo Carlos Bolsonaro", afirmou o agora ex-ministro.

Bebianno disse reconhecer que Carlos, vereador pelo PSL no Rio de Janeiro, tem "uma admiração bonita pelo pai". Por outro lado, criticou o filho do presidente, afirmando que "Carlos tem um nível de agressividade acima do normal".

O ex-ministro negou, no entanto, que seja um homem-bomba, alguém que poderia causar estragos ao presidente.

"Tem muita gente dizendo que eu sou homem-bomba. Tenho caráter, não vou atacar o presidente."

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Mas o vice-presidente Hamilton Mourão disse que houve quebra de confiança, atribuindo ao ex-ministro a divulgação de áudios postados em trocas de mensagem pelo WhatsApp e divulgados nesta terça-feira.

"Não resta dúvida que o ex-ministro Gustavo Bebianno ao divulgar uma conversa privada dele com o presidente, ele está faltando com a lealdade", disse Mourão a jornalistas.

"Se eu vou conversar particularmente com uma pessoa que é da minha confiança em tese, eu posso falar o que eu quero. Aí se a outra pessoa divulga isso, isso aí é muito ruim", disse.

O vice-presidente, no entanto, não quis comentar as declarações de Bebianno relacionadas ao filho do presidente.

"Não vou entrar em comentários a respeito do Carlos. Carlos é filho e filho é filho, né? Então tem que aguardar, esse episódio aí todo, agora que o Bebianno resolveu divulgar essa questão dos áudios mostra porque o presidente não queria mais ele no governo", disse Mourão.

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ÁUDIOS

Os áudios divulgados pelo site da revista Veja na tarde desta terça mostram que Bebianno trocou mensagens via WhatsApp com Bolsonaro, contrariando as declarações do presidente e de Carlos, de que Bebianno tinha mentido ao dizer que se falaram.

Na troca de mensagens revelada pela revista, Bebianno disse considerar isso como se fosse uma conversa. Bolsonaro, por sua vez, rebateu e disse que esse envio de áudios por aplicativos não configuraria uma conversa, defendeu a atuação do filho e contestou atitudes tomadas por Bebianno no governo.

As mensagens revelam a evolução por dentro da crise entre o presidente e Bebianno, que teve como ponto de partida o fato de Carlos e o próprio Bolsonaro terem chamado o agora ex-ministro de mentiroso ao dizer que tinha conversado com o presidente três vezes em 12 de fevereiro, véspera do dia em que o chefe do Executivo teve alta hospitalar.

Segundo a Veja, o presidente questionou num dos áudios, o fato de constar na agenda de Bebianno do dia 12 uma reunião com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo. Na gravação, Bolsonaro pede que ele não receba o executivo, pois a Globo é inimiga do governo e que esse contato o colocaria em situação delicada com outras emissoras.

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Em outros dois áudios, Bolsonaro pede para cancelar a agenda que Bebianno e outros dois ministros fariam ao Pará para discutir projetos para a Amazônia com líderes locais, argumentando que seria cobrado por obras na região amazônica.

Outros áudios mostram que a relação entre ambos degringolou. O presidente chega a acusar Bebianno de plantar notícia em um site para envolvê-lo nas supostas irregularidades relacionadas a candidaturas do PSL. Bebianno foi presidente do PSL durante a campanha vitoriosa de Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

Protagonista do episódio, Bebianno é alvo de denúncias de uso de candidaturas-laranjas em Estados para desvio de recursos eleitorais enquanto presidia o PSL, o que ele nega.

Em uma mensagem, Bolsonaro chega a dizer que "querer empurrar essa batata quente" para ele não iria dar certo. "Aí é desonestidade e falta de caráter", atacou, completando que a Polícia Federal "entrou no circuito" para apurar o caso.

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Posteriormente, Bebianno se defende e diz que não vazou ou plantou nada do que foi publicado na imprensa contra o governo e o presidente. Diz que o presidente está "bem envenenado", deixando implicitamente que o envenenador seria Carlos.

Na segunda-feira, Bolsonaro demitiu Bebianno, sem dar detalhes da sua decisão, numa tentativa do governo de estancar a crise às vésperas do envio da principal proposta de ajuste das contas públicas do governo: a reforma da Previdência, que chegará ao Congresso na quarta-feira.

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